Capítulo UHL 1080 - Demônios
[Capítulo patrocinado por Alberto Augusto Grasel Neto. Muito obrigado pela contribuição!!!
ATENÇÃO: LINK ATUALIZADO. Venham fazer parte da nossa comunidade no Telegram! https://t.me/+tuQ4k5fTfgc1YWY5
ATENÇÃO: OS EXEMPLARES FÍSICOS E DIGITAIS DO PRIMEIRO LIVRO DE O ÚLTIMO HERDEIRO DA LUZ JÁ ESTÃO DISPONÍVEIS NAS MAIORES LIVRARIAS DO BRASIL E DO MUNDO. APOIE O NOSSO TRABALHO E GARANTA JÁ UM EXEMPLAR TOTALMENTE REESCRITO E REVISADO, E COM TRECHOS INÉDITOS.
Quer ver um mangá de O Último Herdeiro Da Luz? Então, a sua ajuda é muito importante para que possamos alcançar novos limites!
Para patrocinar um capítulo, use a chave PIX: 31988962934, ou acesse https://www.ultimoherdeirodaluz.com/patrocinarcap para outros métodos de pagamento, que podem ser parcelados em até 3x sem juros.
Para ver as artes oficiais da novel, que estão sendo postadas diariamente, siga a página do Facebook https://www.facebook.com/Herdeirodaluz
Ou a página do instagram https://www.instagram.com/herdeirodaluz/
Todas as artes e outras novidades serão postadas nas nossas redes sociais, e vêm muitas outras por aí, então siga as nossas páginas e não perca a chance de mostrar à sua mente qual é o rosto do seu personagem favorito!
Ps: Link do Telegram atualizado!
Tenham uma boa leitura!]
-----------------------
O comando de Vargan’Zul, “AVANCEM!”, correu como fogo em pano seco, e a massa tornou a fechar-se, determinada a engolir a rocha solitária no centro do nada.
Daren expirou. O vácuo pareceu puxar o ar dos seus pulmões, embora não houvesse ar algum. A lâmina descansou, com o punho leve, os dedos soltos; as placas, a poucos metros, ficaram imóveis como estrelas fixas.
Então ele falou, não na língua dos vivos, mas na língua de coisas antigas. Na língua que seu povo usava para se comunicar enquanto ainda escravos, para que seus senhores não entendessem:
*“Expansio Tenebrarum. Coagulatio Spatii. Imago Titanica.”
*Whoooooooooooooooooooooooooooooooooom…*
Ao chamado de suas palavras, a escuridão não apenas cresceu, ela dilatou. O breu adensou-se atrás de Daren como óleo derramado sobre vidro, correndo para fora em anéis concêntricos até o horizonte morrer. Ao mesmo tempo, o espaço rangeu, coagulando em planos translúcidos, e uma superfície espelhada nasceu do nada, arqueada como a parede de um anfiteatro invisível.
Nela, a imagem de Daren surgiu.
Primeiro, um contorno; depois, o relevo das placas, o brilho do cabelo branco oscilando no vácuo, a fenda aberta sobre o coração… tudo duplicado. E então, o espelho correu para trás, como se alguém o puxasse por cabos cósmicos, e a imagem cresceu. Em segundos, a cópia alcançou a escala de uma muralha; em mais alguns, a de um titan. O reflexo reproduzia cada micro gesto de Daren… o curvar ínfimo do pescoço, o ajuste de punho… mas não era feito de luz. Era o feito de um espaço solidificado, um teatro de densidade em que a realidade se via obrigada a comportar-se como vidro sob pressão.
A frente krovackiana e orc vacilou.
Guerreiros que voavam em velocidade máxima desviaram ao ver o gigante erguer a lâmina. Outros erraram o tempo do impulso e colidiram de ombro contra um plano que não existia um segundo antes.
*Craaaaaaaaang...*
O impacto devolveu-os como moscas que batem em vitral. Dois pelotões, crentes em uma ilusão, investiram contra o reflexo e foram parados por uma resistência sem nome.
O choque espalhou fissuras invisíveis no próprio meio entre eles e o espelho, e os seus corpos tremeram, como se os ossos tentassem vibrar para fora da carne.
Por trás da máscara de disciplina, o pânico roçou gargantas.
Daren ergueu a mão vazia, à direita, e tocou o espelho com um gesto que não tocou nada.
*Craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash…*
O plano refletor estalou sem som, e dele “descolaram” lascas de espaço… prismas negros, sem brilho, como cacos de ausência. Ao nascer, cada fragmento levava consigo uma borda de geodésicas dobradas, linhas naturais de passagem tentando endireitar-se e falhando.
“Fragmenta… Dispersio.”
O último sussurro foi um carimbo.
*Craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash…*
As lascas dispararam.
Não voaram como metal; não cortaram como lâminas. Apenas passaram.
Onde tocavam matéria, a matéria não rompia… ela sumia. Um krovackiano avançava com a boca aberta num grito que jamais sairia, e a lasca tocou-lhe a bochecha, e a mandíbula inteira desapareceu, reaparecendo, sem sangue, sem som, a milhares de quilômetros, onde vagaria como um fóssil no mar negro.
Outro ergueu o escudo… um fragmento roçou o pulso, e a mão dele foi “colocada” longe, flutuando sozinha como um asteróide.
A um terceiro, a lasca atravessou o tronco… a metade direita do corpo dele não caiu, mas, sim, teleportou-se para pontos aleatórios no vazio, como projeções fantasmagóricas acendendo-se em lugares remotos.
De um ângulo alto, parecia uma constelação de ruínas nascendo: pequenos clarões se acendiam a distâncias absurdas, revelando um ombro aqui, um joelho lá, um pedaço de couraça girando lentamente, e depois tudo se apagava outra vez no preto.
A frente rompeu a cadência. Ninguém sabia o que bloquear, porque não havia fio, não havia golpe a “aguentar”. Bastava um toque… qualquer toque… e partes inteiras eram relocadas para longe demais para importar, para sequer lembrar que existiam.
Vargan’Zul cerrava os dentes ao ver a física ser forçada a ajoelhar-se. Ele não conseguia acreditar que aquilo era possível, mas ainda acreditava que podia fazer algo, então, sua voz irrompeu nos canais de comunicação:
“ESPALHEM A LARGURA! Não deixem a formação densa! Espaçamento máximo, ângulos alternados! NÃO TOQUEM OS FRAGMENTOS!”
Os oficiais repetiram suas palavras como ecos. A massa obedeceu no que pôde, abrindo vazios entre si, tentando voar por rotas que não cruzassem o cone de perigo do espelho. Mas a muralha refletora curvava-se, estendendo flancos, e novos fragmentos nasciam do seu ventre como sementes de um fruto envenenado.
As placas da armadura de Daren tilintaram baixinho, ajustando perímetro. O círculo de aço e densidade desceu meio metro, como um arrocho.
E agora… o próprio Daren avançou um passo.
O gigante fez o mesmo gesto, e foi como ver uma montanha arrastar-se.
*Thumm… thumm… thumm…*
Cada passo de Daren, e do reflexo, alterava a trama da realidade. Em volta dele, o espaço solidificado fungava como gelo sob degelo, ganhando e perdendo espessura em ondas. A cada ondulação, mais “cacos” se libertavam e partiam, obedecendo a vetores que só o Demônio da Escuridão entendia.
Um oficial orc calculou um mergulho por baixo do espelho, tentando usar a própria distorção para “passar em falso”... o fragmento mais baixo tocou-lhe a lombar, e as duas pernas dele reapareceram a oito mil quilômetros, rodopiando juntas, presas ainda pelo cinto que segurava a bainha. O tronco, sem reclamar, continuou a voar mais alguns metros por inércia, até o cérebro compreender que já não tinha motor para continuar.
“ÂNCORAS!” Vargan’Zul bradou, e dezenas de cultivadores criaram linhas de gravidade artificial, correntes invisíveis que “amaravam” esquadrões a pontos de massa improvisados. Funcionou o suficiente para deter a deriva dos que perdiam partes, mas não para deter a relocação.
Um capitão, ancorado ao quadril, teve o coração realocado para longe antes de a mente registrar o frio. O corpo continuou preso, mas a vida foi embora, teleportada.
A voz de Daren baixou mais um tom, quase em lamento.
“Eu avisei.”
Ele falou, e a escuridão inchou.
A “parede” refletora sacudiu uma poeira que não era poeira, mas resíduos de geodésicas rompidas, e essa poeira virou projéteis menores, milhões de microfragmentos. Bastou um gesto do punho e eles se espalharam como uma chuva sem brilho, cruzando as linhas externas que tentavam contornar. Onde tocavam, não havia dor, havia ausência. A ponta do nariz de um, o lóbulo da orelha de outro, uma fatia do elmo de um terceiro… tudo era rearranjado, surgindo como pontuações em um mapa invisível do céu.
O reflexo titânico de Daren avançava com ele, e cada passo reverberava em toda a frente como o som de um continente se deslocando. A chuva de microfragmentos continuava a dissolver pequenos pedaços de corpos, armas e armaduras, criando uma constelação de ruínas no vazio.
Vargan’Zul, porém, não cedeu ao pânico de seus homens. Ele não era apenas um guerreiro; era um estrategista formado no peso de séculos.
“Todos recuam quando estão diante do abismo…” Ele pensou: “Eu não posso recuar. Então devo transformar o abismo em ponte.”
Logo em seguida, ele ergueu a lâmina, e sua voz, como aço em brasa, ressoou:
“Concentrem as marés! Construam corredores!”
O comando não era simples, nem qualquer soldado conseguiria executá-lo. Contudo, os oficiais veteranos responderam de imediato, moldando suas técnicas em padrões que não se anulavam, mas se sustentavam mutuamente. Em vez de cada guerreiro lançar ataques soltos, dezenas passaram a criar estruturas que se entrelaçavam no espaço: paredes de terra comprimida, aço e gelo reforçado, dispostas em ângulos precisos, como muralhas que guiavam o fluxo do exército.
O objetivo não era parar Daren, mas forçar a escuridão e os fragmentos a se depararem com formas sólidas que desviassem seu curso. Os corredores estreitos criados entre essas muralhas serviriam para passagem das tropas que tentavam cruzar rumo a Decarius.
Daren observou em silêncio. Seus olhos, chamas laranjas no breu, reconheceram o mérito da manobra. Aquilo não era pouco… era digno de alguém que conhecia guerra de verdade e pensava rápido.
Contudo, mesmo reconhecendo, ele não pretendia deixar a estratégia amadurecer.
Com um gesto, a Orgulho dos Renegados se ergueu, e o reflexo titânico imitou o movimento. O espaço solidificado gemeu como gelo quebrando sob pressão. Novos fragmentos se formaram, maiores desta vez, placas inteiras que se soltaram do espelho e dispararam em arcos concêntricos.
As primeiras muralhas de terra e gelo resistiram a alguns impactos… o peso das placas negras ricocheteava em ondas, rachando, mas não cedendo de imediato. Pela primeira vez, os soldados sentiram que seus esforços não se dissipavam em vão.
Mas os fragmentos não paravam de nascer. E o pior: quando tocavam as muralhas, não as destruíam por completo… apenas deslocavam pedaços delas para quilômetros de distância, deixando buracos e fissuras súbitas, como se as defesas estivessem sendo comidas por dentro.
Vargan’Zul percebeu o risco de um colapso total e não perdeu tempo.
“Linhas rotativas! Avanço em espiral!”
No mesmo instante, pelotões inteiros começaram a girar em torno dos corredores, invertendo posições constantemente. Era uma técnica antiga, usada para atravessar campos de batalha em chamas ou tempestades de flechas: a rotação fazia com que nenhum grupo ficasse exposto tempo demais no mesmo ponto, enquanto a massa como um todo mantinha o movimento.
E, de fato, por alguns instantes, parecia funcionar. Os fragmentos levavam soldados, mas não conseguiam extinguir o fluxo por completo. Cada vez que uma brecha se abria, outro grupo surgia para cobri-la, mantendo o rio de corpos fluindo.
Daren, contudo, ergueu o punho vazio, e a imagem titânica repetiu.
Ele fechou a mão.
O espaço rangeu mais uma vez.
As muralhas criadas pelos soldados inimigos encolheram sobre si mesmas. O que antes eram corredores sólidos começaram a dobrar como pergaminhos queimando nas bordas. Soldados que voavam dentro deles sentiram as paredes estreitarem, até que cada corredor se tornou um tubo sufocante que colidia em si.
*Craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash…*
Centenas foram esmagados, comprimidos pelas próprias defesas que haviam erguido.
“Não parem!” Vargan’Zul berrou, com a aura dele se expandindo como um martelo cósmico: “Vocês não enfrentam um homem, enfrentam o próprio espaço! Então deformem o espaço com ele!”
A ordem não era poesia… era instrução.
Cultivadores mais avançados compreenderam de imediato e começaram a criar vórtices, redemoinhos que torciam o vácuo como lençóis girados. Não era uma técnica ofensiva, mas de distorção. O objetivo era forçar a gravidade e a pressão criadas por Daren a perder consistência, a ser “puxada” em direções conflitantes.
E, por um instante, funcionou.
Os corredores que estavam colapsando pararam de fechar, sustentados pela força dos vórtices. Os fragmentos refletidos desviaram de suas rotas originais, alguns sendo cuspidos para longe antes de tocar em qualquer coisa.
Daren inclinou a cabeça em mais um reconhecimento, mas ele ergueu a espada lentamente, e o reflexo titânico ergueu também.
“Vocês aprenderam a torcer… mas eu nasci do torcer.”
E então, sem voz de comando, apenas com um movimento, Daren rasgou o espaço com a Orgulho dos Renegados.
*Whooooooooooooooooooooooooooooom…*
O corte não brilhou. Não houve clarão. O que houve foi ausência repentina: o reflexo desferiu o mesmo golpe, e o espaço diante dele simplesmente deixou de existir por alguns segundos.
Os vórtices, as muralhas, os corredores, os soldados… tudo que estava naquela linha… foi engolido, não destruído. Tudo sumiu. E quando voltou, milhares de quilômetros adiante, reapareceu em pedaços, espalhados como poeira cósmica.
O silêncio que se seguiu foi pior do que os gritos.
Até Vargan’Zul precisou cerrar os olhos, para não deixar transparecer o impacto. Mas seu punho não tremeu. Ele ergueu a espada para o alto, e, mesmo que muitos já soubessem que não tinham chance, a disciplina os manteve firmes.
“Dividam-se em setores! Três frentes, três ângulos! Se ele distorce, nós o partimos em três!”
E, assim, o exército se partiu como uma estrela de três pontas, convergindo para Daren em ataques sincronizados, vindos de ângulos tão vastos que nem o reflexo poderia cobrir todos ao mesmo tempo.
Daren observou, imóvel, enquanto os três braços da destruição vinham em sua direção.
E, então, ele sorriu.
*Swiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiing…*
Na direção do sorriso de Daren, uma linha de milhares de inimigos começou a cair, dividos ao meio por um corte que não veio dele.
Não foi a Orgulho dos Renegados que se moveu. Não foi o reflexo titânico que ergueu sua muralha de aço e ausência. O corte veio de outro lugar, de outra vontade.
Uma linha pura, reta, quase impossível, atravessou o vácuo. Não houve clarão nem explosão, apenas a súbita certeza de que o espaço fora dividido em duas metades.
Os soldados na rota do golpe não entenderam o que havia acontecido. Primeiro, sentiram-se leves, como se o peso de suas armaduras tivesse sumido. Depois, a gravidade pessoal, aquela que cada cultivador trazia no sangue, falhou. Seus corpos começaram a deslizar, sem resistência.
Um a um, eles se abriram.
Peitos escancararam sem sangue, como páginas rasgadas de um livro. Capacetes deslizaram do crânio ainda inteiro antes de revelar o vazio onde deveria haver rosto. Ombros se separaram do tronco, colunas vertebrais foram arrancadas como cordas frouxas.
E, no silêncio abissal, milhares caíram de uma vez, partidos com a mesma naturalidade que um sopro parte a chama de uma vela.
A linha seguiu adiante, infinita. Atravessou colunas, pelotões inteiros, montagens de técnicas que foram rasgadas sem chance de se desfazerem. O corte não explodiu nada, não lançou poeira nem fragmentos. Ele apenas separou, e o que é separado já não tem poder para continuar.
Do ponto de vista dos que estavam fora da trajetória, parecia que uma cicatriz colossal havia sido desenhada no campo de batalha: uma fissura, um rasgo que partia as fileiras de Vargan’Zul em duas.
Os sobreviventes pararam de avançar. Não por ordem, mas por instinto.
Vargan’Zul cerrou os dentes até que o maxilar latejasse. Ele sentiu a aura do golpe, e não era de Daren. Era outra. Diferente. Mais assassina, mais cirúrgica. Não era um espaço torcido como o de Daren, era um espaço que aceitou ser cortado.
Um mensageiro, pálido, atravessou os canais de comando e sua voz ecoou como faca rasgando os seus ouvidos:
“Comandante… há outro.”
“Outro!?” A palavra caiu como pedra no rio.
Um segundo inimigo havia entrado no campo de batalha.
E esse segundo, diferente do primeiro, não avisava antes de cortar. Não tinha pena ou remorso.
Enquanto isso, Daren olhava na direção do responsável e dizia com um tom feliz, mas não o tom de felicidade de quando se é salvo, porque ele não precisava disso. O tom era por causa do reencontro… pelo fato de rever um amigo.
“Você chegou rápido, amigo!” Daren falou.
Longe, no ponto inicial daquele corte, Hatori flutuava, com a Sourigawa na mão direita e os olhos serenos de alguém que nasceu para matar, enquanto respondia: “Eu não podia deixar o Demônio da Escuridão lutar sozinho e não fazer nada!”
Daren, em resposta, apontou a Orgulho dos Renegados para ele e chamou: “Então que eles conheçam mais um demônio hoje… O Demônio da Espada!”
