Capítulo UHL 1064 - Pesado
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O silêncio era insuportável. Não o silêncio do vazio ou da ausência de sons, mas aquele silêncio sufocante, corrosivo, que preenchia o espaço entre os dois oponentes prestes a colidir. Grasel girava lentamente seu nunchaku, com o metal envolto por relâmpagos azuis que estalavam e queimavam, distorcendo o espaço à sua volta, enquanto Ming Xiao segurava suas adagas, Ununpentia e Ununtria, que brilhavam com uma luminosidade mortal, com uma promessa de morte em cada segundo que ficavam expostas.
Quando o silêncio finalmente foi quebrado, a brutalidade do primeiro choque foi muito maior do que qualquer expectativa pudesse prever.
Ambos avançaram ao mesmo tempo.
As lâminas de Ming Xiao cortaram o espaço à sua frente como navalhas feitas de luz tóxica, liberando ondas invisíveis de radiação que transformavam cada molécula de ar em um perigo letal. Grasel respondeu imediatamente, lançando o nunchaku como uma serpente, com o impacto colidindo contra as adagas com uma força capaz de pulverizar montanhas.
*Baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaang!*
O impacto entre as armas explodiu com tamanha força que cada pedaço de rocha ao redor foi vaporizado instantaneamente, deixando para trás uma nuvem de partículas em chamas. Mas nenhum deles recuou nem um centímetro sequer.
Grasel sentiu nos ossos a violência do golpe de Ming Xiao. Aquilo, definitivamente, não era como os golpes de Yang Chao, que já eram pesados, brutos e diretos. Estes novos golpes eram algo completamente diferente, perversamente poderosos. Cada contato com as adagas de Ming Xiao parecia desencadear uma série de explosões internas, destruindo suas células e causando uma dor absurda e insuportável. Além disso, havia o peso…
O peso de um ataque de Ming Xiao era tão grande que faria a maioria do cultivadores da vida se arrependerem de ter nascido.
"Maldição!" Grasel praguejou no instante em que seus golpes se encontraram, sentindo a pele do seu braço esquerdo praticamente derreter ao contato próximo com as adagas. Mesmo sua poderosa regeneração teve dificuldades em lidar com aquele tipo de ferimento.
Contudo, ele não podia parar.
Além das ordens que recebeu, para ganhar tempo, ele realmente queria viver aquele momento. Lutar aquele combate.
Movido pela adrenalina, Grasel acelerou, aumentando drasticamente o volume de relâmpagos ao redor de seu corpo. Seus golpes ficaram muito mais rápidos e ferozes, fazendo as adagas de Ming Xiao não encontrarem o alvo brevemente.
Porém, Ming Xiao era, de fato, algo diferente dos outros dois.
Ele não era um cultivador comum, não era um guerreiro comum. Ele era, naquele momento, um verdadeiro rei em batalha. Com uma calma assustadora, Ming Xiao passou a manipular algo que fez Grasel arregalar os olhos de surpresa.
Sua energia espiritual, verde e densa, começou a se solidificar no espaço ao redor.
Grasel foi frustrado em seus ataques repetidas vezes, por algum tipo de barreira energética e ao mesmo tempo sólida.
"Aquilo é… impossível!" No último ataque colidiu contra uma daquelas barreiras, Grasel murmurou, vendo pela primeira vez na vida um cultivador transformar energia de vida em algo sólido, literalmente palpável.
Na frente dele, Ming Xiao não apenas solidificava sua energia espiritual; ele a moldava em estruturas resistentes, paredes compactas e barreiras que bloqueavam e absorviam os ataques de Grasel, roubando dele qualquer vantagem de velocidade ou agressividade.
Ming Xiao não teve mudança alguma em sua aparência, mas para Grasel, parecia que aquele homem ficava maior a cada golpe que defendia.
"Essa é a verdadeira essência do elemento vida." Depois de bloquear alguns golpes, Ming Xiao falou de maneira firme e solene, sem arrogância, apenas com a autoridade de quem realmente dominava algo que parecia inalcançável: "A energia que cria e mantém… também pode ser a mais impenetrável das defesas."
Grasel, em seu primeiro acesso de raiva e incredulidade desde que se revelou, avançou novamente, com seu nunchaku girando com uma intensidade nunca antes vista, criando um vórtice elétrico gigantesco à sua volta.
*Craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash…*
O impacto contra a barreira de Ming Xiao explodiu como o rugido de um deus enfurecido, a barreira verde rachou, e Grasel descobriu, naquele momento, a força que deveria usar para se aproximar de Ming Xiao. E não era pouca.
Grasel recuou por uma fração de segundo após o último impacto, apenas o suficiente para reformular seu ataque. Seu braço direito tremia, não de medo, mas da tensão constante que suas células enfrentavam ao serem danificadas e regeneradas de forma quase simultânea. As vestes dele já estavam em farrapos, queimadas pelas próprias descargas elétricas que envolviam seu corpo. Sua respiração era pesada, mas não vacilava.
Ming Xiao, por vez, avançou novamente, e cada passo seu era como uma declaração: ele não recuaria, não iria se conter e não erraria. As adagas Ununpentia e Ununtria zumbiam com a vibração da radiação instável, abrindo fendas sutis no espaço ao redor sempre que se moviam. Em um dos ataques, uma delas cortou o ar de raspão, e mesmo sem atingir diretamente Grasel, a radiação foi o bastante para que a pele do oponente inchasse e necrosasse por alguns segundos.
"Ele não precisa me acertar..." Grasel pensou, com os olhos preocupados por causa do perigo: "Só de estar perto… eu estou sendo corroído!"
Mesmo com essa constatação, ele rugiu e girou o nunchaku com uma violência absurda, lançando dezenas de investidas consecutivas que criaram arcos de eletricidade de longo alcance. As correntes elétricas dos golpes ricocheteavam nas barreiras esmeraldas que Ming Xiao erguia, rachando algumas delas, outras sendo desviadas, e uma, finalmente, atravessando uma das camadas e acertando o ombro de Ming Xiao.
*Baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaang…*
O corpo do rei do Vale da Esperança foi lançado para trás, arrastando-se por vários metros no espaço antes de girar no ar e estabilizar-se. Um filete de sangue escorreu por seu braço… e evaporou segundos depois, queimado pela própria radiação que circundava sua pele.
Grasel sorriu, achando que finalmente havia encontrado uma brecha.
Mas Ming Xiao, ao olhar para o ferimento, respondeu com uma calma que não fazia sentido para quem acabara de sofrer um dano…
"Bom golpe. Mas você vai precisar de muitos desses."
Ming Xiao falou aquilo como se estivesse medindo a força do oponente, e no instante seguinte… ele avançou.
*Krrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr…*
O som das adagas cortando o espaço precedeu a ofensiva.
Grasel tentou recuar, se reposicionar, mas já era tarde. Uma série de desvios de trajetória de Ming Xiao o colocou diretamente atrás do inimigo. Uma das adagas atingiu o braço de Grasel de raspão, arrancando não apenas carne, masa conexão com seu sistema nervoso. O braço parou de responder por instantes, como se houvesse esquecido como se mover.
"AHHHHHHHHHH!" Grasel urrou, forçando o nunchaku a se mover com a mão restante. Ele girou o corpo, num golpe que poderia despedaçar um planeta se atingisse, mas Ming Xiao se abaixou, desviando por centímetros, e em seguida cravou uma das adagas em uma das pernas do oponente.
*Booooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooom…*
A explosão de energia radioativa fez a carne ao redor da lâmina se soltar como se tivesse sido derretida por ácido.
Grasel gritou mais uma vez, recuando com o corpo desequilibrado e a perna esquerda quase sem controle. Mesmo assim, sua regeneração entrou em ação, e em poucos segundos os tecidos estavam se recompondo… mas a dor, a dor estava ali, persistente, insuportável.
“Você sente, não sente?” Ming Xiao perguntou, girando lentamente suas adagas enquanto a radiação formava um campo ondulante ao redor de seu corpo: “Essa é a diferença entre lutar contra alguém forte… e lutar contra alguém que sabe como transformar sua força em verdade.”
Grasel rangeu os dentes, sem dizer nada. Ele usou a própria raiva como catalisador e elevou seu relâmpago ao máximo, criando múltiplas cópias de si mesmo feitas de pura eletricidade.
As cópias avançaram em todas as direções, e uma tempestade de explosões tomou conta do campo de batalha. As adagas de Ming Xiao começaram a girar em movimentos cada vez mais rápidos, e sua energia se espalhou em uma teia protetora que envolveu seu corpo como uma segunda pele, densa, maleável e absolutamente mortal para qualquer coisa que ousasse tocá-la.
As cópias começaram a se desfazer antes mesmo de chegarem perto demais. As que tentaram atacar pelas laterais viram seus golpes atravessarem uma barreira tão compacta de energia que pareciam tentar esmagar um diamante com os punhos.
Então, quando a última cópia explodiu, Ming Xiao surgiu novamente, já em cima de Grasel.
*Paaaaaaaaaaaaaa…*
O som do impacto foi abafado, mas devastador. Um chute direto no abdômen de Grasel lançou o guerreiro pelos céus, atravessando asteroides e deixando um rastro de plasma em combustão no vácuo.
Quando Grasel se estabilizou, tossindo sangue e tentando controlar a respiração, sua expressão não carregava mais a arrogância de antes… mas, sim, um foco brutal e obstinado.
“Então é isso que você é…” Grasel cuspiu um misto de sangue e saliva, deixando uma linha escura flutuar no vácuo: “Um rei com cara de mártir e alma de carrasco.”
Ele ainda girava o nunchaku com firmeza, mas os pequenos espasmos no ombro denunciavam o que sua boca jamais admitiria. As correntes musculares do seu corpo já haviam ultrapassado o limite do que era aceitável. A regeneração trabalhava sem trégua, reconstituindo o que podia, ignorando o que não dava tempo. Não havia mais tecido intacto, apenas uma sucessão de consertos apressados.
Ming Xiao não respondeu de imediato. Suas adagas vibravam com radiação estável, formando uma cortina ondulante ao redor de seu corpo. Ele também estava sendo ferido o tempo todo, mas seus movimentos eram firmes e disciplinados. Seu corpo havia aprendido a lidar com a dor, e sua energia não oscilava nem por um segundo.
Grasel voltou a falar, com um meio sorriso sarcástico nos lábios rachados:
“Que tipo de rei abandona seu trono pra brincar de guerreiro no espaço?”
Ming Xiao ergueu levemente o queixo e respondeu: “Estou aqui justamente pra evitar que o meu povo tenha que olhar para a sua cara.”
Grasel gargalhou, não uma risada de deboche, mas um som mais parecido com uma bufada, impaciente, como se a arrogância do adversário fosse combustível para mais raiva.
“Você fala como se tivesse vencido alguma coisa. Tá vendo essas marcas no meu corpo? Metade é tua. A outra metade... é de três Guardiões Imperiais que eu fiz sangrar antes de chegar até aqui. E quer saber? Você ainda não me venceu.”
Grasel, depois de dizer aquilo, deu um passo para frente, com as faíscas azuis serpenteando como cobras famintas por seus braços e peito. O calor do próprio relâmpago fazia sua pele crepitar, e a intensidade aumentava a cada respiração. Seu olho direito já tremia por causa do esforço prolongado. Ele não sentia o antebraço esquerdo com precisão. Mas estava ali. Inteiro o suficiente para matar.
Ming Xiao respondeu apenas com um movimento. Ele ergueu uma das adagas e apontou para Grasel, não como um desafio cerimonial, mas como uma ameaça simples, direta, de alguém que não acreditava em palavras.
O silêncio de poucos segundos que se seguiu foi cortado pelo som abrupto da explosão…
*Baaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaang!*
Dessa vez, Grasel não testou defesas. Ele avançou com o nunchaku como uma estrela colapsando, com sua trajetória imprevisível e violenta. Ele atacava de cima, de lado, de baixo, invertia ângulos no último momento. Era como lutar contra um trovão que pensa. E mesmo com seus ferimentos acumulados, os golpes dele ainda eram capazes de esmagar qualquer estrutura comum.
Mas Ming Xiao não usava estruturas comuns.
A energia de vida se solidificava em prismas, paredes e até lanças. Ele desviava, absorvia e devolvia, com suas adagas ferindo o corpo de Grasel em ataques cortantes quase invisíveis, liberando ondas de radiação que enfraqueciam até o ar em torno do inimigo.
Durante um instante, Grasel conseguiu penetrar na defesa, com o nunchaku acertando a lateral de Ming Xiao com muita força. O impacto rachou as costelas do rei do Vale da Esperança e o fez girar no ar, mas não houve grito, nem hesitação.
Ming Xiao usou o giro para ampliar o movimento e retaliar com uma estocada direta no abdômen do inimigo. Grasel reagiu a tempo, mas não completamente. A ponta da adaga arranhou sua pele, liberando radiação que corroeu uma parte do músculo como o veneno de uma serpente.
Grasel rangeu os dentes, recuou por impulso, depois disparou novamente, com sua energia agora oscilando, instável, mas ainda mortal.
*Craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash…*
Outro choque, mais destrutivo. O campo de batalha já não era mais reconhecível. Meteoritos derretidos, poeira cósmica ionizada, faíscas de vida e morte girando num vórtice onde apenas dois homens ainda lutavam.
Dessa vez, ambos recuaram alguns metros.
O peito de Grasel arfava, e o vapor saía de suas costas em jatos intensos. A pele queimada pela radiação se descolava em placas finas. Mas os olhos… os olhos permaneciam afiados.
“Me tire daqui!” Grasel, então, murmurou, não para si mesmo, mas para outra pessoa. Para alguém que parecia estar o tempo inteiro escutando até mesmo as suas respirações: “Eu gostaria de derrubar aquele rei, mas os outros três já me cansaram o suficiente para eu conseguir fazer isso.”