Capítulo 823 - Corações Acelerados

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Tenham uma boa leitura!]

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Enquanto a noite caía sobre Uhr'Gal, Shara’Kala decidiu agir conforme o combinado com os humanos. Cruz estava prestes a enfrentar um julgamento onde a condenação parecia inevitável, mas ela ainda tinha dúvidas sobre a verdadeira natureza do prisioneiro e o que o havia levado à sua cela. Precisando esclarecer essas questões e dar a ele uma oportunidade justa, ela foi até sua jaula em um momento em que a vigilância orc estava mais fraca.

Ao se aproximar da jaula de Cruz, Shara'Kala lançou um olhar ao redor, certificando-se de que nenhum orc suspeito estivesse por perto. Cruz, deitado em um canto da jaula, com as costas sangrando, notou sua chegada e se sentou lentamente, curioso com a visita inesperada. 

Olhar para Cruz naquela situação causou um desconforto na Khan, e quando Shara’Kala finalmente falou, sua voz soou mais suave do que o habitual, como se carregasse um peso que ela mesma não compreendia completamente.

“Cruz…” Ela começou, mantendo um tom controlado: “Eu conversei com seus amigos humanos. Eles me pediram que lhe desse uma chance de provar sua inocência, e eu decidi dar uma pequena oportunidade para que você se explique.”

Cruz assentiu, com seus olhos carregando um misto de alívio e esperança.

“Eu agradeço, Shara’Kala…” Ele respondeu calmamente, antes de sorrir e completar: “Estou disposto a falar tudo o que você quiser saber. Eu não tenho nada a esconder, porque eu não fiz isso.”

A Khan sentiu uma sinceridade que a incomodava e causava alívio nas palavras de Cruz, fazendo-a relaxar um pouco. Ela, então, decidiu começar pelos assuntos mais gerais, mas que a ajudariam a entender melhor o prisioneiro: “Seus amigos falam muito bem de você, mesmo que suas ações nem sempre correspondam a essas palavras. Fale-me mais sobre sua personalidade... Como alguém pode confiar em alguém tão volátil?”

Cruz riu sem humor, pensando em como sua vida sempre fora uma sequência de momentos impulsivos. Aquilo era o todo de sua personalidade, e ele não sentia vergonha de escutar as vozes que lhe faziam companhia e o ajudavam mais do que atrapalhavam.

Cruz: “É difícil de explicar… Eu sei que sou uma bagunça às vezes, mas, quando é necessário, eu sei me concentrar e tenho vozes, como a do Nate, que afastam as outras e me mantém no controle. 

“Eu sou diferente, mas acredito que sei julgar as pessoas, e quando eu acredito em alguém ou em alguma coisa, eu vou até o fim por isso. Se há uma coisa que sempre mantive em minha vida, é a lealdade!”

Shara’Kala absorveu aquelas palavras, ainda incerta sobre o que pensar. Havia algo intrigante naquele homem que a fazia querer acreditar nele, mas ela também temia que ele fosse um manipulador habilidoso. E ela sabia que precisava testar alguns limites para obter respostas.

“Seus amigos também mencionaram uma mulher, Catarina…” Ela comentou, hesitante, tentando esconder um leve constrangimento que começava a surgir em sua pele que ficava levemente avermelhada: “Diga-me, quem é ela? Como vocês se conheceram? Por que ela é relevante aqui?”

Ao ouvir o nome de Catarina, Cruz fechou os olhos por um momento, sentindo o peso de um assunto doloroso que ele preferia evitar, ainda mais com a Khan. Contudo, ele sabia que a honestidade era sua única chance, então, ele respondeu: “Ela... Catarina era alguém que eu achei que realmente se importava comigo. Nos conhecemos numa festa, e eu fui me envolvendo com ela aos poucos. Ela tinha um jeito encantador, gostos que combinavam com os meus e um perfume que me deixava completamente perdido… Mas... Acabou que tudo era uma mentira. Ela era casada e me enganou o tempo todo. Eu só descobri isso quando fui pedi-la em noivado, um pouco antes de ser trazido aqui.”

Shara’Kala sentiu algo se contorcer dentro dela quando escutou Cruz falar sobre Catarina. Ela não estava acostumada a se importar com as questões amorosas dos outros, especialmente dos humanos, mas ao ouvir sobre a traição que Cruz enfrentara, algo se mexeu em seu peito.

“E você nunca suspeitou de nada?” Ela perguntou, tentando manter sua voz neutra.

Cruz balançou a cabeça, com um sorriso amargo nos lábios, e respondeu: “Ela era boa demais em esconder as coisas. Sempre me tratou bem, nunca pediu nada estranho... Parece eu sou um tolo, não é? Nunca percebi as mentiras, e quando finalmente descobri, já era tarde demais. Eu já estava envolvido e isso me levou a um profundo desgosto e autodepreciação.”

Quando Cruz terminou de falar aquilo e revelar o seu lado deprimido por causa de tudo o que aconteceu, Shara’Kala cerrou os punhos inconscientemente e uma onda de fúria subiu por seu corpo. A ideia de que Cruz tinha sido enganado de forma tão cruel a enfurecia de um jeito que ela não compreendia totalmente. E em um momento de deslize na sua postura insensível, ele comentou com uma irritação evidente em sua voz: “Como uma mulher ousa enganar assim um homem que apenas a queria como sua parceira?” 

Cruz percebeu o tom de indignação na voz de Shara’Kala e, por um momento, ficou surpreso e feliz. Ele não esperava que ela reagisse de forma tão pessoal a algo que aconteceu com ele. Naquele momento, um pequeno sorriso apareceu em seus lábios enquanto ele inevitavelmente dizia: “Você ficou irritada, Shara’Kala?! Parece que está se importando mais do que eu esperava… Eu gostei disso!”

Shara’Kala imediatamente percebeu seu próprio comportamento e se recompôs, com sua expressão endurecendo rápida e forçadamente enquanto ele respondia: “Não se engane, Cruz. Eu estou interessada apenas na verdade. E se essa Catarina for uma peça nesse jogo, eu preciso colocar as mãos nela para entender qual é o papel dela nisso tudo.”

Cruz riu de leve, algo raro dado o momento, apreciando a preocupação velada e as contradições da Khan que tentava manter uma postura fria,mas não conseguia encarnar o personagem por muito tempo. 

“Desculpe, não quis insinuar nada. Mas é bom saber que alguém aqui acredita que eu possa estar sendo sincero.” Cruz, dessa vez, não provocou a Khan, respeitando a luta interna dela.

Shara’Kala manteve seu olhar firme, mas não pôde evitar que uma pequena cor surgisse em suas bochechas. 

“Você ainda tem muito a provar, Cruz…” Ela disse, tentando retomar seu tom autoritário: “Seus amigos acreditam em você, e estão arriscando muito para lhe dar essa chance. Não os faça parecer tolos.”

“Eu não faria isso!” Cruz respondeu de forma firme, com sua voz cheia de uma sinceridade que era difícil de ignorar: “Eles sabem que eu sou impulsivo, mas sabem que, quando estou certo de algo, eu sou inabalável. E eu juro, Shara’Kala, eu vou continuar firme em minha palavra, e se essa mulher está por trás disso, se o Olho está usando meu nome para causar esse massacre, eles vão descobrir e expor todos.”

A Khan ouviu aquelas palavras e, pela primeira vez, sentiu uma pequena centelha de esperança de que, talvez, as coisas pudessem ser resolvidas sem um banho de sangue. 

“Se isso for verdade, Cruz…” Shara'Kala começou, com um tom um pouco mais suave: “Então eu estarei do seu lado nessa. Não porque eu confie cegamente em você, mas porque eu quero justiça para o meu povo.”

Cruz assentiu, agradecido pela oportunidade, e respondeu: “Eu não poderia pedir mais do que isso. Obrigado, Shara’Kala!”

Após escutar aquilo, Shara'Kala vou um pouco para trás, ainda observando Cruz com um olhar afiado, e falou: “Eu voltarei em breve. Se há algo mais que você acha que eu deva saber, pense nisso. Cada detalhe pode fazer a diferença.”

“Entendido!” Cruz respondeu, com seu olhar firme e decidido travado na Khan. Agora, depois de descobrir o grande esquema que parecia ter acontecido, ele sabia que cada minuto era precioso, e ele usaria todos eles para encontrar uma maneira de provar sua inocência e limpar seu nome.

“Shara'Kala… Posso te pedir algo mais?” Antes de Shara'Kala se afastar, Cruz perguntou num tom sério.

“O que você quer?” Shara'Kala olhou para Cruz e perguntou com desconfiança.

“Eu gosto de você… E por isso… Eu quero te pedir para evitar essa guerra e para não enfrentar Zao Tian de jeito nenhum!” Cruz pediu com um tom claro de preocupação em sua voz. Ele estava realmente preocupado com as consequências de uma guerra, mas estava ainda mais preocupado com a segurança de Shara'Kala.

“Mais uma vez eu escuto esse nome e essas mesmas palavras…’ Shara'Kala,.de forma contrariada e orgulhosa, comentou com um profundo desdém, antes de perguntar de forma muito direta: “O que tem nesse Zao Tian que vocês tanto admiram a ponto de falar dele como se fosse invencível?”

Cruz, com o olhar cheio de preocupação e aviso, respondeu, tentando deixar muito claro que se preocupava com a Khan: “Todos que o enfrentaram perderam, Shara'Kala. Antes, ele derrubava oponentes muito mais fortes do que ele de formas que não dependiam apenas da força bruta… Mas agora… Simplesmente não têm muitos que podem se dizer mais fortes do que ele, e se ele já vencia antes de ser assim, não existe possibilidade dele perder agora!”

“Eu me preocupo com você, Shara'Kala! Então eu suplico para que não lute contra ele!” Cruz encerrou, unindo as mãos em súplica.

Dessa vez, Shara'Kala não respondeu como habitualmente fazia, ela apenas ficou séria e calada, com uma expressão que demonstrava que ela tinha levado em consideração o que foi dito, mas que precisava de um tempo para absorver.

Após fazer isso, Shara'Kala partiu, deixando Cruz para trás, torcendo para que a Khan tivesse escutado o seu pedido.

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Enquanto isso, Ye Yang e Jaha foram pessoalmente ao local onde Zao Tian esperava ansiosamente por notícias. O prazo estava cada vez mais curto, e eles sabiam que qualquer informação nova poderia mudar o rumo dos acontecimentos. Eles precisavam ser rápidos, pois Zao Tian já estava quase decidido a partir para Uhr'Gal e resolver tudo por conta própria.

Zao Tian, com os braços cruzados e o rosto marcado pela impaciência, os viu se aproximar e imediatamente os pressionou: “Então? Descobriram algo que valha a pena? Algo que nos faça ganhar tempo e inocente o Cruz?”

Ye Yang, percebendo a urgência na voz de Zao Tian, não hesitou em responder diretamente: “Descobrimos algumas coisas, sim. Cruz não estava em Uhr’Gal no dia do ataque, pelo que sabemos agora. Ele estava em uma cidade pequena chamada Norvovick, em Hill. Parece que ele estava lidando com questões pessoais depois de descobrir que sua namorada, Catarina, era casada. Ele terminou com ela e se isolou, mas o problema é que ele estava sozinho e não tem um álibi sólido para esse período.”

Ao ouvir o nome Catarina, Zao Tian franziu o cenho, intrigado, e perguntou: “Catarina…? Quem é essa mulher? Como ela conheceu o Cruz?”

Jaha interveio, explicando rapidamente: “Era a namorada de Cruz. Eles estavam juntos há um tempo, em segredo, mas ele descobriu que ela o estava enganando. Isso aconteceu pouco antes do ataque a Uhr’Gal. Nós suspeitamos que ela possa estar conectada ao Olho e que ela tenha sido usada para incriminar Cruz.”

Zao Tian ficou em silêncio por um momento, absorvendo a nova informação. Ele tinha uma expressão de reflexão profunda, ponderando sobre as implicações do que havia acabado de ouvir: “Se ela é uma peça do Olho, então isso faz sentido… Eles poderiam ter usado o comportamento típico do Cruz para incriminá-lo. E se ele estava sozinho e perturbado, seria fácil manipular a narrativa.”

Ye Yang, vendo que Zao Tian parecia estar contente com o que eles descobriram, continuou, tentando fornecer uma perspectiva mais ampla: “Exatamente. Shara’Kala está ajudando, de alguma forma. Ela também percebe que há algo de errado nessa história. Mas estamos correndo contra o tempo. Precisamos encontrar essa Catarina ou alguém que possa confirmar o paradeiro de Cruz naquele dia.”

Jaha completou: “Precisamos encontrar quem alugou a casa para Cruz naqueles dias e quem eram os seus vizinhos. E se pudermos encontrar  Catarina, isso pode nos levar diretamente ao Olho ou a uma prova de que Cruz foi manipulado ou incriminado.”

Zao Tian, ouvindo isso, respirou fundo e assentiu lentamente. A frustração ainda era evidente em seu rosto, mas ele sabia que não poderia agir impulsivamente sem dar uma chance a essa investigação. Ele, então, olhou diretamente para Ye Yang e Jaha, com sua voz carregada de urgência, e falou: “Vocês têm dois dias. Eu quero provas, e Ragnar e Kyon podem fazer esse trabalho lá em Decarius. Se Catarina está envolvida, eles vão encontrá-la e nos dar evidências concretas. Não vou esperar mais do que isso, porque eu acredito que os orcs também não esperarão muito mais para o julgamento. Encontrem-na, ou o momento da diplomacia e da paciência acabará!”

Ye Yang e Jaha assentiram, compreendendo a gravidade da situação. Eles sabiam que Zao Tian estava à beira de explodir, com razão, e que a única maneira de evitar um conflito devastador era apresentar algo sólido antes do julgamento de Cruz.

“Vamos entrar em contato com Ragnar e Kyon, então. Precisamos rastrear cada pista que temos sobre Catarina, o paradeiro do Cruz, e descobrir quem realmente ela é!” Ye Yang declarou, já pensando nos próximos passos.

Jaha acrescentou: “E vamos pressionar e usar Shara’Kala para conseguir mais informações com Cruz. Graças à ajuda dela, poderemos conseguir alguns esclarecimentos em tempo real.”

Zao Tian balançou a cabeça, concordando, e falou:  “Façam isso. E não se esqueçam… O tempo está correndo. Nós continuaremos daqui, seguindo o rastro que vocês nos deram, e buscaremos algo que possa nos levar ao verdadeiro autor.” 

Apesar de uma grande vitória de Ye Yang e Jaha contra o tempo, a contagem regressiva continuava, e a tensão só aumentava. Zao Tian se acalmou um pouco, mas o julgamento dos orcs era apenas uma questão de tempo, e cada segundo que passava sem uma resposta concreta era um passo a mais em direção ao desconhecido.