Capítulo 0995 - Diferentes, Mas Iguais
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O silêncio entre os dois era quase insuportável. Toda hora ele acontecia, e sempre que vinha, carregava algo muito maior do que orgulho ferido. Era o silêncio entre dois mundos em colisão, o mundo do passado, de um império sustentado por títulos, e o do presente, forjado pela dor e pelo fogo de quem nasceu para ser esmagado e, mesmo assim, escolheu levantar.
Zao Tian, enraivecido de ter recebido de Yang Hao um sermão sobre colher o que plantou, deu um passo mais perto, agora tão próximo de Yang Hao que a distância entre eles não era mais física, era ideológica. Era histórica.
“Você quer saber por que eu não te respeito?” Zao Tian falou, com a voz baixa, mas firme: “Quer saber por que eu não vim quando fui chamado? Por que não me curvei como todos os outros que rastejam ao ouvir o título ‘imperador’?”
Yang Hao manteve os olhos fixos nos dele, impassível, mas a tensão em seu maxilar denunciava que ele não estava confortável. Ele sabia que o que viria a seguir não seria um simples ataque, seria a verdade nua, sem qualquer adorno.
Mesmo sem Zao Tian dizer, dava para ver em sua expressão o quão profundas eram as feridas.
“Porque, enquanto você sentava nesse trono e se enganava sobre estar fazendo o certo pelo seu ‘povo’...” Zao Tian começou, com a voz carregada de algo mais denso que raiva, era rancor: “Eu crescia como um escravo. Dentro dos seus domínios. Debaixo do seu brasão dourado. Eu, minha mãe, meu pai e meu irmão… todos com nomes apagados e mãos rachadas de tanto cavar, cortar, carregar. Nós éramos poeira nos olhos do seu império. E sabe o que é pior, Yang Hao?”
Ele fez uma pausa, com os olhos faiscando, antes de apontar para Yang Hao e despejar: “Seus soldados sabiam. Eles sabiam o que acontecia na Província Dourada. Sabiam das crianças sendo espancadas, das mães violentadas, dos homens sendo mortos como gado quando não rendiam o suficiente. E ninguém, NINGUÉM, nunca fez nada. Porque éramos ‘sem cultivo’. Porque não éramos úteis.”
Diante da fúria que transbordava a ponto de borbulhar pelo rosto de Zao Tian, Yang Hao, pela primeira vez, se sentiu encarando um vulcão em erupção e desviou o olhar por mais de uma fração de segundo. Foi sutil, involuntário, mas aconteceu.
“Você quer falar de confiança?” Zao Tian continuou, avançando ainda mais em seu tom: “Quando eu comecei a despertar, a renascer como um ser humano, sendo caçado para onde eu fosse… quando senti a energia espiritual pela primeira vez... ninguém veio me ajudar. Ninguém me acolheu. Pelo contrário… eu fui caçado com mais vigor.”
“Eu nunca quis ajuda naquela altura da minha vida. Eu só queria ser deixado em paz! Eu só queria viver em paz!”
Enquanto bufava de raiva, Zao Tian então levantou um pouco o queixo, com os olhos duros como pedra e acusadores como um juiz, e cravou: “Você me mandou matar, Yang Hao.”
Yang Hao arqueou levemente a sobrancelha, mas não falou nada. Ele sabia que não podia negar… ele lembrava da ordem. Mas não sabia quem era o garoto naquele tempo.
Zao Tian não parou por ali. Sua voz estava firme, sua expressão imutável, e tinha muito a dizer. O peso das lembranças o sustentava agora, e com uma memória fotográfica, elas nunca eram esquecidas.
“Departamento de Punição da Escola Estrela da Guerra. Eu estava lá. Um dos seus próprios territórios. Você apareceu para combater os alados, lembra? Uma presença imperial, um gesto nobre, um líder defendendo sua fronteira...” Ele deu uma risada curta, amarga: “E, no fim, mandou que matassem todos naquele lugar. Sem olhar. Sem distinguir. Porque para você, éramos apenas parasitas escondidos num buraco.”
Yang Hao fechou os olhos por um instante. A lembrança do ataque dos alados era nítida, e ele se recordava da ordem para limpar o setor. Mas, para ele, aquilo era um protocolo.
Com Yang Hao mantendo-se em silêncio, Zao Tian avançou ainda mais, não com o corpo, mas com as palavras: “Eu só sobrevivi porque alguém interveio. Alguém que viu mais em mim do que o lixo que sua Dinastia sempre me ensinou a acreditar que eu era.”
Naquele momento, Yang Hao finalmente cerrou os punhos e se aprontou para falar.
“Você fala de intervenções e ordens dadas como se o mundo fosse feito só de vítimas e vilões.” Yang Hao rebateu, com a voz mais fria agora: “Você acha que eu sabia quem você era naquele dia? Você acha que eu olho cada rosto no império, cada verme que rasteja sob o chão da Dinastia? Acha que um imperador pode carregar o nome de cada alma que sofre?”
“Não.” Zao Tian respondeu, sem pestanejar: “Mas é por isso que você não é digno de ser chamado de imperador. Porque o dia em que não se pode mais olhar para o que acontece sob seu próprio teto... é o dia em que não se tem mais o direito de comandar.”
“Você sequer se acha responsável pelas duas próprias ordens! Você ainda acha que pode justificar as mortes, ordenadas por você, de pessoas a quem jurou proteger… de malditas crianças!” Zao Tian terminou, quase berrando no final.
Os olhos dos dois se encontraram mais uma vez. E agora não havia mais qualquer espaço para meias palavras.
“Você quer entender por que eu ajo como ajo, por que eu não sigo as suas regras?” Zao Tian disse, erguendo o queixo com orgulho de quem se tornou, de sua história, de onde chegou: “Eu sou assim, porque fui criado num mundo em que suas regras me condenaram à morte antes mesmo de eu nascer.”
“Eu não tenho sua nobreza, Yang Hao. Eu não tenho etiqueta, mas você também não tem meu passado. Então não se atreva a me julgar como se fôssemos iguais.”
“Se alguém aqui deveria se ajoelhar para o outro, esse é você! E não por reverência, mas para pedir perdão! Tanto pelas suas ações quanto pelas suas omissões!”
Zao Tian apontava para o chão, como se mostrasse para Yang Hao o lugar que ele deveria tomar para ter um pouco do seu respeito.
Yang Hao, por sua vez, manteve os olhos fixos em Zao Tian durante todo o discurso. Aquilo não era apenas um desabafo: era uma acusação direta, um julgamento vindo de alguém que carregava na pele, nos olhos e na alma a marca das chamas que o império tentou apagar. Mas quando Zao Tian terminou, quando apontou para o chão e disse que ele, o imperador, deveria se ajoelhar, houve um instante onde o silêncio se distorceu em algo mais perigoso.
Não foi raiva. Não foi medo. Foi algo mais antigo. Foi memória. Um rancor recíproco.
Yang Hao inspirou profundamente e, por fim, respondeu. Não com grito, não com ofensa. Mas com a voz baixa, como se desenterrasse um cadáver que nunca desejou revisitar: “Você fala com a fúria de quem sofreu, e eu não nego a sua dor, Zao Tian. Eu não tenho o direito de negar.”
Ele reconheceu, antes de cruzar os braços às costas, mas não como um gesto de superioridade. Era mais como quem se prepara para enfrentar o próprio passado.
“Mas você precisa entender o que estava acontecendo antes de você nascer. Antes de você sequer existir como semente neste mundo.”
Os olhos do imperador brilharam com uma sombra que ele raramente mostrava, a sombra do peso que ele carregava: “Quando Pemma Wangchuck declarou guerra contra o mundo, Gold se omitiu. Sim, ele, o símbolo, o intocável. Ficou de lado. Ele viu pessoas serem exterminadas, cidades desaparecerem… e ficou em silêncio. E foi meu pai, Yang Zai, quem se levantou em meio àquilo. Não porque queria governar, mas porque ninguém mais quis proteger.”
Zao Tian o observava com atenção. Não interrompia. Mas também não baixava o olhar.
“Foi meu pai quem criou a Dinastia Yang. Não como símbolo de glória, mas como última linha de defesa. E sabe o que ele encontrou quando ergueu bandeiras, reuniu mestres, convocou exércitos?”
Yang Hao apontou para o nada, como se estivesse vendo tudo o que aconteceu.
“Encontrou mais omissão. Mais silêncio. E então, quando a guerra contra os deuses começou a surgir no horizonte… Gold desapareceu outra vez.”
Zao Tian franziu o cenho naquele momento.
“Você pode odiar este trono. Pode cuspir nesse brasão. Pode me odiar por não ter salvado você. Mas o que você não pode fazer, Zao Tian, é ignorar que este império foi erguido em meio ao abandono. Nós não somos filhos da luz. Somos filhos do desespero.”
Yang Hao, agora com o bastão da fala, deu um passo à frente agora, com a voz ainda firme e prosseguiu: “Quando Krishna ameaçou abrir o céu e queimar o mundo... meu pai foi quem fez um acordo com os deuses. Um acordo terrível. Mas necessário.”
Ele ergueu a mão direita, lentamente, como se cada dedo representasse o peso de um mandamento: “O imperador só poderia ter um filho. Apenas um. Para garantir que o sangue real jamais fugisse ao controle.”
“A Dinastia só poderia formar um número exato de cultivadores de nível Santo, e todos, todos, estariam sob supervisão imperial. Um número definido. Imutável. Controlado.”
Yang Hao fechou a mão como quem fechava uma armadilha sobre si mesmo.
“Isso foi escrito, assinado, selado com sangue. Porque Krishna não queria outro exército. Não queria outro exército capaz de se erguer contra os deuses. E meu pai aceitou, porque era isso ou o fim.”
Zao Tian estreitou os olhos.
“Você quer que eu tenha compaixão por isso?” Ele perguntou: “Quer que eu aceite o sofrimento de um império construído sobre cadáveres, sobre crianças acorrentadas? Sobre o sangue de quem você prometeu proteger?”
“Não.” Yang Hao respondeu com firmeza: “Quero apenas que você pare de fingir que carrega todo o fardo sozinho, que é tudo preto no branco.”
“Você não foi o único a enterrar a própria mãe, Zao Tian. Você não foi o único a sangrar pelo que não pediu. Mas você age como se tivesse nascido com a exclusividade do sofrimento.”
Os olhos dos dois voltaram a se cruzar com a força de mil batalhas.
“Eu mandei matar naquele dia, sim. E talvez tenha condenado o único garoto que um dia mudaria o curso da história. Mas naquele momento, naquele inferno de sangue e asas negras, eu segui as regras que me foram impostas. Regras que eu odeio tanto quanto você odeia este brasão. Mas que até aquele momento sustentavam a muralha que impedia o mundo de afundar de vez.”
Zao Tian escutou, e para ser sincero, não esperava um discurso tão direto. Muito menos que Yang Hao assumisse as ordens e não se escondesse atrás de desculpas frágeis.
O imperador, por sua vez, fez como Zao Tian quando estava acusando. Ele deu um passo mais perto, agora a centímetros dele.
“Você me odeia por não ter salvado você. Eu entendo. Mas você me julga como se o sangue em minhas mãos fosse escolha. Quando, na verdade… ele foi inevitável.”
Zao Tian o encarou e apertou os punhos, engolindo a respiração. Ele ainda não cederia. Ele ainda não aceitava, mas pela primeira vez… sentiu que Yang Hao não era apenas o homem sentado no topo. Era um homem enterrado sob tudo que herdou. Era outro homem com um destino escolhido por outros.
