Capítulo 0929 - O Fardo da Verdade
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Yang Chao sentiu o impacto das palavras de Cruz como um golpe no peito. Ele sempre acreditou na justiça da Dinastia Yang, no legado de seus antepassados e na pureza da linhagem que carregava o nome Yang. Mas ali estava ele, testemunhando soldados imperiais abusando do poder concedido por um império que, teoricamente, deveria proteger os mais fracos.
Naquele momento, diante de um sentimento revoltante, ele cerrou os punhos, observando os três soldados que arrastavam o velho pelo chão seco da vila. O ancião lutava inutilmente contra as mãos ásperas dos guerreiros, com seu corpo magro coberto de poeira e hematomas. Os aldeões olhavam a cena de longe, sem ousar intervir, pois sabiam que desafiá-los significava selar seu próprio destino.
Essa era a Dinastia Yang?
Yang Chao sentiu sua respiração pesar. Essa era a fundação sobre a qual Yang Zai ergueu o império? Ele tinha ouvido histórias sobre como seu antigo imperador governava com sabedoria, com um senso de justiça inabalável. Mas ali estava a verdade, nua e crua: mesmo sob um governante justo, a corrupção se espalhava pelas fileiras inferiores.
Cruz notou a hesitação de Yang Chao, mas deixou ele ver mais um pouquinho antes de sussurrar: “Vai só assistir ou vai fazer alguma coisa?”
Yang Chao soltou o ar lentamente, se segurando para não esmagar aqueles soldados com um único tapa. Ele então olhou para Cruz, que aguardava por uma resposta, sabendo que precisava agir.
Ele deu um passo à frente, mantendo a expressão firme e sua postura militar impecável. Ele olhou para os soldados e sua voz ecoou pela praça com autoridade: “O que diabos está acontecendo aqui?”
Os três soldados interromperam suas ações de forma quase flagrante, olhando para ele com surpresa. Lentamente, suas expressões passaram da confusão para uma desconfiança imediata.
Eles não o reconheciam. Eles não sabiam quem era aquele soldado que estava falando com eles daquele jeito.
“E quem diabos é você?” Um dos soldados perguntou, estreitando os olhos enquanto encarava os olhos de Yang Chao sem ter noção do abismo que separa os dois.
Yang Chao não respondeu imediatamente. Em vez disso, caminhou até o velho caído no chão e o ergueu pelos braços, ajudando-o a se levantar. O velho hesitou em aceitar ajuda, temendo estar sendo enganado para ser humilhado ainda mais. Contudo, quando ele percebeu que Yang Chao estava agindo com honestidade, ele segurou sua a mão e se levantou
Aquele simples gesto fez com que os aldeões olhassem para ele com espanto, como se nunca tivessem visto um soldado imperial demonstrar qualquer tipo de compaixão antes.
O soldado que havia empurrado o velho franziu o cenho e deu um passo à frente, visivelmente estressado com o que estava acontecendo.
“Isso não é da sua conta, patrulheiro. Estamos apenas cumprindo nosso dever.” O soldado falou, deixando a entender que ele estava ali a serviço do império.
Yang Chao virou-se para ele, com sua expressão carregada de uma calma perigosa. O olhar dele era de contenção, e cada respiração daquele homem carregava um imenso esforço para reprimir o seu desejo de literalmente virar aquele homem ao avesso.
“Seu dever?” Ele então repetiu, com sua voz afiada em uma pergunta retórica. Depois, ele se colocou entre o velho e os soldados enquanto questionava: “Desde quando o dever de um soldado imperial é humilhar e espancar velhos indefesos?”
Os soldados se entreolharam, começando a perceber que aquele não era um patrulheiro qualquer.
“Você não é da nossa unidade e nem da nossa divisão. Não devia estar nessa região. Qual é a sua unidade?” O segundo soldado perguntou, agora desconfiado da identidade de Yang Chao.
Cruz cruzou os braços, divertido com a troca, mas não interferiu. Aquela era a luta interna de Yang Chao, um momento em que ele precisava decidir o que fazer com a verdade que acabava de descobrir.
Yang Chao permaneceu impassível e contendo sua raiva, mas sua paciência estava se esgotando rapidamente.
“Sou da unidade de reforço enviada para inspecionar os patrulhamentos nesta área. E agora eu vejo por quê?” Ele respondeu, com sua voz carregada de desdém.
O primeiro soldado bufou, claramente irritado com a resposta e a insinuação de Yang Chao.
“Isso é um monte de besteira. Você acha que pode simplesmente aparecer aqui e nos dar ordens? Esse vilarejo faz parte do território da Terceira Divisão de Fronteira, e nós não temos registro de nenhum reforço ou supervisão vindo para cá!”
Yang Chao rapidamente suspirou, descruzando os braços enquanto respondia de forma fria e direta: “Então vocês não só são corruptos, como também são incompetentes.”
Os soldados cerraram os dentes. O terceiro deles deu um passo à frente e rosnou: “Quem diabos você pensa que é?”
Os ânimos estavam muito exaltados, e foi então que um deles finalmente olhou melhor para o uniforme de Yang Chao e percebeu algo que passou despercebido antes… O símbolo de graduação de um sargento.
Os olhos do homem se arregalaram no mesmo instante que ele viu aquele símbolo. Nenhum sargento costumava acompanhar os patrulhamentos nos pequenos vilarejos, e era por isso que eles tinham liberdade para fazer o que faziam. Quando percebeu que estava complicado, ele trocou um olhar alarmado com os outros dois, que também notaram o detalhe.
O primeiro soldado abriu a boca para falar, mas sua voz falhou. Eles tinham acabado de desafiar um superior.
“S-sargento…?” O segundo soldado murmurou, agora hesitante.
Yang Chao não demonstrou qualquer satisfação por ver o medo se instalar nos homens à sua frente, pois aquilo era pouco demais para retribuir suas ações. Ele apenas deu um passo à frente, deixando sua presença se impor sobre eles.
“Então… Vocês querem repetir o que acabaram de dizer?” Yang Chao perguntou.
Os soldados se encolheram levemente. Um deles tentou abrir a boca para dizer algo, mas Yang Chao logo levantou a mão e repreendeu: “Juntem os seus malditos cascos se quiserem falar comigo!”
*Bang.* Os soldados imediatamente ficaram em posição de sentido, olhando para Yang Chao com um misto de medo e ardilosidade. Eles queriam sair daquela situação, mas não se arrependiam de ter feito tudo aquilo.
“Não sabíamos, senhor…” Um deles começou a dizer, tentando encontrar uma desculpa.
“Exato.” Yang Chao interrompeu friamente: “Vocês não sabiam. O que significa que, por falta de um superior para supervisioná-los, achavam que podiam agir como quisessem, sem nenhuma consequência.”
Os homens ficaram calados, sem coragem para contestá-lo.
Yang Chao sentiu o desprezo crescendo dentro de si. Era isso o que a Dinastia Yang significava para o povo comum? Era assim que os soldados que deviam protegê-los agiam?
Naquela hora, não dava para acusar Zao Tian de ser teimoso ou culpá-lo por continuar guardando rancor da Dinastia Yang. Se alguns minutos apenas vendo aquele velho ser injustiçado já o deixaram furioso e enojado, imagine o que Zao Tian deveria sentir, tendo que passar por aquilo, estando na pele daquele velho, dia após dia.
Ele não tinha motivos para gostar da Dinastia Yang. Se Yang Chao, que era alguém fiel ao imperador a ponto não questionar nenhuma de suas ordens estava irritado, Zao Tian deveria sentir aquilo mil vezes mais forte.
Yang Chao cerrou os punhos, mas manteve sua voz controlada enquanto ordenava: “Vocês estão dispensados desta vila. Agora.”
Os soldados se entreolharam, inseguros e preocupados: “Mas… e o nosso relatório? O que colocamos nele?”” O primeiro soldado perguntou.
Yang Chao apenas ergueu uma sobrancelha enquanto respondia: “Se quiserem continuar vivos, eu sugiro que se preocupem com o que vai estar no meu relatório, e não no de vocês. Agora sumam da minha frente antes que eu decida que preciso dar um exemplo do que acontece com aqueles que desonram a Dinastia Yang!”
Os soldados engoliram seco. Eles podiam sentir a intenção assassina sutil emanando de Yang Chao, mesmo que sua postura ainda fosse controlada.
Sem mais questionamentos, os três se viraram e saíram da vila rapidamente, sumindo na floresta sem olhar para trás.
O silêncio se instalou por um momento.
Então, o velho camponês tossiu e olhou para Yang Chao com cautela.
“Você… é diferente.” Ele murmurou.
Yang Chao permaneceu em silêncio por um momento antes de responder: “Eu apenas fiz o que qualquer soldado deveria fazer.”
O ancião soltou uma risada rouca, mas não havia humor nela: “Se todos fossem como você, garoto, o mundo seria um lugar melhor.”
Yang Chao não respondeu.
Ao seu lado, Cruz bateu palmas lentamente enquanto falava: “Bom trabalho. Mas sabe… esse tipo de coisa não acontece só aqui e não só agora. A Dinastia que você tanto admira… nunca foi tão justa quanto você acreditava.”
Yang Chao fechou os olhos, absorvendo aquelas palavras como se engolisse algo bastante amargo.
Ele sempre soube que nenhum império era perfeito. Mas ele acreditava que seu povo havia sido um farol de ordem e justiça. Agora, porém, a verdade se mostrava mais amarga do que ele estava preparado para admitir.
Mas ele não tinha tempo para se afogar naquela dúvida.
Eles ainda precisavam encontrar Yang Hao. E por mais que aquele momento significasse algo para Yang Chao, ele era apenas um eco de um passado que ele não podia mudar mais. Apenas o futuro podia ser salvo.
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Aquele vilarejo logo ficou para trás e os dias seguintes foram marcados por uma tensão silenciosa. Yang Chao e Cruz caminharam pelas vastas terras da Dinastia Yang, passando por vilarejos menores, campos agrícolas e cidades fortificadas, sempre mantendo um perfil discreto. Eles evitavam chamar atenção, mas, mesmo assim, não podiam ignorar os olhares desconfiados dos moradores locais.
O evento no vilarejo, onde Yang Chao viu a injustiça sendo cometida por soldados imperiais, ainda pesava em sua mente. A verdade amarga sobre o próprio império estava se entranhando dentro dele como um veneno lento e corrosivo.
A cada nova cidade por onde passavam, ele via o padrão se repetir. As pessoas mais pobres e fracas eram deixadas à mercê de soldados e administradores locais corruptos. As vilas mais distantes da capital pareciam viver sob regras próprias, sem a supervisão do próprio Imperador.
Isso o incomodava. Isso o frustrava. Isso o fazia questionar se era por aquele império que ele lutava.
Cruz, por outro lado, parecia menos abalado. Ele observava tudo com um olhar atento, mas sem o mesmo peso emocional que Yang Chao carregava.
“Você vai surtar se continuar remoendo isso.” Cruz quebrou o silêncio enquanto caminhavam por uma estrada de terra batida, cercada por árvores de ambos os lados.
Yang Chao franziu o cenho e desconversou: “Não estou remoendo nada.”
Cruz sorriu de lado e respondeu: “Ah, claro. Está só fervendo por dentro.
Yang Chao apertou os punhos, mas não respondeu.
Cruz então olhou para frente e continuou: “Você sabe qual é o problema de todo império, Yang Chao?”
Yang Chao permaneceu em silêncio.
Cruz sorriu, sabendo que ele estava ouvindo, e disse: “Ele sempre começa com boas intenções. Mas conforme cresce, perde o controle sobre suas extremidades. O centro pode ser forte e justo, mas a periferia apodrece. Sempre acontece. Sempre.”
Yang Chao sabia que Cruz tinha razão. Ele via isso diante de seus olhos, em cada vilarejo por onde passavam.
Mas ele não estava pronto para admitir isso em voz alta.
Eles eram forçados a buscar informações naqueles lugares que deixavam Yang Chao desconfortável, porque a verdade era que ambos sabiam que ir diretamente para o palácio de Yang Zai era impossível no momento.
As energias espirituais deles, por mais que estivessem ocultas, eram anormais. Naquelas vilas e cidades menores, ninguém tinha poder suficiente para notar a presença deles, mas na capital, as coisas seriam diferentes.
A Dinastia Yang, por mais isolada que estivesse, ainda era uma das nações mais poderosas do mundo. Seus guardiões imperiais, generais e estrategistas eram cultivadores de níveis altíssimos. E, acima de todos, havia Yang Zai, o Imperador.
“Se entrarmos na capital, ele vai perceber.” Yang Chao disse, enquanto observava o horizonte, onde as montanhas ao longe já indicavam a proximidade com o coração da Dinastia.
Cruz suspirou enquanto se lembrava de Ye Yang e sua capacidade de enxergar a energia espiritual, traço que foi herdado de Yang Zai: “Isso é se já não tiver acontecido. Ele pode ter nos percebido assim que entramos no território da Dinastia.”
Yang Chao sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A possibilidade de que Yang Zai já soubesse que eles estavam ali não era absurda.
O Imperador da Dinastia Yang não era um homem comum. Sua força era lendária e Yang Chao não queria descobrir o quão reais eram as lendas tão cedo.
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O tempo passou e o ciclo avançou mais rápido do que eles gostariam. Era quase o final do penúltimo dia, e até agora eles não tinham nenhum sinal de Yang Hao.
Cruz chegou a levantar a ideia de que talvez ele pudesse estar morto, mas Yang Chao rechaçava essa ideia, pois conhecia seu imperador como ninguém.
No meio de uma discussão entre eles, um tremor sacudiu o que parecia ser tecido do próprio espaço. A onda foi tão forte que eles sentiram o chão sob eles balançar e seus instintos imediatamente entraram em alerta.
“Isso foi uma colisão muito poderosa!” Cruz comentou. E ele estava certo, uma colisão entre duas forças muito poderosas tinha acontecido, e aquela foi apenas a primeira de muitas.
No tempo entre o comentário de Cruz e ele abrir a boca para responder, Yang Chao sentiu mais quatro colisões tão fortes quanto a primeira.
“Eu acho que nós achamos o Imperador…” Yang Chao então falou, olhando na direção de onde as ondas eram formadas.
