Capítulo 0866 - Recomeço

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No vasto e sombrio espaço, Yang Hao pairava sozinho, ainda tentando assimilar tudo o que aconteceu. Ele havia sentido a morte de perto e sabia que, sem a Pílula do Regresso e a Ressurreição Ardente, ele não estaria mais ali para contar histórias. Respirando fundo, ele fechou os olhos por um momento, deixando que as memórias da batalha preenchessem sua mente. 

Zaki não era apenas mais um simples adversário poderoso. Ele era uma força avassaladora, quase um ser de outro nível, que havia subjugado Yang Hao como se estivesse brincando com sua presa que, por sinal, estava dando tudo de si para vencê-lo ou pelo menos pará-lo. A luta, na realidade, havia sido unilateral, com Zaki ditando cada movimento de ambos e provocando cada reação Yang Hao.

A velocidade extraordinária que ele tinha era quase impossível de acompanhar; A força de seus golpes, impulsionados pela mesma velocidade, eram comparáveis a um cultivador de elite do elemento vida; As técnicas de ataque a longa distância eram indefensáveis, e, se quisesse Zaki poderia tê-lo vencido sem deixar que Yang Hao sequer chegasse perto dele. O conjunto que formava aquele artista marcial era quase que a definição de perfeição. Um mestre que dominava seu elemento com autoridade e compreendia a extensão de seu próprio poder… Era assim que Zaki passou a ser visto por Yang Hao.

Yang Hao se lembrava de como foi completamente superado em cada tentativa sua. Não importava o quão rápido ele se movesse, o Monarca da Luz parecia sempre estar um passo à frente. Era como se Zaki pudesse prever todos os seus movimentos, neutralizando suas técnicas e expondo suas fraquezas sem qualquer esforço aparente. Ele se lembrou, também, de como sua Ressurreição Ardente, que era uma das armas do Espírito existentes com o maior potencial e versatilidade, quase havia sido extinta pelo poder esmagador de Zaki, e por mais que suas chamas ardessem com fervor, era como se fossem meras faíscas diante da luz do Monarca. Os poderes de regeneração da Ressurreição Ardente se tornaram obsoletos perante um oponente que poderia feri-lo mais rápido do que ela podia  curar e mais vezes do que ela podia lidar.

Yang Hao sentia o peso da frustração tomar conta de sua alma. Ele havia treinado muito e lutado com tudo o que tinha, utilizando a Ressurreição Ardente, uma arma do Espírito, uma relíquia tão rara e poderosa que poucos no universo sequer ousavam sonhar em possuir algo parecido. A Ressurreição Ardente não era apenas uma arma… Era uma extensão de sua alma que se ligou com a de Yang Zai, uma chama viva que havia se fundido a ele, acompanhando-o em cada batalha e superando todos os limites que ambos encontravam. Contudo, na luta contra Zaki, aquilo que sempre lhe fora uma garantia de vitória e sobrevivência, o seu símbolo de poder, havia sido superado de forma humilhante.

Ele se lembrava da espada dourada de Zaki cortando o ar com um fio aterrorizante, da lança que perfurou suas defesas com uma facilidade insultante, e da armadura dourada que Zaki vestia. O impacto dessas memórias na mente do imperador era brutal. A Ressurreição Ardente, tão poderosa, tinha sido derrotada por armas que, embora de alto nível, eram consideradas comuns quando comparadas à grandiosidade de uma arma do Espírito.

Yang Hao cerrava os punhos com tanta força que as chamas da Ressurreição Ardente se intensificavam ao redor de seu corpo, reagindo à sua raiva. Ele tentava encontrar uma explicação para o que havia ocorrido. Como Zaki, com aquelas armas "comuns", foi capaz de subjugar um artefato tão grandioso e lendário? Cada golpe de Zaki parecia uma afronta à honra de sua arma, e, por extensão, uma afronta a ele próprio.

Outra coisa que que tomava a sua atenção era a natureza especial da armadura de Zaki. Ele se lembrava de como cada ataque de fogo que lançava contra o Monarca da Luz era quase imediatamente absorvido pela armadura dourada, que convertia o calor em energia espiritual pura, devolvendo-o com intensidade ainda maior. Yang Hao havia sentido isso de forma avassaladora ao ser atingido por seu próprio poder, transformado em uma força ainda mais destrutiva. Zaki não apenas bloqueava seus golpes, ele os absorvia e os redirecionava, usando a própria força de Yang Hao contra ele.

Essa habilidade da armadura de Zaki fez Yang Hao ironicamente perceber uma inferioridade humilhante em sua Ressurreição Ardente. Apesar de ser uma arma do Espírito, ela não possuía a capacidade de adaptação e resistência que Zaki exibia com suas armas. Ele compreendeu, também, que não era apenas uma questão de poder bruto, mas de adaptação, de uma inteligência fria que o Monarca da Luz usava em batalha. Zaki havia compreendido e explorado as fraquezas de sua Ressurreição Ardente como se conhecesse aquela arma melhor do que o próprio Yang Hao.

A frustração de Yang Hao o fazia querer melhorar a Ressurreição Ardente e si, porque ambos pareciam pequenos e limitados diante das técnicas e armas de Zaki. Aquela armadura dourada, com sua capacidade de converter calor em energia, tinha um bom conjunto de capacidade, mas na verdade, quem fazia ela ser tão excepcional assim era o homem dentro dela. Em termos de estratégia e versatilidade, ele ainda era um aprendiz comparado ao Monarca da Luz. Zaki não precisava de uma arma do Espírito, porque ele transformava as armas comuns em extensões de seu próprio poder devastador. Um graveto em suas mãos poderia ser mais poderoso do que qualquer arma do Espírito nas mão de alguém que não saiba manuseá-la.

Esse pensamento fazia Yang Hao arder por dentro, mas não de orgulho. Era uma frustração amarga, uma constatação cruel de que a sua dependência da Ressurreição Ardente, sua confiança absoluta naquela arma, havia se tornado sua fraqueza. Ele precisava ir além. Precisava encontrar uma maneira de transcender as limitações da Ressurreição Ardente, de tornar-se forte por si só, ao ponto de não depender de qualquer arma, mesmo que fosse uma arma do Espírito.

A luta com Zaki fora uma lição dolorosa, mas essencial. Yang Hao sentia a ardência de sua humilhação transformando-se em um combustível sombrio dentro dele, uma promessa silenciosa de que encontraria um meio de superar a si mesmo, de fortalecer a Ressurreição Ardente e, acima de tudo, de ser capaz de enfrentar qualquer adversário sem se intimidar com as limitações de sua própria força.

Ainda envolto em suas chamas regenerativas, Yang Hao fitou as próprias mãos, observando as marcas dos ferimentos que se fechavam lentamente. Cada corte, cada estocada e cada golpe que Zaki havia desferido nele estavam gravados em sua memória, não apenas como cicatrizes físicas, mas como lembretes de sua impotência. Ele inspirou profundamente, sentindo a renovação lenta de sua energia espiritual, mas também a profunda exaustão que ainda o dominava.

“Eu levei uma surra… Uma surra completa…” Murmurou Yang Hao, reconhecendo a verdade amarga. Ele sabia que havia dado tudo o que tinha naquele confronto, mas a diferença entre ele e Zaki era tão grande que, apesar de todos os seus esforços, ele não tinha sequer arranhado o Monarca da Luz. Yang Hao reconheceu que Zaki estava muito além do que ele era capaz de enfrentar naquele momento.

Então, como se um oposto atraísse o outro, seus pensamentos o levaram diretamente a Daren, o ser mais poderoso de seu tempo, o cultivador lendário cuja força era incomparável. Até há pouco, Daren havia sido seu modelo de poder absoluto, alguém que ele jamais imaginou encontrar um igual em vida. Contudo, Zaki não era apenas uma lenda viva ou uma promessa de futuro promissor… Ele parecia estar em um patamar igual ao de Daren, uma figura que, em seu tempo, havia redefinido o conceito de força.

“Daren…” Yang Hao sussurrou o nome com reverência e um toque de desespero. Daren era a figura inatingível que todos em seu tempo aspiravam se tornar, mas, após aquela luta, Yang Hao percebeu que o próprio Zaki era uma nova e temível referência, uma prova viva de que ele estava longe, muito longe, do nível que precisaria alcançar para enfrentar verdadeiros titãs.

Yang Hao então refletiu sobre sua vida até aquele ponto. Cada batalha que ele venceu, cada inimigo que ele derrotou, havia alimentado sua confiança, dando-lhe a sensação de que ele estava no caminho certo para se tornar um dos mais fortes. Ele enfrentou inúmeros obstáculos, superou desafios mortais, mas, naquele instante, confrontando sua derrota, ele viu que seus feitos até agora eram insignificantes. Ele não passava de uma faísca em um universo onde existiam luzes tão intensas quanto a de Zaki, capazes de eclipsar qualquer chama.

Sentindo o peso de sua humilhação, Yang Hao se forçou a respirar fundo, tentando acalmar a tempestade de emoções em seu peito. Mesmo sozinho, ele sentia vergonha, mas, ao mesmo tempo, uma determinação sombria começava a tomar conta de seu espírito. Ele sabia que precisava se tornar mais forte, mais rápido, mais resistente. Precisava superar cada limitação que ainda o impedia de ser o guerreiro que ele desejava ser. E, acima de tudo, precisava de mais disciplina e técnica. Ele não poderia depender apenas da Ressurreição Ardente para sobreviver.

“Essa luta… Ela me mostrou que a elite verdadeira está em um nível que nem mesmo a minha visão atual consegue alcançar…” Ele admitiu, deixando escapar um leve sorriso de desgosto. Ele não tinha escolha. Se quisesse proteger Decarius e a Dinastia Yang, e se quisesse se vingar de Zaki, ele teria que começar do zero. Precisava estudar cada detalhe daquela batalha, cada técnica, cada fração de segundo em que fora superado, e usar aquilo como base para seu crescimento.

A imagem de Moira veio à sua mente. Ela acreditava nele, tinha ensinado-o a usar a Pílula do Regresso, a acreditar em uma segunda chance. E Zaki… Em sua brutalidade, também lhe dera uma segunda chance. Yang Hao ainda estava vivo e sabia que isso era uma dádiva que ele não poderia desperdiçar. A batalha contra Zaki não havia sido sua última; Ela era apenas um prelúdio de algo muito maior.

Refletindo sobre tudo isso, Yang Hao decidiu que não poderia se dar ao luxo de perder mais tempo. Ele precisava treinar mais, precisava forjar sua determinação em algo sólido, como aço. E então, ele ergueu a Ressurreição Ardente, contemplando as chamas que ainda dançavam na lâmina. Seus olhos brilharam com a mesma intensidade, enquanto ele fazia uma promessa silenciosa de que aquela derrota, embora humilhante, seria o marco inicial de sua ascensão.

Zaki havia subestimado o coração de Yang Hao. Ele havia visto o jovem imperador como uma mera extensão dos líderes de Decarius, uma extensão da hipocrisia e da fraqueza que tanto desprezava. Mas Yang Hao prometeu a si mesmo, naquele momento, que ele iria se tornar mais forte, que ele seria o maior oponente que Zaki já enfrentou, e que, no fim, ele provaria ao Monarca da Luz o quanto estava errado em subestimá-lo.