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Capítulo 840 - Ironia do Destino

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Quando o anúncio de que o seu julgamento aconteceria pela manhã foi feito, Cruz que estava em uma jaula suspensa e exposta, rodeado por orcs que assistiam com sorrisos sádicos ao seu desespero crescente, ficou muito agitado. Naquela jaula, sua energia espiritual estava selada, e a sensação de impotência começou a consumi-lo rapidamente. O anúncio de que seu julgamento aconteceria ao amanhecer ecoava em sua mente, deixando claro que sua morte era iminente.


Buscando alguém em quem se apoiar, Cruz olhou ao redor, procurando Shara'Kala ou algum de seus amigos, mas não encontrou ninguém. Isso o deixou ainda mais agitado, pois ele sabia que algo estava errado. Seu coração batia acelerado ao lembrar do ataque que devastou Uhr'Gal, uma destruição pela qual ele não era responsável, mas cujo peso agora recaía sobre seus ombros.


"Isso é um engano! Não fui eu que fiz aquilo!" Ele gritou em apelo, com sua voz desesperada ecoando pela cidade: "Foi um clone! Vocês estão julgando a pessoa errada!"


Cruz tentava se defender, dizendo a verdade para os orcs, mas seus apelos não encontraram ouvidos atentos. Pelo contrário, os orcs ao redor gargalhavam, divertindo-se com seu pânico.


"Olha só o assassino agora!" Um orc riu, com seus olhos brilhando com malícia: "Finalmente percebeu que a justiça orc é implacável, não importa quem você seja. Você vai pagar pelo que fez, humano!"


Outro orc, de estatura maior e cicatrizes profundas no rosto, cuspiu no chão e grunhiu: "Um clone? Essa é a desculpa mais patética que já ouvi em toda a minha vida. O que mais você vai dizer amanhã, quando estiver diante do conselho? Que foi o vento? Que você foi manipulado?"


As palavras cortantes e insensíveis dos orcs eram como lâminas afiadas que rasgavam o pouco de esperança que Cruz ainda tinha. Ele, então, olhou para baixo, vendo a multidão que havia se reunido para observar seu sofrimento, com seus rostos deformados pela raiva e ódio. Para eles, não havia diferença entre Cruz e qualquer outro inimigo. Ele era o responsável pela devastação de suas terras e entes queridos, e sua morte seria a única resposta aceitável.


"Vocês estão cometendo um erro!" Cruz gritou novamente, com mais frustração e angústia em sua voz: "Eu posso provar que não fui eu! Só preciso falar com Shara'Kala, ela vai entender!"


"A Khan não está aqui para te salvar!" Uma voz rouca ecoou entre a multidão. Um orc com uma armadura pesada se aproximou da jaula, com seus olhos refletindo o desprezo que ele sentia, e disse: "E mesmo que estivesse, você acha que ela se importaria com as mentiras de um assassino?"


Cruz ficou em silêncio por um momento, processando a realidade que o cercava. Ele estava sozinho, completamente à mercê dos orcs, e foi ele mesmo que se colocou naquela situação ao aceitar se entregar, porque ele sabia que era inocente e acreditava que isso seria provado. Contudo, o plano armado contra ele foi muito mais metódico do que ele poderia imaginar, e sua inocência estava cada vez mais difícil de ser provada. 


Enquanto Cruz pensava e se enfurecia com que tinha armado para ele, sua mente começou a girar, buscando instintivamente uma saída, uma forma de fazer com que eles entendessem. Mas todas as portas pareciam fechadas. Ninguém acreditaria em suas palavras, não sem provas, e ele não tinha nada para mostrar.


O tempo passava devagar, se tornando uma forma de tortura natural e cruel. Cada segundo parecia uma eternidade, e a ansiedade tomava conta de Cruz. Ele não conseguia sentir sua conexão com a energia espiritual, algo que havia sido parte de sua essência por tanto tempo. Sem ela, ele se sentia vulnerável, desprotegido e sem ter como reagir contra a injustiça que estava sendo feita contra ele.


"É isso o que vocês fazem com qualquer um que se vocês suspeitam?" Cruz provocou, em uma última tentativa de apelar para a honra orc: "Vocês julgam sem dar uma chance de defesa? É isso que chamam de justiça? Onde estão os meus amigos que estavam aqui para provar a minha inocência? Onde estão a Khan e Grok, o espectador que deveria atestar a lisura do julgamento?"


Os orcs ao redor riram de novo, sem a menor preocupação com seus argumentos. 


"Você acha que tem o direito de falar de justiça, genocida?" Um deles zombou, com sua voz carregada de desdém.


"Você destruiu vilas inteiras, matou nosso povo, e agora quer falar de honra? Não há honra em você, humano. Amanhã, quando a lâmina cortar sua garganta, será o único fim justo para o que você fez." Outro, dessa vez uma orc fêmea, xingou.


Cruz, que esteve calmo e passivo até aquele dia, aceitando que a justiça prevaleceria, sentiu a ira fervilhar dentro dele, mas não havia o que fazer. Seu corpo tremeu de frustração, desespero e fraqueza. Ele não podia lutar. Não podia se defender. Estava preso em uma armadilha de acusações que não conseguia desmontar.


Ao longe, as tochas que iluminavam o campo onde Cruz estava preso lançavam sombras dançantes nas rochas ao redor e se multiplicavam a cada segundo conforme mais orcs chegavam para testemunhar o fim do assassino de seu povo. A noite em Uhr'Gal era fria, e o vento seco cortava como facas. Mesmo assim, os orcs não demonstravam cansaço. Para eles, aquela era uma celebração antecipada. O dia seguinte marcaria o fim de Cruz, e a vingança de toda Uhr’Gal.


Cruz se recostou contra as barras de metal da jaula, frustrado, exausto tanto física quanto emocionalmente. Sua mente estava à beira do colapso, e ele sabia que, sem a ajuda de Shara'Kala ou de seus amigos, ele não sobreviveria ao amanhecer.


"Por que... Por que isso está acontecendo comigo?" Ele murmurou para si mesmo, sentindo a dor e o desespero crescerem a cada segundo: "Eu não mereço isso... Não posso morrer assim... Não aqui… Não desse jeito..."


Enquanto isso, a multidão de orcs abaixo da jaula continuava a gargalhar e provocar. Eles o enxergavam apenas como um criminoso, como o responsável pelo massacre de seus irmãos e irmãs. Para eles, Cruz não era digno de compaixão, e sua morte seria apenas um desfecho necessário para um ciclo de dor e destruição.


Cruz sentia o peso do seu destino iminente. Sua mente, consumida pela desesperança, revivia os momentos que o levaram àquele ponto, o ataque de seu clone, a confusão e as acusações injustas. Ele tremia de raiva e desespero, sem qualquer controle sobre a situação ou sua mente.


Enquanto a multidão o insultava e ria dele, seu olhar vagava pelos arredores, sem encontrar nenhum rosto familiar. A ausência de Shara’Kala, Grok, e seus amigos, tornava aquela noite ainda mais sufocante.


De repente, algo mudou no ambiente. No horizonte distante, ele avistou uma figura que saía furiosa da sala do conselho dos anciões… Era Yang Chao. A raiva era visível em seus movimentos bruscos, e por um breve instante, Cruz teve a sensação de que não estava totalmente esquecido.


Yang Chao, percebendo o estado deplorável de Cruz na jaula suspensa, fez o caminho até ele, ignorando os olhares e murmúrios dos orcs que o observavam. Ao se aproximar, o embaixador de Decarius encarou Cruz com seriedade e uma determinação que Cruz não havia visto em muito tempo.


“Você não está sozinho nisso!” Yang Chao disse, em voz firme, apesar de baixa para não ser ouvida pelos curiosos ao redor: “Eu tentei adiar o julgamento. Fiz o possível... Mas eles não querem ouvir.”


Cruz, lutando para manter a calma diante da situação, olhou para Yang Chao com os olhos desesperados e respondeu: “Eles vão me matar... Eles acreditam que fui eu.”


Yang Chao balançou a cabeça, respirando fundo, e falou com sinceridade: “Eu sei o que estão fazendo, e sei que é injusto. Mas você precisa ser forte agora. Confie em mim. Eu não vou desistir de tentar mudar isso. Shara'Kala também não teria deixado isso acontecer se estivesse aqui. Eu prometo que você não vai morrer amanhã.”


“Mas como?” Cruz perguntou, com a voz tremendo de frustração. Ironicamente, um antigo inimigo era o seu único amigo agora: “Eu não vejo saída. Eles me odeiam, e não há como provar que fui apenas um peão nisso tudo.”


Yang Chao se aproximou ainda mais da jaula, com sua expressão dura suavizando um pouco, e sussurrou: “Eu estou lutando por você nos bastidores, Cruz. Você não pode perder a fé agora. Ainda há uma chance de fazer a verdade vir à tona. Eu só preciso de mais tempo, e Shara'Kala vai voltar. Quando ela souber o que está acontecendo, tudo vai mudar. Ela vai parar isso.”


Cruz, mesmo imerso em desespero, encontrou um fio de esperança nas palavras e presença de Yang Chao. Ele apertou as barras da jaula, como se estivesse tentando agarrar aquela promessa de sobrevivência, e perguntou “Você acha que eles vão me ouvir?”


Yang Chao assentiu, mas não sem certa hesitação: “Eles não são cegos. Eles têm medo e enquanto não acabarem com o culpado continuaram amedrontados. Tudo o que precisamos fazer é sobreviver até Shara'Kala voltar e a verdade ser exposta. E até lá, eu preciso que você se mantenha firme. Não deixe o medo te consumir e não caia nas provocações da multidão.”


Após escutar aquilo, Cruz respirou fundo, tentando se acalmar. Ele sabia que o que Yang Chao dizia era verdade, mas o tempo estava contra eles. O julgamento era iminente, e ele ainda estava nas mãos dos anciões e dos orcs furiosos ao redor.


Yang Chao, percebendo a luta interna de Cruz, deu um passo para trás e lançou um último olhar encorajador para ele, e prometeu: “Aguente firme, Cruz. Eu não vou deixá-los te condenar. Você tem a minha palavra. Seja lá como for que isso tenha que acontecer, você vai embora de Uhr’Gal comigo!”


Com essas palavras, que carregavam um duplo significado de alguém que estava disposto a ir até as últimas consequências para cumprir a sua palavra, Yang Chao se afastou, deixando Cruz sozinho novamente em sua jaula, mas com uma pequena e fraca chama de esperança reacendendo dentro dele.



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