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Capítulo UHL 1090 - O Verdadeiro Ataque

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Tenham uma boa leitura!]


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A cidadezinha que Anúbis ‘visitou’ terminou de rachar antes de cair. Ruas de pedra foram cobertas por cacos de lâmpadas; portas estavam escancaradas pela metade; uma linha de cristais se estendia onde antes havia gente. Crianças, velhos, soldados, mercadores: todos fixos em gelo que não derretia, almas presas como se tivessem sido sopradas e, no ar, congeladas em geometria exata. O animal ao lado de Anúbis ergueu o focinho, cheirou a ausência, e se aquietou. O juiz, júri e carrasco não precisou olhar para trás para saber que a praça, os becos, o portão e o mercado estavam sem vida útil.


“Terminou.” A palavra saiu de sua boca como uma nota final que não pede aplauso.


Então, ele ergueu a mão.


Naquele gesto, havia o trabalho específico de quem domina os caminhos entre planos. O ar ficou pesado e cada cemitério daquela região tremeu como água na bacia quando alguém bate a porta do lado de fora. O tremor correu, discreto e absoluto, por vales, colinas e planícies, atravessou pontes e canais, e foi acender, sob o chão, o que já estava preparado.


“Abram.”


A próxima palavra de Anúbis não foi um convite. Foi uma autorização.


Nas covas onde repousavam os mortos de poucos dias, as madeiras cederam. O chão ficou fino. Debaixo das lápides, o mundo se dobrou como tecido pesado puxado por mãos invisíveis. Túmulos simples, com pedras gastas e nomes talhados; túmulos maiores, com placas polidas e contabilidade de honras… todos viraram trampolins entre planos. E por eles, não subiram corpos de humanos. Subiram deuses Protetores e semi-deuse.


Eles vieram em silêncio. Alguns com faces humanas, outros orcs, outros krovackianos; Dali saíram elfos de peles claras e gigantes cuja pele lembrava cristais escuros; Dali também surgiram seres de traço animal, com olhos de ave em rostos de guerreiros, e quimeras limpas em proporção, como se a mistura tivesse sido a primeira forma, não uma deformação. Não havia estranheza barroca neles: havia função. Cada um trazia no corpo a gramática do que fora feito para fazer.


O primeiro cemitério a se abrir ficava a duas horas de marcha da cidade julgada. A terra, ainda fresca de chuva que tinha caído há poucos minutos, afundou como colchão, e debaixo dela emergiu um deus Protetor de traços humanos, pele escura como bronze e olhos pálidos. Ao redor, meia dúzia de semi-deuses seguiram-no, menores em grandeza, mas armados de poder. Eles olharam o horizonte não em busca de direção, mas de resistência. 


à frente, eles encontraram uma aldeia baixa, com galpões e um depósito de grãos… e avançaram.


O ataque começou assim, como começa um vento que não promete tempestade e ainda assim vira telhados. As menores cidades, aquelas sem cultivadores fortes deixados em guarnição, caíram antes de formar a primeira linha. Nas torres de vigília, guardas tentaram acionar sirenes, mas os sons morreram ao atravessar o primeiro beco, engolidos por mãos que não eram de ar. Em pátios escolares, quem correu para puxar crianças e jovens se viu correndo para a morte. Os Protetores entravam por quadras e mercados com a certeza de quem faz o trabalho certo e o seu dever, e os semi-deuses varriam, literal e tecnicamente, tudo que os olhos encontravam.


Em outro ponto de Decarius, um deus Protetor de ombros largos e traços krovackianos ergueu-se entre as árvores, seguido de três semi-deuses com orelhas pontiagudas, olhos de de brilho metálico, e pele marcada por linhas discretas de luz que subiam do punho ao pescoço. 


Eles não correram… Eles caminharam pelos degraus de pedra como se estivessem em um desfile militar, com a exceção de que onde pisavam, o musgo morria. No primeiro vilarejo na encosta, um sinaleiro tocou o sinal de emergência com as duas mãos até os dedos sangrarem. Na quarta batida, a corda enrijeceu. O sino admitiu apenas um último som, curto, antes de se partir. Quando o sinaleiro percebeu, o deus Protetor já estava à porta. Ele sentiu o calor de uma presença avassaladora e cedeu, abrindo a passagem como se nunca estivesse lá.


No litoral norte, covas recentes numa faixa de areia viraram espelhos. Dali saiu um deus Protetor de pele translúcida e cabelo tão escuro que parecia molhado. Atrás dele, semi-deuses de traço marinho e olhos atentos e predadores se ergueram das outras covas. Eles surgiram direto para o coração de uma vila litorânea, onde casas de simples serviam de abrigo e as redes secavam penduradas entre postes. Os pescadores, que sabiam do mar mais do que a maioria sabe das próprias ruas, eram simples homens e mulheres sem cultivo algum. Seres indefesos e suscetíveis a sofrer com a ira de qualquer criança que tivesse o mínimo de cultivo que fosse.


A vila durou um minuto e meio.


Enquanto isso, ainda no lugar onde começou, Anúbis acompanhava sem pressa. Ele não precisava estar em todos os lugares. Bastava que estivesse onde as portas precisavam de chave. Sempre havia, a poucos quilômetros de cada centro populacional humano, um campo de corpos enterrados nos últimos dias… a guerra havia se encarregado de prover isso. Esses corpos não se levantaram: foram usados, por dentro, como atalhos de uma topologia que Anúbis domina com a fluência de quem desenhou parte dela. Onde havia luto recente, havia uma fresta. Onde havia fresta, ele passava ou deixava outros passarem.


Em Hill, a notícia de monstros saindo das covas entrou pela rede de comunicações em menos de vinte minutos, mas a interpretação chegou atrasada. “Vazamentos nos cemitérios”; “atividades estranhas”; “manifestações anômalas nos pátios internos”. Os locutores tentaram rotular o desconhecido, mas falharam. 


Quando perceberam que os relatórios não eram metáforas, eram literais, o primeiro deus Protetor já havia atravessado a praça de abastecimento de um grande centro urbano e derrubado, com um gesto simples, a torre de vigia de aço. 


Na capital de um território agrícola, cultivadores de nível alto ainda guardavam as muralhas. Eram poucos, mas sabiam do que eram capazes. Quando as covas se abriram no cemitério a dois quilômetros dali, eles responderam rápido. 


Quando um deus Protetor surgiu, dois cultivadores já estavam posicionados nas muralhas, com as energias espirituais condensadas em lanças longas, e eles dispararam juntos. 


*Splaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash…*


As lanças atravessaram o peito do deus Protetor e se projetaram pelas costas. Por um segundo, houve alívio.


Contudo, o deus Protetor apenas inclinou a cabeça, arrancou as hastes com as próprias mãos e quebrou-as no joelho. Quando abriu a boca, não saiu voz, saiu pressão. O ar sobre eles virou uma montanha de pedra líquida, e os cultivadores na muralha foram esmagados contra a própria estrutura. O sangue escorreu por entre as fendas dos blocos até formar uma queda rubra ao pé da muralha.


Os semi-deuses que o acompanhavam entraram pelo portão principal antes que ele pudesse ser fechado. Um deles, de traços humanos, ergueu o braço e simplesmente apontou. As correntes de aço que selariam o portão giraram contra os guardas, enrolando-se em seus corpos, esmagando ossos até o estalar ecoar na praça. Outros semi-deuses passaram. Em menos de cinco minutos, o mercado estava coberto por vísceras e gritos.


No interior de uma outra cidade, os cultivadores mais velhos tinham se preparado. Dez deles se alinharam no pátio central, com matrizes espirituais gravadas na terra. Quando os semi-deuses brotaram do cemitério atrás da muralha, o círculo acendeu. Chamas escarlates subiram, envoltas de vento cortante, criando uma barreira de pura violência elemental.


O primeiro semi-deus a atravessá-la perdeu metade do corpo no impacto, dissolvido em pó e ossos queimados. 


A barreira funcionava. 


Os humanos gritaram, acreditando.


Mas o deus Protetor entrou. Ele ergueu o braço e tocou o símbolo no chão com a ponta do pé. Toda a matriz tremeu. Os cultivadores tentaram reforçar, mas era como segurar uma represa rachada com as mãos nuas. A barreira implodiu para dentro, queimando os próprios defensores. O fogo entrou nos pulmões deles e os fez explodir por dentro, jorrando sangue fervente pelas bocas e narizes. Quando o Protetor terminou de caminhar, não havia mais círculo, apenas crateras cheias de cinzas humanas.


Nas vilas menores, não houve resistência.


Um semi-deus de pele dourada e olhos vazios atravessou o portão de uma aldeia de mineração. Mulheres correram para puxar crianças. Homens ergueram pás, picaretas e machados. Nada pesava contra ele. Ele caminhou até a praça, estendeu a mão, e cada corrente sanguínea ao redor congelou de uma vez. As pessoas caíram no lugar, com olhos arregalados e veias pretas como carvão. Nenhum golpe de arma foi necessário, nenhum estrondo… apenas morte limpa, rápida e sem direito a barulho.


Do mesmo jeito, outra vila foi tomada por um Protetor de pele clara e traços élficos. Ele entrou pela escola, onde dezenas de jovens treinavam os primeiros exercícios de cultivo. O instrutor tentou erguer uma espada, mas o Protetor esmagou o ar com a palma. O instrutor dobrou-se ao meio, com a coluna quebrando em três pontos, e caiu convulsionando. As crianças gritaram, mas não tiveram tempo de correr. O Protetor abriu a boca e soltou um sopro. O sopro estraçalhou todas as crianças, que secaram no lugar, com ossos expostos e sem nenhuma carne ou sangue.


Em Kaos, uma das cidades portuárias tentou resistir. Dez cultivadores avançaram juntos contra dois semi-deuses que haviam surgido no cais. O combate foi rápido e cruel. Um dos semi-deuses, de pele escura e cabelos brancos, desenhou com a mão um arco invisível. Cada cultivador atingido se partiu em pedaços perfeitos, como se o corpo fosse vidro quebrado por linhas exatas. 


O outro semi-deus se lançou contra uma companhia de guardas comuns. Eles ergueram escudos, mantendo ombro contra ombro e formando uma muralha. Ele atravessou-os como uma pedra atravessa a água. Os escudos se contorceram, fundindo-se às mãos dos homens. Os guardas gritaram, tentando arrancar o metal das próprias peles, mas os escudos já eram parte deles. O semi-deus apenas empurrou com o ombro, e eles tombaram no mar, afundando com os corpos soldados às suas armaduras.


A cada cemitério aberto, mais momentos de terror surgiam. Deuses Protetores espalhavam-se fogo em palha seca. Semi-deuses seguiam como enxames, varrendo vilas, derrubando casas, limpando ruas.


Em uma cidade agrícola, cultivadores tentaram levantar muralhas de gelo. Por instantes, a cidade virou uma fortaleza branca. Mas um Protetor de pele negra encostou a mão no gelo. O cristal estalou, não de fora para dentro, mas de dentro para fora. O gelo virou pó em segundos, caindo como neve suja sobre os soldados que o defendiam. Os cultivadores foram os primeiros a morrer… seus os corpos racharam, como se os próprios ossos fossem de vidro.


Os sobreviventes fugiram para as fazendas ao redor. Semi-deuses os caçaram como cães atrás de caça. E cada grito virava eco antes de sumir no campo.


Enquanto as notícias corriam, as redes de comando falhavam. Houveram poucos relatórios… ficando apenas a consciência de que, em menos de uma noite, dezenas de pontos no mapa haviam sido apagados.


Anúbis, líder daquele ataque, caminhava entre ruínas e corpos. Não se apressava. Não precisava. Cada passo dele era a confirmação de que não havia julgamento humano ou desculpa capaz de detê-lo.


“Vocês tiveram o tempo das escolhas.”


A voz dele não ecoava apenas no ar, ecoava dentro das cabeças dos sobreviventes que ainda tentavam correr.


“Agora chegou a hora do peso.”


E os cemitérios de Decarius seguiam se abrindo.



O ÚLTIMO HERDEIRO DA LUZ -UHL | NOVEL

© 2020 por Rafael Batista. Orgulhosamente criado com Wix.com

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