Capítulo 713 - O Grande Mentiroso

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Tenham uma boa leitura!]

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A região da reunião divina vibrava com a tensão de vozes elevadas e egos inflados. 

Loki, além de ter sido encarregado de investigar o paradeiro de Heimdall e descobrir o que aconteceu com Geb, tinha levantado outra questão polêmica que não ajudava em nada na diminuição do clima pesado que tinha se instaurado entre os deuses.

Ter todos aqueles deuses juntos em um mesmo local era como cutucar um vespeiro. De uma hora para a outra, as vozes se elevavam tanto que se transformaram em zumbidos e os ânimos se exaltavam a ponto de pequenas brigas começarem a eclodir.

Os deuses lavavam a roupa suja entre eles, não importava o motivo, ou, no neste caso, o pretexto.

Afrodite, com um sorriso cético, provocou em resposta: "Loki, sempre o teatral. Zeus sempre foi um eremita entre nós, talvez envergonhado por sua atribuição estar limitada a um mero planeta, enquanto governamos sobre sistemas inteiros. Sua teoria é pura conjectura, sem substância alguma."

Loki, com seu típico sorriso astuto, ergueu-se, lançando um olhar desafiador para Afrodite, e disse: "Estamos aqui, perdendo tempo com trivialidades, enquanto Decarius pode estar se preparando para uma revolta! Zeus, nosso irmão, que deveria estar aqui defendendo suas ações ou, ao menos, reportando-se sobre seu domínio, está ausente mais uma vez. Isso não é apenas estranho… É alarmante!"

A provocação de Loki não foi recebida com simpatia. E Osíris interveio: "Loki, sua tendência para a dramatização é bem conhecida, mas precisamos de mais do que teorias conspiratórias para mobilizar uma inspeção no domínio de Zeus. Você sabe quão territorial ele é. Uma intrusão em Decarius sem a sua permissão pode ser vista como um ato de guerra."

Loki balançou a cabeça, frustrado, mas persistente, enquanto respondia: "Entendo os riscos, Osíris. No entanto, o silêncio de Zeus é uma bandeira vermelha que não podemos ignorar. Os humanos em Decarius estão vagando muito além dos limites impostos, algo que ele impediria com sua vida. Se eles estão se movendo livremente e sem a sua intervenção, isso sugere que Zeus pode não estar em posição de exercer seu poder ou ter virado as costas para nós."

Belenus, com uma face que parecia cintilar entre muitas expressões por segundo, concordou, dizendo: "Se Loki está certo, e por menor que seja, há uma chance de que ele esteja, não podemos simplesmente sentar e esperar. Decarius não é apenas uma questão de domínio de Zeus… É um potencial campo de batalha que poderia ameaçar a estabilidade do nosso controle sobre a criação."

Freya, com uma expressão pensativa, acrescentou: "Realmente, o que Loki propõe não é sem mérito. A história nos mostrou que o descuido pode levar à catástrofe. Não devemos esquecer o que aconteceu com Gold, aquele que até hoje escutamos falar em nossos domínios quando é citado algum conto sobre o Grande Arcanjo. Um humano quase nos exterminou. E se os humanos de Decarius estão se armando, devemos saber e estar preparados para isso."

A menção de Gold silenciou a câmara por um momento. A memória daquela catástrofe ainda ardia na mente de cada deus. Apesar de não terem vivido aquelas experiências de lutar contra ele, a simples menção de seu nome causava arrepios em todo panteão. 

Loki aproveitou o silêncio para fortalecer seu argumento: "Veem? O perigo não é apenas possível, é provável. Preciso da permissão de vocês para verificar Decarius pessoalmente. Se Zeus está incapacitado ou pior, precisamos saber. Além disso, precisamos entender por que os humanos têm acesso ao tesouro de Zeus."

Loki, no fim do seu argumento, lançou uma mentira para esconder que era do tesouro dele que os humanos estavam em posse, e não o de Zeus.

“Eles estão com o tesouro de Zeus? Como assim?” Hércules se levantou preocupado com a afirmação de Loki.

“Sim!” Loki respondeu, prendendo os seus irmãos em sua teia, logo antes de explicar: “Eu vi três humanos muito longe de Decarius que estavam de posse da  nfora do Destino!” 

“Isso é muito sério, Loki… Por que você não os capturou?” Ares, furioso com o fato de Loki não estar com os humanos sob a sua custódia, esbravejou.

Loki, com a sua facilidade natural de mentir e fazer todos acreditarem nas suas palavras, respondeu de forma muito humilde: “Eu tentei capturá-los, Ares, mas os humanos que eu encontrei eram muito astutos, possuíam muitos recursos de fuga, e sabiam usar a  nfora do Destino…” Quando terminou de dizer aquela parte, Loki fez uma expressão dramática como quem quase foi pego de surpresa, e só após isso, ele completou, dessa vez, num tom bem mais teatral: “Todos nós sabemos o perigos que aquele tesouro representa… Se eu não tivesse percebido a tempo e recuado antes deles ativarem, eu estaria em grandes apuros agora.” 

Anúbis, cujo ceticismo era tão penetrante quanto sua sabedoria, questionou: “E você conseguiu escapar de um ataque deles, mas não conseguiu se recompor para pegá-los de outra forma!?”

Loki, por sua vez, sacudiu a cabeça em negação e vergonha, antes de dizer: “Eu disse, Anúbis, eles têm muitos recursos à disposição. Quando eu esquivei, eles fugiram por um portal que foi selado logo após eles entrarem, então, até agora, eu continuo procurando por eles.”

Naquela explicação, Loki usou meias verdades, pois apesar da Trindade não estar em posse da  nfora do Destino, eles realmente usaram aquele portal para escapar dele da última vez.

“A  nfora do Destino foi criada para ser ativada exclusivamente através dos poderes e do dom de Zeus. Não tem como um humano usá-la sem que Zeus os dê os meios para isso!” Hefesto, o criador daquele tesouro, mesmo que em uma vida passada, afirmou categoricamente, levantando ainda mais suspeitas sobre Zeus e a história de Loki, porém, àquela altura, depois de ter o nome Gold mencionado na reunião, as suspeitas sobre Zeus eram tão grandes que ofuscaram os melindres de comportamento típicos de Loki.

Hades, por sua vez, olhava para Loki com uma expressão fria, como se não acreditasse em nenhuma palavra do que ele dizia, porém, ele não ergueu a sua voz para se opor ao plano ou refutar a história de Loki. Ele apenas continuou ali, encarando o seu irmão como se ele soubesse que a história de Loki não era verdadeira.

Apesar de ter um dom muito poderoso, Loki não conseguia usá-lo contra os seus irmãos. Algumas condições eram necessárias para que o dom da mentira de Loki tivesse influência sobre as coisas, e nenhum Grande Deus atendia a essas condições. O que estava acontecendo ali era pura e simplesmente uma grande atuação do deus da mentira, que não parecia depender apenas de seu dom para ser conhecido como o senhor das trapaças.

Loki percebeu o olhar de Hades, mas ele fingiu ignorância, enquanto continuava vendendo a sua história para os deuses.

Naquele momento, Loki estava sendo movido não apenas pela sua preocupação com os humanos e pela sua vontade de recuperar o seu tesouro. Ele estava muito curioso para saber o que estava acontecendo em Decarius para que Zeus, algo extremamente territorial e controlador, estivesse alheio àqueles três humanos que ele viu com o seu tesouro.

Enquanto isso, Athena, pensativa em um canto, sugeriu: "E se isso for uma armadilha? E se Loki for, e isso incitar um conflito, estaríamos prontos para uma guerra em múltiplas frentes? Nós estamos falando de uma possível revolta dos humanos, mas temos que considerar que Zeus está tramando algo, também."

Hércules interveio com a sua postura destemida e respondeu à sua irmã: "É um risco calculado. Se não agirmos e Loki estiver certo, as consequências poderiam ser ainda mais desastrosas. Eu não temo Zeus, muito menos os humanos, então, se eles pensam que podem contra nós, deixemos que eles saibam que isso nunca foi uma possibilidade."

Freya, com uma expressão pensativa e os olhos fixos em Loki, sugeriu uma abordagem mais cautelosa. "Precisamos ser estratégicos. Não devemos mesmo esquecer o que aconteceu com Gold. Se os humanos de Decarius estão se armando, como Loki sugere, então é imperativo que saibamos o quanto antes para estar preparados ou para suprimir qualquer tentativa de rebelião que esteja nascendo naquele maldito planeta."

A sala mergulhou em um silêncio tenso, de novo. As memórias da rebelião de Gold eram uma ferida ainda fresca no orgulho dos deuses, lembrando-os da fragilidade de seu domínio sobre os seres que eles consideravam menores.

"A história não deve se repetir." Loki aproveitou o silêncio para enfatizar a urgência da situação, logo antes de alertar: "A permissão para verificar Decarius pessoalmente é essencial. Se Zeus está incapacitado, como tememos, precisamos entender a extensão do poder dos humanos e quais ameaças podem surgir de sua liberdade descontrolada. E com uma carta de permissão de um bom número de nós, eu terei meios para argumentar com Zeus e explicar os motivos de ter violado os seus domínios, caso ele esteja vivo e bem, e seja completamente inocente."

Hércules, cuja presença sempre impunha respeito, assentiu, demonstrando apoio a Loki: "Estou de acordo. A incerteza sobre o status de Zeus é uma ameaça direta à estabilidade que buscamos manter. Se Loki está disposto a liderar esta investigação, ele tem o meu apoio. Vamos descobrir a verdade."

Athena, por sua vez, levantou outra preocupação: "Devemos considerar a possibilidade de que Zeus esteja, de alguma forma, envolvido em uma trama maior. Não é apenas sobre verificar se ele está incapaz, é sobre entender suas ações ou inações. Se ele concedeu aos humanos acesso a tal poder, precisamos entender suas motivações, bem como as situações de Heimdall e Geb. Eu não acredito que tantas coincidências podem estar totalmente desconectadas umas das outras."

"Como Zeus poderia trair nossa confiança dessa maneira?" Hefesto questionou com o rosto marcado pela perplexidade e decepção: "Se isso for verdade, ele não apenas colocou Decarius em risco, mas todo o equilíbrio que nos esforçamos tanto para manter."

Loki, percebendo a crescente preocupação entre seus irmãos e o apoio que obteve, propôs um curso de ação: "Darei prioridade à busca por Heimdall e à investigação em Decarius. Se Zeus colaborou com os humanos ou falhou em seus deveres, descobrirei."

Hades, que até então mantivera uma postura observadora, finalmente falou: "Loki, tua jornada não deve ser solitária. Precisas de um contingente que possa apoiar-te tanto em força quanto em sabedoria. Afinal, se algo der errado, precisarás de mais do que truques para escapar."

Loki assentiu, fingindo reconhecer a sabedoria nas palavras de Hades: "Eu aceito essa condição. Formaremos um grupo pequeno, mas eficaz, para garantir que possamos agir rapidamente e com discrição."

Hades, com sua postura sombria, anunciou: "Eu acompanharei Loki. Se houver batalha a ser travada, estarei lá para garantir nossa vitória!"

Loki, desconfiado, olhou para Hades com preocupação, mas nada fez para impedi-lo ou para se opor à sua companhia.

Os deuses, um a um, concordaram com o plano, apesar das reservas de alguns. A decisão estava tomada. Loki lideraria uma missão a Decarius para desvendar os mistérios que cercavam Zeus e a suposta insurgência dos humanos.

O clima na reunião ainda era tenso, mas agora havia um propósito comum que unia os deuses, pelo menos temporariamente. A possibilidade de traição entre eles e o potencial de uma nova rebelião de proporções cataclísmicas mantinha todos à beira de seus tronos.

Enquanto os deuses se dispersavam, Loki sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele não apenas investigaria o destino de um irmão supostamente desaparecido e a potencial rebelião dos humanos, mas também enfrentaria as dúvidas sobre sua própria integridade e as verdadeiras intenções de Zeus. Ele sabia que os dias vindouros exigiriam toda sua astúcia e força.

À medida que a reunião se desfez, os corredores do Olimpo ressoavam com os passos dos deuses, cada um perdido em pensamentos sobre as revelações e as acusações que tinham dominado a discussão. A incerteza sobre o futuro pairava sobre todos, tão densa e opressiva quanto a nebulosa que abrigava seu encontro. A guerra, uma vez um mero sussurro nas sombras, agora parecia uma possibilidade terrível e iminente.