Capítulo 596 - A Fonte do Ódio
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Enquanto ainda digeriam as informações e forçavam expressões de idolatria a Odin, como qualquer deus faria, Zao Tian, Gins e Ming Xiao levantaram as mãos para o céu parecendo louvar o Pai de Todos.
Prometheus aprovou o gesto dos três e fez o mesmo, erguendo o seus gigantescos braços que obscureceram o sol.
“Por que ninguém nunca nos disse isso…?” Após um momento estranho para o três, mas normal para Prometheus, Ming Xiao olhou para o nada e fez aquele questionamento sem se dirigir ao deus gigante. Ele fez aquilo parecer um pensamento que acabou saindo em voz alta.
Prometheus olhou para baixo com pena dos três. Em dias normais, ele não se daria ao trabalho de explicar isso para deuses inferiores, mas devido ao contexto geral que levou àquele momento, a forma envolvente e natural com que a conversa chegou àquele ponto, o ego do deus gigante e ótima atuação que MIng Xiao, Zao Tian e Gins estavam tendo, a maior boca que todos já viram começou a falar mais. E aquela foi uma analogia engraçada, porque até então, a maior boca do universo era a que menos era usada e a que mais guardava segredos.
“Porque vocês nunca foram planejados pelo universo! Pelo menos não até aquele momento!” Prometheus lançou duas frases muito duras de forma fria e direta.
“Como assim, mestre?” Aquela pergunta saiu automaticamente da boca do Gins.
“Nós… Eu e os meus irmãos diretos, nascemos para pavimentar o caminho, estender o tapete vermelho e preparar tudo para a chegada do Pai de Todos!” Prometheus foi frio mais uma vez, demonstrando não ter nenhuma consideração de parentesco com os deuses abaixo da primeira classe. Para ele, deuses Protetores e semideuses eram, no máximo, primos distantes. Isso ficou claro na forma que usou para se expressar.
“Cada um de nós teve uma função para exercer antes que o Pai de Todos desse o ar da sua Graça! Nós tínhamos que organizar tudo para que ele chegasse em uma realidade decente que estivesse pelo menos um pouco à altura do maior de todos!” Prometheus afirmou aquilo, antes de confessar: “No começo, quando ainda não víamos sentido na nossa existência, nós não entendíamos porquê estávamos fazendo tudo aquilo e porque novos deuses nasciam com novos dons, mas assim que o Pai de Todos surgiu, tudo fez sentido!”
“E quando Pai de Todos chegou para reinar sobre tudo, todas as desavenças e disputas de poder entre nós cessaram, porque cada deus tinha a compreensão de que ninguém além do Pai estava à altura de sentar no trono divino!” Prometheus deu mais um detalhe sobre o fim das disputas de posição entre os Grandes Deuses.
O nascimento de Odin cessou as lutas, colocou um fim em muitas ambições e forçou, unidos sob um comando incontestável, os Grandes Deuses a trabalharem em prol de um único objetivo, uma única visão, que era a visão de Odin.
Prometheus: “Ninguém resiste às ordens do Pai de Todos, mas eu duvido que mesmo se algum de nós tivesse essa opção, ele não obedeceria…”
“Tudo estava indo bem… Mas a organização de um universo inteiro gerou um grande problema… Que foi manter tudo em ordem.”
“Naquele tempo, nós éramos poucos comparado às fronteiras sem fim da existência. Nós tínhamos um alcance muito grande, mas pouco controle… Heimdall chegava a ser irritante com os seus intermináveis avisos de coisas que saíam da normalidade e dos planos que foram colocados em prática!”
“Havia muito trabalho para pouca mão de obra. Heimdall enxergava tudo, o tempo todo, mas não havia mãos o suficiente para acompanhar a onisciência do meu irmão!”
“E foi aí que vocês nasceram…” Quando terminou de relatar um pouco sobre o período que antecedeu a chegada do outros deuses, Prometheus olhou para o três abaixo dele e comentou, antes de continuar: “O universo aprovou a nossa missão! A Grande Mãe concordou conosco, porque no momento em que mais estávamos atolados de trabalho, muitas sementes brotaram pelo corpo divino da Grande Mãe… E delas, começaram a sair vocês!”
“Deuses menores… Os operários e servos que precisávamos para garantir a ordem foram dados a nós! Vocês nasceram da necessidade de mão de obra! Vocês existem para trabalhar para nós, os Grandes Deuses!” Prometheus foi muito arrogante naquelas últimas palavras. Fosse no tom de voz ou na convicção plena de que ele estava certo, ele inferiorizou bastante cada deus que não estava entre a elite divina.
Prometheus e todos os Grandes Deuses tratavam os deuses Protetores e semideuses da forma que tratavam porque, para eles, essas duas classes de deuses só vieram ao mundo para servir. Eles eram números, braços que executavam os planos dos Grandes Deuses a as suas vontades.
Mesmo não sendo deuses, Zao Tian, Gins e Ming Xiao sentiram vergonha naquele momento. A forma que Prometheus se referiu a eles foi humilhante. Zao Tian, por exemplo, se lembrou de quando era tratado como um escravo na Província Dourada e aqueles que se julgavam donos dele e dos outros na mesma situação que ele entendiam que eles não tinham o direito à vontade própria, que eles nasceram para servir e obedecer, apenas isso.
Uma forma de pensamento revoltante como aquela tocou fundo no coração de Zao Tian, que não teve nenhuma compaixão ou empatia com os deuses, mas começou a entender de onde vinha tudo de ruim que os deuses em geral faziam.
Em uma linha de produção onde uma ferramenta alimenta a outra, a arrogância e o menosprezo mútuo entre os deuses foi transmitido de cima para baixo por toda a existência, culminando em um ciclo sem fim de criação de tiranos, de monstros.
Odin era a única existência acima de tudo, o único que estava livre de receber ordens, enquanto tudo abaixo dele era uma briga infinita para ver quem mandava mais, quem tinha mais servos e quem fazia mais coisas para agradar o Pai.
Os Grandes Deuses tratavam os deuses Protetores como lixo; O Deuses Protetores descarregavam a frustração e o ódio que eles sentiam em dobro nos Semideuses; Os Semideuses triplicavam toda essa carga negativa e despejaram tudo sobre a criação e principalmente os escolhidos entre as espécies para servir a eles; Esses escolhidos eram dez vez mais cruéis, gananciosos e tóxicos do que os Semideuses e não tinham uma coisa que os divinos tinham… A imortalidade. Sendo assim, eles faziam muitas maldades em um curto período de tempo, afetando, assim, somados, as vidas de incontáveis criaturas.
As criaturas repetiam de forma microscópica, em comparação com os anteriores, o que era feito com elas, e isso gerou os efeitos que ainda são refletidos no tempo atual.
A falta de uma hierarquia e uma organização é uma receita para a desordem, sim, mas o abuso de poder é um ingrediente tóxico que contamina o produto final de algo que deveria ser bom, mas não ficou.
Zao Tian não sabia exatamente como funcionavam as coisas antes dos deuses surgirem, mas ele tinha uma impressão que beirava a convicção de que mesmo durante a suposta desordem da criação tudo era mais puro do que é hoje. No tempo que passou na Singularidade, no mundo primitivo, Zao Tian viu que a vida agia por instinto e tinha uma hierarquia natural, uma cadeia alimentar inevitável, mas não viu e nem sentiu que havia prazer por parte da vida antiga em ser maior do que os seus semelhantes ou as outras formas de vida.
Quem destruiu tudo, sob o pretexto de colocar ordem nas coisas, foram os deuses. Talvez, mesmo sendo impossível ter uma resposta certeira para esse assunto, a forma de governo monárquica que quase todas as espécies reproduzem nem existe ou fosse muito diferente se os deuses nunca tivessem surgido.
A vida, por si mesma, iria buscar uma forma de equilíbrio. Contudo, a intervenção dos deuses criou um modelo transcendental de fomentar o ódio, o abuso, a ganância e o egocentrismo, refletindo em toda atual e futura os defeitos que pertenciam a eles.
De novo, vale salientar que Zao Tian não sentia nenhuma empatia por nenhum deus e o que ele mais queria é que todos eles fossem colocados em um triturador e moídos juntos, mas agora ele tinha entendido porquê as coisas eram como eram e como tudo começou.
O ódio nasceu dos deuses! E todos os Grandes Deuses se orgulham dos seus dons, mas nenhum deles enxerga que acima de cada um desses dons existe uma maldição que eles lançaram sobre tudo no momento em que eles nasceram!