Capítulo UHL 1021 - Dilema
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Na fratura do espaço onde Karun ainda fervia, o ar preencheu o vazio no exato instante em que Zao Tian se moveu. Não houve rastro, não houve clarão dramático, apenas um ponto antes ocupado por ele, e depois… nada.
A viagem, se assim pudesse ser chamada, não foi um deslocar: foi um acordar instantâneo em outro ponto do universo. Um ponto que, aos olhos de qualquer um, deveria estar em guerra, mas que para Hildeval e Ryuuji, aquilo já era uma lápide aberta para o Olho.
Após ser chamado para ver algo muito importante ali, Zao Tian pousou numa saliência rochosa de um penhasco irregular, que delimitava o que antes parecia ser uma base subterrânea, agora exposta como uma ferida aberta. O vento trouxe o cheiro de ferro queimado, carne rasgada e cinzas. Corpos, muitos deles ainda fumegantes, estavam espalhados em fileiras improvisadas por explosões de relâmpago e lâminas de vento que arrancaram homens inteiros do chão.
Abaixo, Ryuuji cravava sua espada no peito de um sobrevivente, o último de uma fileira. Hildeval,com seus cabelos colados pelo suor, pisava sobre um aglomerado de cadáveres com a tranquilidade de quem pisava em uma ponte.
Quando Zao Tian surgiu, Ryuuji ergueu os olhos primeiro com o rosto sério, mas não surpreso. Já Hildeval sorriu, um sorriso feio, quebrado por rastros de sangue que não era dele.
“Chegou rápido, Tian.” Hildeval disse, cuspindo para o lado antes de limpar o sangue que escorria da têmpora.
Zao Tian não respondeu imediatamente. Seus olhos estavam em tudo: na devastação, nas marcas de relâmpago queimado que rachavam até as rochas, no cheiro de sangue e carne. E, então, na estrutura aberta ao centro da base, onde um clarão artificial piscava como um coração maligno.
Hildeval seguiu o olhar dele, respirando fundo como se tentasse se limpar por dentro também.
“Lá embaixo. Achamos um galpão… ou melhor, uma fazenda de abominações.” Hildeval falou, explicando a razão de ter chamado Zao Tian.
Ryuuji aproximou-se, com as botas esmagando ossos no caminho. Depois, ele falou baixo, sem rodeios: “Clones. De nós. De Hakim, Yang Hao, Yan Chihuo… até de Momoa. E... de alguns de nós mesmos.”
Depois de escutar aquilo, Zao Tian permaneceu imóvel por um segundo que parecia conter séculos. Depois, ele desceu. Não andou, apenas apareceu ao lado do portão retorcido, passando por Hildeval e Ryuuji como se não fossem mais que fragmentos de poeira.
No local alvo, o interior ainda pulsava. Os tanques de incubação, conectados por tubos tão finos quanto fios de cabelo, abrigavam corpos inacabados e outros quase adultos, alguns mais velhos, alguns claramente ainda crianças. A solução nutritiva que os alimentava era tão limpa que o reflexo do rosto de Zao Tian dançava na superfície, misturado com feições familiares: o olhar de Hakim, a mandíbula firme de Yan Chihuo, a serenidade cruel de Momoa congelada em rostos que ainda não tinham história para contar.
E então… Num canto, como um insulto ao conceito de humanidade, corpos menores, que não eram apenas crianças, mas rascunhos, com fragmentos do que poderia ter sido Ryuuji, Hildeval, Ragnar, Singrid, Kyon… todos. E, finalmente, dois tanques, lado a lado, rotulados com um símbolo que Zao Tian reconheceu instantaneamente: um para Jaha, outro para ele mesmo.
Os clones estavam vivos, mas não respiravam como os guerreiros no quais eles foram baseados. Respiravam como gado, com olhos opacos. Eles eram objetos, armas.
Com um olhar indecifrável, Zao Tian encostou a palma em seu próprio tanque, encarando a versão infantil dele mesmo que boiava imóvel, com tubos ligados à coluna, à nuca, ao coração que batia lento demais para ser humano.
Ryuuji parou ao lado dele. Sua voz, geralmente tão viva, naquele momento era apenas como uma lâmina embainhada, fria e insensível: “Esses dois... não têm Veias Espirituais. Não são nada. São carne... esperando alguém descartá-los ou conduzir experimentos com eles.”
Hildeval, por sua vez, bufou atrás: “Você não vai querer estudar isso, vai?”
A provocação era ácida, mas dentro dela vibrava uma tensão que Zao Tian sentiu como um soco no estômago. Aquilo era como um ataque que não podia ser mais pessoal. Era ele ali… a versão mais pura, fraca e sincera de sua existência.
Zao Tian fechou os olhos e respirou fundo. Por dentro, ele revisitou seu passado: o lixo de onde saiu, as correntes invisíveis, mas reais, a peculiaridade de ser nada até que a centelha de Gold o tornasse alguém. E agora, ver aquilo… a reprodução de um nada, moldada para ser um receptáculo… era revoltante.
A respiração de Zao Tian reverberava nas paredes do galpão. Não era barulhenta, mas densa. Era a respiração de alguém que tentava conter um vulcão acordando dentro do peito. Ele manteve a mão sobre o vidro do tanque onde seu clone boiava, imóvel, sem sonho algum, porque não havia alma ali, só carne copiando a carne.
Atrás dele, Ryuuji girou a espada, limpando uma crosta de sangue já seco na lâmina. Ele não disse nada, mas a tensão em seus ombros denunciava o mesmo incômodo: aquilo não era um campo de batalha, era uma câmara de horrores.
Hildeval, por sua vez, respirou fundo, tirou um cigarro amassado da armadura e o acendeu sem qualquer cerimônia, soprando a fumaça para longe do tanque. Seus olhos passeavam pelos corredores de vidro e fluído translúcido como quem encara uma ninhada de ratos.
“Eles finalmente acharam uma forma...” Hildeval começou, cuspindo o cigarro para o chão e pisando em cima dele com raiva: “Antes, eles precisavam de barrigas de aluguel. Mas isso... isso é diferente. Isso é máquina. Uma máquina de incubação.”
Zao Tian escutou, mas não o interrompeu. O ar ao redor dele parecia vibrar. Cada respiração que ele soltava, condensava partículas de energia tão intensas que rachaduras minúsculas se formavam no vidro do tanque.
Ryuuji, finalmente, soltou o pensamento engasgado que segurava desde que viram aquilo: “Não são só soldados. Isso aqui... é um aviso. Eles podem fabricar qualquer um. Nós, Hakim,Yang Hao, Yan Chihuo, Momoa... você. Se quiserem, podem refazer qualquer coisa. E talvez até melhorem. A longo prazo...”
Ele não terminou. A frase morreu, porque não precisava ser completada.
Zao Tian então retraiu a mão, observando o clone dele mesmo flutuar como um boneco inacabado. Ele caminhou por entre os tanques, parando diante de cada réplica: um Hakim com a fisionomia calma, um Yang Hao travado numa expressão de fúria, um Momoa ainda sem músculos plenos, mas com o contorno já monstruoso.
Em cada tanque, ele via não apenas um risco militar, mas uma afronta pessoal. Um escarro na dignidade do que significa existir.
Hildeval, que andava a passos lentos atrás dele, rosnou: “São só pedaços de carne, Tian. Um espasmo de vida forçada... Mas olhe pra eles... São tão parecidos que faz a gente duvidar, não é?”
Zao Tian parou, respirou fundo, e finalmente virou-se para os dois. Quando falou, a voz dele era baixa, mas tão pesada que parecia carregar ferro derretido em cada sílaba: “Eles respiram. Mesmo assim... são o quê? Propriedade? Recurso? Rascunhos? Não. São gente. Gente sem chance, gente feita pra ser ferramentas.”
Ryuuji cruzou os braços, firme e falou o inevitável: “Eu entendo, mas eles não podem sair daqui. Se forem soltos, quem garante que o Olho não tenha codificado alguma falha, alguma... obediência escondida? Você sabe que isso é mais do que uma possibilidade.”
Zao Tian sabia. Aquilo era o pior de tudo. Mesmo se libertasse aqueles seres, mesmo que alimentasse, ensinasse... eles carregariam uma parte do Olho dentro deles, talvez para sempre. E um só comando, em uma mente errada, poderia ser um buraco fatal nas defesas que tanto sangue foi derramado para erguer.
Ele passou os olhos pelos clones novamente, um por um, como se gravasse cada rosto para não esquecer. Depois, sua mão fechou num punho, tensa o bastante para estalar ossos.
“A família Shui entregou isso ao Olho... Tecnologia que arranca do útero a única coisa que ainda era humana nesse processo.” Ele cuspiu as palavras como ácido, e continuou: “Agora não precisam mais de hospedeiras. Só precisam de um fragmento de sangue, um pelo, um osso... e pronto: um exército feito de sombras do que somos pode ser erguido.”
Ryuuji soltou o ar, concordando em silêncio. Hildeval apenas deu de ombros, mas não escondeu o alívio em não ter que decidir.
Zao Tian então se aproximou do centro, erguendo o braço. A energia ao redor dele pareceu afundar as paredes, como se a própria base dobrasse sob a densidade de um sol. A luz que brotou dele não era relâmpago, nem chama, era pura energia. Um clarão que se condensou num vórtice que rodeou cada tanque, cada tubo, cada organismo suspenso em fluído.
Então, antes de liberar, Zao Tian olhou uma última vez para os dois, e sua voz soou como um julgamento final: “Se alguém tiver problema com isso, diga agora. Ou cale a consciência pra sempre.”
Hildeval sacudiu a cabeça, Ryuuji não respondeu, apenas se afastou, cravando a espada no chão como um marco de respeito.
Zao Tian então fechou os olhos. E, quando abriu, a câmara se iluminou e cada clone se desfez numa chuva de partículas que não caiu, apenas sumiu, apagada como uma mentira diante da verdade. Não houve nenhum grito, nenhum último suspiro. Só silêncio.
Quando tudo cessou, a base inteira parecia mais leve, mas o ar sobre os ombros de Zao Tian era bem mais pesado.
Ele se virou de costas, passando pelos dois como se fosse parte do vento e falou: “E que isso seja o último suspiro deles em qualquer época.”
Ao terminar de dizer aquilo, Zao Tian desapareceu, sem olhar para trás.
