Capítulo UHL 1020 - Carrasco
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Alguns momentos antes de sua primeira aparição no maior ataque ao Olho que o universo testemunhou até hoje, Zao Tian, que nunca foi um homem de salas de guerra, estava com centenas de pensamentos e previsões sendo processadas ao mesmo tempo em seu cérebro. Quem o conhecia de verdade, e eram poucos, sabia que trancar aquela força em quatro paredes era grande desperdício, mas, naquela hora, ele estava, sim, numa sala de guerra improvisada, dentro de uma ruína silenciosa, no centro de um ataque universal, recebendo relatórios de várias bocas ao mesmo tempo.
Enquanto escutava cada relato, Zao Tian não respondia de imediato. Ele apenas assentia, um gesto mínimo, com a cabeça baixa, o corpo apoiado numa pedra, e o olhar tão distante que fazia qualquer homem que pudesse vê-lo pensar que ele não estava ouvindo nenhuma sílaba.
À esquerda, Gold estava recostado contra uma parede, com os braços cruzados, expressão de tédio, mas os olhos fixos em Zao Tian, como se procurasse um fiapo de fraqueza em cada músculo do rosto dele. Quando um dos mensageiros terminou de falar sobre a concentração das tropas do Olho, uma grande parte da força real do inimigo reunida em Karun após a partida de Daren, Gold soltou um riso curto e zombeteiro.
“Eles correram para Karun como baratas na luz. Era isso que você queria, não é, moleque!?” Gold comentou.
Zao Tian não o olhou. Apenas fechou os olhos por um instante e revisitou na mente o Vale da Esperança, de como ele ficou depois do ataque do Olho, por pura crueldade. Ele parecia escutar gritos que ninguém mais escutava.
“Sim…” Zao Tian finalmente respondeu, com a voz seca, sem orgulho ou vaidade. Apenas indiferente e motivado.
Gold ergueu uma sobrancelha, erguendo-se da parede bem devagar enquanto falava: “Há milhões de anos eu assisto guerras. Vi deuses chamarem a si mesmos de salvação. Vi mortais se ajoelharem por promessas de paz…”
“Eu vi os tolos e os valentes...”
“Eles sempre surgem em todas as eras, mas no fim, tudo volta ao pó. A bondade ou a maldade morrem com eles e reencarnam em outros. Esse é o ciclo natural das coisas.”
“Mas esses três…” Enquanto discursava, Gold fez uma breve pausa e cuspiu as palavras como quem escarra veneno ao continuar: “Protótipos de diabos... Eles não matam só por poder. Eles cavam buracos na mente dos fracos para multiplicar sua podridão. Eles são maus.”
“Eu odeio algumas coisas neste mundo… Eu odeio os deuses com todas as minhas forças e vejo neles a personificação da maldade… Mas eu posso dizer, hoje, que aqueles três estão começando a ganhar um lugar especial ao lado daquela raça maldita.”
“Suas motivações são dúbias, moleque! Você quer matá-los para salvar quem restou enquanto se vinga de quem foi machucado por eles, incluindo seu próprio orgulho.”
Enquanto escutava, Zao Tian ainda não olhou para Gold. Ele ficou olhando para o vazio, e, apenas depois daquela última frase, ele fez uma interrupção, dizendo: “Eu realmente não estou indo salvar ninguém, Gold. Não sou tão bom assim, e eu tenho consciência disso.”
Zao Tian respirou, pesado, como se mastigasse as últimas palavras antes de cuspir a verdade que guardava só para ele: “Eu vou matá-los porque porque o que eles fizeram no Vale da Esperança... não pode ficar sem resposta. Quem eu libertar... que faça o que quiser depois. Não me importa. A única coisa que eu quero é punir aqueles três até que eles não tenham outra escolha a não ser me enfrentar cara a cara.”
Gold o escutou em silêncio, com o peito se movendo apenas quando bufou, como um cão velho impaciente. O brilho impessoal dos olhos dele cintilou na penumbra da ruína, e por um momento, um raro momento, seu deboche sumiu, substituído por uma quietude que poucos teriam o privilégio de testemunhar.
“Punir...” Gold repetiu, saboreando a palavra como quem testa uma moeda antiga entre os dentes. Ele então inclinou o queixo, deslocando-se para ficar à frente de Zao Tian, próximo o bastante para que, se fossem de carne, um pudesse sentir o hálito do outro.
“Você fala como se isso fosse resolver alguma coisa, moleque.” Gold disse, sem tom de riso, mas também sem tom de sermão. Era um fato nu, jogado na cara de um filho que não precisava de lição.
Zao Tian ergueu o olhar, pesado, sólido como uma pedra posta há milênios na beira de um abismo. Ele não respondeu. Não precisava.
Gold estalou a língua contra o céu da boca, um som seco que ecoou dentro da mente de Zao Tian mais do que nas paredes quebradas da ruína.
“Eles não são monstros dignos de medo... são vermes. Com técnicas que fedem tanto quanto apodrecem. Você pode esmagar cada um deles como se faz com vermes, e ainda assim o mundo vai continuar igual. Porque o mundo sempre volta a ser sujo, moleque.”
Zao Tian respirou, mas dessa vez a respiração parecia ter fogo dentro. Um fogo que não queimava para aquecer, mas para devorar.
“Então eu limpo o suficiente para enterrar esses três. O resto... que se suje de novo se quiser.” Ele respondeu.
Gold balançou a cabeça, com um sorriso nascendo no canto da boca, quase satisfeito, quase orgulhoso, mas jamais admitiria isso em voz alta.
“Então que isso aqui não vire sermão de salvador, moleque. Vai lá e faz direito. Nada de espetáculo, nada de misericórdia. Só ossos quebrados e mentiras expostas até o último sopro desses ‘protótipos de diabos’.” Gold comentou, quase incentivando.
Zao Tian fechou os olhos por um segundo, absorvendo as palavras de Gold, e depois respondeu: “Quando eu terminar…”
Nesse instante, antes que pudesse completar a frase, um pedido distante, de Hakim chegou ao seu amuleto de transmissão sonora.
E Zao Tian, sem qualquer hesitação, apenas foi para lá.
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Quando atravessou o vazio até Karun, Zao Tian não contou a distância, não mediu o tempo. Ele não era uma flecha viajando ao alvo: ele era a mão que já estava lá antes da flecha nascer.
Enquanto o planeta se descascava debaixo do sol e das areias salgadas, Zao Tian flutuou sobre o campo de batalha, sem nem notar os olhos que se erguiam. Para ele, eram apenas partes do cálculo maior: cada vida, cada corrente, cada espinho da Marca de Controle que precisava ser esmagado.
Libertar? Talvez. Estratégia? Sempre.
Não seria hipocrisia, porque escravos livres sangram o inimigo por dentro. E os que sobrevivessem, muitos viriam lutar por ele, ou pelo menos temer repetir o que sofreram. E isso bastava.
A Árvore Sagrada pulsava debaixo da carne dele como um coração adicional. Ele sentia cada soldado tocando o talismã, absorvendo cura e recebendo um fôlego novo. Sentia o ódio que se dissolvia em força. E ele devolvia tudo isso multiplicado, sem uma gota de hesitação.
Enquanto praticamente passeava por um campo de batalha onde muitos colocavam suas vidas em jogos, a cada toque seu, a Marca de Controle gritava, mas morria como uma cobra pisoteada.
A cada suspiro de quem era liberto, Zao Tian não pensava em gratidão… pensava em uma estatística, um fragmento do Olho se quebrando.
Era cru? Era. E era necessário.
Quando Hakim chamou, engolido em mil Santos que avançavam como moscas sobre carne, Zao Tian ouviu. Mas não respondeu com palavras. Respondeu com presença. Ele foi o clarão que rasgou a muralha de corpos, a mão que tocou testas e peitos, quebrando as Marcas como quem quebra brinquedos velhos.
A guerra não parava, mas o medo mudava de lado.
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Enquanto Zao Tian devastava sua rede de escravos, Garun Vhas caiu do céu de novo, após ser reconstruído por mais uma Pedra do Regresso, por causa da sua última morte pelas mãos de Jaha.
Quando bateu na areia e ergueu o rosto para ver o que estava acontecendo... o que Garun Vhas viu congelou o último traço de comando e orgulho que ainda pulsava em sua mente retorcida. Seus escravos… Seus exércitos… Estavam sendo libertos um a um. Seus cães estavam se tornando homens de novo.
Garun Vhas estava tremendo enquanto seus pulmões, recém-regenerados, puxavam o ar salgado de Karun como um animal afogado. Sua visão ainda tremia, manchada de sangue coagulado que se soltava aos poucos das fissuras que Jaha havia aberto em seu crânio.
Ele tentou erguer o braço, só para apoiar o peso do próprio corpo, apenas isso, mas antes que pudesse, o som chegou até ele. Não um grito, não um estrondo, mas um silêncio que soava pior do que qualquer morte: o silêncio de centenas de escravos que, um a um, abdicavam de lutar.
O eco de correntes mentais se partindo rasgou a mente de Garun como ganchos puxando suas sinapses. Suas pupilas encontraram, ao longe, manchas de homens ajoelhados... homens que deveriam ser muralhas vivas... mas que agora respiravam como crianças livres.
“Não... Não... Não, não, não, NÃO!” O ódio de Garun fervia. Ele praguejou, cuspindo areia misturada com o fel do medo que finalmente se infiltrava onde antes só havia arrogância. Ele pressionou a mão direita na testa, ativando a a Marca de Controle da Alma, a mesma que, em tese, deveria ser absoluta.
Ele então rosnou, cuspindo as ordens para o nada, para que cada escravo, ainda restante, sangrasse até a morte: “QUEIMEM-SE! ESTOU ORDENANDO! EXPLODAM SUAS PRÓPRIAS ALM…”
Antes que pudesse terminar, Garun Vhas congelou, com a garganta travada no meio da ordem de morte que pretendia cuspir. As palavras morreram na sua língua enquanto uma fisgada absurda, quente e fria ao mesmo tempo, rasgava da ponta de seus dedos até o ombro.
Ele piscou, apenas uma vez, e viu sua mão direita passar diante dos seus olhos e cair na areia branca de sal. Um segundo depois, o braço inteiro a seguiu, despencando como um tronco podre. O sangue brotou em jatos, mas o choque congelou qualquer grito.
Instintivamente, seu corpo ainda acreditava em poder. Ele girou o ombro esquerdo, tentou erguer o outro braço, mas o som veio primeiro: um baque seco no ar. E quando ele olhou para a esquerda, a sua mão esquerda rolou na areia, girando como uma pedra pontiaguda antes de parar aos seus pés. O braço, inútil, tombou junto, deixando fios grossos de sangue manchando seu peito nu.
Garun Vhas arregalou os olhos, com os músculos da mandíbula batendo como madeira rachada. Ele tentou se mover, recuar, rugir, qualquer coisa. Mas o chão pareceu subir de repente, enquanto sua cabeça se inclinava. Ele não entendeu no primeiro instante, mas suas pernas, seus pés, não estavam mais lá para sustentá-lo.
O tronco afundou na areia como um saco de carne, respingando sangue fervente num círculo ao redor. Ele arfou, cuspindo um urro parecido com o último esforço de um animal.
Foi só então, entre borrões vermelhos e o tremor do desespero, que Garun viu o responsável por tudo aquilo que estava acontecendo com ele.
Zao Tian estava parado a poucos passos dele, como se tivesse brotado do ar ou sempre estivesse ali. Ele não empunhava arma alguma e não carregava expressão de ódio, mas havia algo nos olhos dele que rasgava mais fundo que qualquer lâmina: a sentença de que aquilo não era uma luta, era uma limpeza.
Zao Tian se agachou levemente, não para aproximar-se, mas para garantir que Garun, já tombado como um verme mutilado, o ouvisse perfeitamente.
A voz dele saiu tão baixa que pareceu um sussurro engolido pelo vento de Karun: “Nem mil Pedras do Regresso vão te salvar de novo, verme. Acabou.”
Apavorado, Garun tentou abrir a boca, com o maxilar tremendo, mas tudo o que saiu foi um som úmido, misturado com o chiado de um pulmão furado que ainda insistia em funcionar.
Zao Tian, por sua vez, não sorriu, não ofereceu uma última palavra de misericórdia. Apenas se ergueu devagar, com o sangue de Garun salpicando a barra de sua roupa, ignorado como poeira sem importância.
Atrás dele, cultivadores libertos, agora homens e mulheres que respiravam sem correntes, olhavam aquela figura parada sobre o monstro que antes chamavam de senhor. Nos olhos deles não havia alívio, nem gritos de vitória. Havia silêncio, o mesmo silêncio que, em guerra, significa que alguém verdadeiramente venceu.
Zao Tian girou o rosto uma última vez, apenas para encarar o tronco tremendo que ainda se atrevia a engasgar ameaças. Seus olhos cravaram nos de Garun Vhas e, naquele instante, o cultivador mutilado entendeu que seu nome não seria lembrado como um coordenador supremo, mas como um aviso para todos que ousassem acreditar que podiam prender homens como cães.
E junto ao último suspiro de Garun Vhas, Zao Tian desapareceu do ponto onde estava, como se fosse tragado por uma fenda de vento.
O trabalho dele em Karun tinha terminado.
