Capítulo 0961 - A Origem do Mal 7
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Tenham uma boa leitura!]
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Zao Tian observava tudo. Não com dó. Mas com clareza. A Trindade não estava apenas conhecendo o passado de um tirano. Estava conhecendo a única pessoa que eles jamais conseguiriam imitar.
Gold não era superior por força. Ele era a exceção que não precisava de exceções.
Um espírito solitário que, mesmo merecendo, não buscava seguidores, nem obediência. E, por isso... era mais livre do que qualquer império.
E Zao Tian sabia.
Eles estavam lendo tudo isso.
Mas interpretavam tudo errado.
Eles enxergavam desperdício.
E em algum lugar profundo... Eles invejavam. Porque o que eles queriam ter, outros jogaram fora.
Eles estavam indignados, mas a leitura não havia terminado. As páginas seguintes revelavam uma nova perspectiva, uma que desafiaria ainda mais as convicções da Trindade.
As páginas seguintes do manuscrito de Pemma Wangchuck eram diferentes. Não eram mais reflexões escritas no silêncio de um monastério, mas diálogos.
Anotações rápidas, como se tivessem sido transcritas às pressas por um homem tentando registrar conversas que nunca deveriam ser esquecidas. Algumas palavras estavam riscadas. Outras, reforçadas. E todas elas… falavam de Gold.
E, pela primeira vez, não como símbolo, mas como história, ele foi descrito.
“Foi numa noite chuvosa que ele decidiu falar de si.”
“Até então, ele vinha, ouvia, observava… e partia. Sem muitas perguntas, sem julgamentos.”
“Mas naquela noite, ele sentou-se comigo à beira do rio e olhou para o céu como quem procura algo que sabe que não está lá.”
“‘Você me contou tudo, Pemma.’ Ele disse. ‘E eu te ouvi com atenção. Agora escute um pouco de mim…’”
“E foi o que fiz.”
“‘Minha vida inteira foi um campo de caça. Mas eu não era o caçador.’”
“‘Eu nasci amaldiçoado, Pemma… amaldiçoado por ter sido notado.’”
Zao Tian apertou os olhos naquele instante. Ele já sabia a história, mas vê-la sendo lida pelos irmãos foi diferente.
O ar na mente de Amin pareceu mudar. Como se as palavras que se seguiam não pertencessem àquele lugar. Não devessem estar ali.
A Trindade, ainda em silêncio, não conseguiu desviar a atenção. Era como se algo os obrigasse a continuar.
“‘Heimdall.’”
Apenas esse nome fez a estrutura da mente coletiva estremecer. Eles sabiam quem era.
“‘O onisciente.’ Gold dissera. ‘O deus que tudo vê. O que jamais fecha os olhos. Aquele que, ao me ver… não desviou o olhar.’”
“‘Para os outros, ele observa. Em mim, ele fixou seus olhos.’”
“‘Desde que me entendo por gente, fui seguido. Atacado. Caçado.’”
“‘Criaturas surgiam das sombras em vilarejos que eu visitava. Monstros me atacavam quando eu dormia. Homens enlouqueciam só de me olhar, só por ter sentido… algo em mim.’”
“‘Eu achava que era azar. Achava que era algum karma de nascença. Mas era Heimdall.’”
“‘Ele… queria que eu morresse.’”
Zao Tian sentia as palavras como lâminas, frias e serenas, cortando a mente de Amin com precisão cruel.
“‘Mas ele não podia tocar em mim diretamente. Havia algo em mim que nem ele entendia.’”
“‘E ele queria explorar.’”
“‘Assistir’”
“‘Se entreter.’”
“‘Então ele tentou me isolar. Afastar todos que se aproximavam. E conseguiu.’”
“‘Todos que tentaram andar comigo… morreram. Queimados, envenenados, despedaçados… Alguns se mataram. Outros enlouqueceram. E ninguém, absolutamente ninguém… ficava.’”
“‘Amigos. Animais. Eu via todos partindo, um por um.’”
“‘Não porque eu fosse maldito.’”
“‘Mas porque ele não aceitava que eu existisse de outra forma.’”
“‘Heimdall me infernizou como quem tenta esmagar uma faísca antes que vire incêndio. Ele me observava. Ele me machucava.’”
“‘Você não imagina o que é saber que, em qualquer lugar, há alguém... te olhando. Não com ódio. Nem com piedade. Mas com prazer. Com o prazer de te ver sofrer.’”
“‘Ele queria que eu deixasse de existir… por completo. Mas ele não poderia apenas me matar, porque seria entediante.
“‘Ele precisava que eu morresse na alma antes do corpo.’”
“‘E em muitos momentos, eu quase deixei.’”
Zao Tian, agora parado dentro daquela memória moldada por Pemma, não via imagens, mas sentia os tons das palavras. Elas tinham o peso de cicatrizes que jamais fecharam.
“‘Mas foi quando tudo desabou que eu entendi o que ele realmente queria.’”
“‘Heimdall não queria só a minha morte.’”
“‘Ele queria a minha desistência.’”
“‘Queria que eu me perdesse. Que eu reagisse. Que eu tentasse destruí-lo. Para justificar uma ação contra mim.’”
“‘Para me humilhar ainda mais.”
“‘Ele queria que eu me tornasse um monstro só para sua diversão.’”
“‘E foi aí que eu parei.’”
“‘Parei de fugir. Parei de reclamar. Parei de existir para os outros.’”
“‘E comecei a existir… só para mim.’”
“‘Porque se eu tivesse que viver com os olhos dele sobre mim, que fosse com as minhas próprias regras. Para derrotá-lo. Para sobreviver até o dia que eu pudesse me vingar.’”
“‘E eu sobrevivi.’”
As mãos de Rachid estavam tremendo. Samir tinha o cenho franzido como se digerisse cada sílaba com dificuldade. Amin, mais tenso que os irmãos, começava a reagir com admiração e até prazer.
Zao Tian sentia.
O orgulho deles… estava em êxtase. Porque Gold nasceu do afastamento de tudo. Da sociedade, da humanidade. Até da sua própria dignidade.
Ele se fez forte por não ceder. Por ter raiva. Por querer vingança.
Os irmãos enxergavam a si mesmos em Gold. Ali, eles viam nele um exemplo a ser seguido.
Imaginando como deve ter sido infernal a vida daquele homem, eles conjecturavam e se mostravam cada vez mais dispostos a romper qualquer limite para chegar onde Gold chegou.
Na verdade, eles queriam ir além. Aprendendo com o Gold pós desejo de vingança, eles acreditavam com todas as suas forças que não iriam repetir o mesmo erro que ele cometeu. Que não se tornariam fracos em suas ambições e que poderiam superá-lo.
Com aquele sentimento revigorante, eles continuaram lendo.
“‘Você me perguntou por que eu não impedi seus massacres.’” Gold disse a Pemma, segundo o manuscrito.
“‘Porque na sua idade, eu não pude salvar ninguém. Eu nunca pude.’”
“‘E mesmo se pudesse… Eu não o fiz.’”
“Não sou um protetor como todos dizem. Não sou sequer um bom exemplo.’”
“‘Sou só alguém que foi odiado por nascer. E escolheu odiar de volta.’”
O silêncio que se seguiu àquela página foi absoluto.
Zao Tian sabia: o que acabara de ser revelado não era apenas uma parte do passado de Gold. Era a fundação do que ele se tornara. Contudo, para os irmãos, era mais uma confirmação de suas intenções deturpadas.
Gold não era um símbolo de paz, nem um justiceiro implacável.
Era um sobrevivente de um cerco espiritual perpétuo. Alguém reagiu ao mal com mais mal. Que suportou a fúria de um deus apenas para seguir existindo... como era.
Com os olhos fixos nas últimas linhas, os três irmãos permaneciam em silêncio, mas a mente coletiva borbulhava. A leitura estava longe de ser uma lição de moral ou um conto edificante. Para eles, aquilo era pólvora pura, combustível para um orgulho que nunca conheceu freio.
As páginas seguintes traziam uma tonalidade ainda mais densa, como se Pemma escrevesse com pressa, como se temesse esquecer o que ouviu.
“‘A verdade é que eu nunca me achei no direito de impedir ninguém.’”
“‘Porque eu também já fui deixado correr livre… enquanto um deus ria da minha dor.’”
“‘Heimdall não me odiava. Isso teria sido fácil.’”
“‘Ele se divertia. Como se um inseto ficasse interessante por sobreviver às pisadas.’”
“‘Tudo o que eu sentia era alimentado. Todas as dores aumentadas. E quando eu me mostrava indiferente, ele criava novas formas de me ver vacilar.’”
“‘Imagine crescer sabendo que nenhum abraço é seguro. Que nenhuma palavra gentil é verdadeira. Que todo gesto de afeto pode significar a morte de alguém.’”
“‘Você não aprende a amar, Pemma. Aprende a calcular. A medir palavras. A prever traições... de amigos que ainda nem nasceram.’”
“‘Você se acostuma com a solidão como quem se acostuma com o frio de uma cela. Primeiro você odeia. Depois tolera. E um dia... você a chama de lar.’”
Aquelas palavras não soavam como vitimização. Não havia autopiedade. Apenas realidade.
A mente da Trindade ardia com cada frase. Zao Tian sentia a temperatura emocional subindo, não pela tristeza, mas pelo entusiasmo sombrio.
Amin parecia admirar a frieza com que Gold descrevia sua vida destruída. Rachid permanecia absorvido, tentando compreender a lógica. Samir, no fundo, já transformava aquilo em aprendizado.
Aos olhos dos três… aquilo era uma fórmula.
“‘Heimdall me tirou tudo antes que eu soubesse o que era ter alguma coisa.’” Gold confessara.
“‘E não fez isso por temor. Fez por diversão.’”
“‘Por que alguém onisciente faria algo assim?’”
“‘Porque pode.’”
“‘Porque ninguém o impede. Porque nada o limita. Porque ele precisa se divertir.’”
“‘E eu fui o brinquedo dele por tempo demais.’”
“‘Eu não virei um justiceiro.’”
“‘Não me tornei o equilíbrio do mundo.’”
“‘Eu só quis parar de correr.’”
“‘E depois disso… começar a caçar.’”
Zao Tian sentiu o peso dessas palavras ressoarem na mente compartilhada. Os irmãos não se chocaram. Ao contrário: vibraram. Saltaram das cadeiras.
Eles compreendiam aquela raiva. Aquela vontade de revidar. De devolver o mundo à força que o esmaga.
“‘Você precisa entender, Pemma: eu não queria salvar ninguém. Eu queria ficar forte… o bastante para destruir o que me destruiu.’”
“‘Para esmagar o próprio deus que riu da minha dor.’”
“‘Heimdall criou o monstro.’”
“‘E eu não ia morrer antes de mostrá-lo o que seu monstro aprendeu a fazer.’”
Foi a última linha da página.
A escrita parou ali. Terminou como se aquela fase precisasse acabar naquele exato ponto.
O manuscrito continuava, mas aquela página era como o encerramento de um ato.
Contudo, Zao Tian sabia e os três também saberiam em breve que a parte mais importante daquela história ainda viria. A vingança de Gold. A forma como ele enfrentaria o próprio Heimdall.
Mas ali, naquela pausa incômoda, restava apenas a expectativa. E no caso da Trindade… uma interpretação completamente torta.
Eles não viam um homem que superou o trauma.
Eles viam um homem que se formou a partir dele. Um guerreiro sem limitações éticas. Um símbolo de liberdade através da destruição.
E essa era a versão de Gold que eles queriam imitar.
Não a do sorriso que Pemma tanto descrevera. Mas a do monstro frio que sobreviveu ao olhar de um deus… e prometeu devolvê-lo com juros.
Zao Tian suspirou em confusão.
A lição havia sido passada. Mas os alunos decidiram que não precisavam dela. Que já sabiam o que fazer.
E ao contrário de Gold, eles não parariam nem depois da vingança.
Eles a ultrapassariam.
Eles a usariam como escada.
E ali, em meio às comemorações dos irmãos, Zao Tian entendeu.
A Trindade não aprendeu com o passado.
Ela o transformou em combustível.
Ela o converteu em uma fúria de três mentes decididas a não repetir a falha que, aos olhos deles, Gold cometeu.
O erro de parar.
