Capítulo UHL 1091 - O Julgamento de Kaos
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Sendo uma das terras mais castigadas de Decarius, o continente de Kaos nunca conheceu descanso. As pedras, os vales e até o mar que o cercava guardavam na memória milênios de disputas, massacres e caos. Zeus, quando reinava, impôs sua ordem perversa: nenhuma lei, nenhum comando, nenhum respiro de paz. Ele proibiu o continente de se organizar, obrigando os povos a viver em uma anarquia sangrenta. Aldeias eram erguidas e destruídas no intervalo de uma geração, famílias inteiras eram varridas em noites de disputas tribais, e crianças aprendiam a matar antes mesmo de aprender a falar.
Yan Chihuo nasceu em meio a isso. Ele perdeu pai, mãe e irmãos ainda criança, engolidos por mais uma das batalhas que Zeus incentivava como espetáculo. Ele cresceu, primeiro sobrevivendo como um cão, depois lutando como fera, até que o próprio destino lhe entregou o fardo e a honra de mudar Kaos.
Quando Zeus caiu, Yan Chihuo reclamou o continente e o pacificou. Pela primeira vez em toda a sua história, Kaos experimentava disciplina, liderança e futuro. Povoados se tornaram cidades; grupos dispersos formaram exércitos; os órfãos da guerra encontraram casa. O continente de sangue virou, pouco a pouco, um continente de esperança.
E agora, justamente no instante em que Kaos se ergue de joelhos, outro Grande Deus pisava em seu solo.
Anúbis.
Ele caminhava sem pressa pela costa devastada, cercado de corpos que não chegaram a virar poeira. As ruas de pedra ainda fumegavam; casas tombadas pelos seus seguidores formavam sombras inclinadas; crianças congeladas no meio de uma corrida estavam presas em cristal, como brinquedos que jamais terminariam de brincar. O animal ao seu lado, cão, lobo ou chacal, caminhava sem olhar para os lados, focado no cheiro de um destino que só ele e seu mestre compreendiam.
A cada passo de Anúbis, o chão parecia recuar. Não havia resistência organizada: Kaos estava vazio de seus generais. Yan Chihuo, o líder máximo, estava na Singularidade, treinando para o inevitável confronto contra os deuses. Quiron, seu General e conselheiro, o acompanhava. Drake, Raya e Nallrian, os outros pilares da defesa, também estavam longe, enfrentando o Olho em batalhas que fariam história. O continente estava entregue a comandantes secundários, soldados disciplinados, mas sem o peso espiritual de seus grandes líderes.
O vazio era irônico. Kaos, forjado em caos, pacificado após séculos de sangue, agora se via sem escudo no momento em que mais precisava.
A primeira cidade a sentir o peso de Anúbis foi uma fortaleza costeira, construída sobre os destroços de uma prisão antiga de Zeus. O portão era grosso, feito de aço reforçado por cultivadores que aprenderam com Yan Chihuo o valor de resistir. Quando viram a sombra avançando pelo horizonte, os guardas alinharam-se na muralha.
“Ele vem só?” Perguntou um capitão, tentando crer que não passava de mais um Protetor isolado.
Mas quando os olhos se ajustaram, a verdade foi mais pesada do que qualquer armadura. Não era um Protetor. Não era um semi-deus. Era o próprio juiz.
Anúbis ergueu a mão.
“Chegou a hora do julgamento.”
As portas, que antes rangiam de metal, cederam com um estalo, como se fossem feitas de papel. Os guardas foram cuspidos para trás, esmagados contra as torres. A muralha caiu, como se cada pedra perdesse a vontade de se manter erguida e apenas se afastasse da outra.
Dentro da fortaleza, famílias inteiras correram. Crianças foram puxadas por mães, maridos ergueram armas. Alguns cultivadores ainda tentaram alinhar matrizes defensivas. Anúbis, porém, caminhou até o centro da praça e abriu os braços.
“Pesem seus pecados.”
O peso caiu como um martelo invisível. Pessoas de todas as idades tombaram de joelhos, esmagadas por um fardo que não vinha de fora, mas de dentro. Quem mentiu, quem roubou, quem matou por conveniência… todos sentiram cada ato gravado no corpo como uma pedra pendurada no pescoço. Ossos estalaram, colunas se dobraram, e em segundos, dezenas estavam presos ao chão, incapazes de se mover.
Crianças choravam, mas não estavam livres. Mesmo em sua inocência, carregavam medos, invejas, pequenos gestos de egoísmo que, sob o olhar de Anúbis, pesavam como montanhas. Uma delas tentou erguer-se, com as mãos esticadas em busca da mãe. O peso esmagou sua espinha com um estalo único. Ela caiu para frente e congelou no instante seguinte, com a alma cristalizada em gelo translúcido, incapaz de seguir para o rio de almas.
A fortaleza durou menos de vinte minutos.
Para Anúbis, não havia necessidade de pressa. Cada cemitério do continente era uma porta, e Anúbis caminhava com as chaves de todas elas. Os Protetores e semi-deuses surgiam atrás dele, espalhando-se como ondas. Vilas de mineração, povoados costeiros, fortalezas… nenhum ponto estava a salvo.
Em uma cidade ao sul, cultivadores locais tentaram resistir. Havia dez deles, treinados sob a tutela de Quiron antes da partida para a Singularidade. Eles Formaram uma resistência e mataram quatro semi-deuses.
Então, Anúbis entrou.
Ele apenas ergueu o braço e disse:
“Espiem os seus pecados.”
Os dez cultivadores começaram a tremer. O peso dos próprios pecados caiu sobre eles. Cada um carregava um crime, um erro, um ato egoísta. E sob o olhar de Anúbis, cada falha cresceu até virar condenação.
Um deles tentou resistir, gritando para os outros manterem o controle. Mas o corpo se dobrou, seus ossos saíram pelos músculos, e sua alma foi cristalizada em gelo que não derretia. O mesmo aconteceu com os outros, um a um, até que a barreira que eles formavam se desfez. A multidão foi varrida sem demora pelos semi-deuses, em uma carnificina tão rápida que não houve tempo para gritos longos.
Kaos ardia, mas o deus não parecia interessado apenas em varrer cidades. Ele caminhava guiado por algo maior.
Ao atravessar campos arrasados, Anúbis sentiu…
Uma vibração não vinha como onda; era um pulso fixo, constante, batendo de dentro da terra para cima, como um coração exposto. O cão à sua esquerda ergueu o focinho, aspirou duas vezes, e emudeceu de vez. O cheiro não era de sangue, nem de ferro, nem de gente. Era totalmente novo, e isso incomodava mais do que qualquer fedor de morte.
Em seu caminho, não houve espaço para heroísmo. Os três primeiros cultivadores que tentaram enfrentá-lo tombaram de joelhos e depois de cara no chão, mastigando pó, com olhos forçados para fora de suas órbitas.
Um deles ainda tentou se erguer apoiado no arco, urrando para si mesmo como se o grito bastasse para comprar mais um segundo. A coluna cedeu como madeira apodrecida. Dois soldados correram para puxá-lo, mas chegaram apenas a tempo de vê-lo engasgar e endurecer, com sua alma arrancada na forma de um fiapo de gelo que o vento não carregava.
Anúbis passou pelo bloqueio sem olhar para nenhum corpo. O cão ao seu lado cheirou os estandartes caídos, as lanças quebradas, os restos de couraças, e seguiu adiante. Nada ali lhe interessava. A pulsação adiante, sim.
O terreno abriu, e ele finalmente viu. Daren não criara aquilo para esconder; criara para exibir. No centro, ocupando o espaço de uma fortaleza e ainda assim cabendo dentro de uma clareira, a Singularidade estava posta.
Não era um portal. Não era um poço. Não era, tampouco, um buraco comum. Era um corpo de escuridão tão densa que parecia ter textura, feito de camadas concêntricas que se dobravam e desdobravam sem jamais se tocar. As bordas, se é que se podia chamá-las de bordas, formavam padrões que nunca se repetiam, como se a geometria e o impossível tivessem sido obrigados a assinar um pacto provisório. A cor era negra, mas não uma só: havia preto de carvão, preto de mercúrio, preto de céu sem lua, e nuances entre eles que nenhum olho humano jamais nomearia. Ao redor, um halo pálido, cinza-prateado, desenhava um contorno fino, vibrante, como a respiração de algo vivo.
E, no entanto, ela não atraía. As folhas secas ao redor não se moviam. A poeira levantada pelos passos de Anúbis caiu normalmente. Um inseto cruzou o ar, fez um arco e ignorou o coração de sombra, pousando numa pedra qualquer. A Singularidade não puxava. Quem entrava, entrava porque queria.
A uns cento e cinquenta metros, havia um posto de guarda. Vinte soldados.
Eles viraram o rosto ao mesmo tempo quando o frio chegou no osso.
“Formação!” O Oficial à frente gritou e todos os soldados entraram em formação.
Anúbis não acelerou. Três caíram de joelhos, dois de bruços, um tentou segurar o estandarte para não deixar cair e viu as mãos abrirem sozinhas. O oficial ainda tentou empurrar o próprio corpo à frente, berrando alguma palavra, mas o sangue saiu pelo seu nariz e ele dormiu de olhos abertos.
Não houve duelo. Houve só o necessário. Quando Anúbis passou, os escudos estavam no chão, as armas deitadas, e a corrente de homens parecia uma vala recém-cavada. O cão não parou em corpo algum.
E bem na sua frente, exposta sem vergonha, estava a Singularidade.
A trinta passos, ele parou. O cão sentou, ficando com os olhos fixso no negro que se movia sem sair do lugar. O vento ali passava pelos flancos da coisa como água contorna rocha grande: sem redemoinho, sem arrasto. O juiz inclinou a cabeça, medindo sem pressa. Ele não encontrou tranca, nenhuma forma de acionamento ou de extinção. Aquilo era outra gramática, outra lei, uma obra humana, posta em campo aberto para que qualquer um visse e escolhesse.
Ele avançou um passo apenas, ergueu a mão como quem toma medidas para um corte e falou baixo, em repúdio:
“Vocês fizeram isto. E trouxeram para todos verem.”
Anúbis viu os corredores onde o tempo se entrelaçava… o comportamento anômalo de uma sobreposição gravitacional que só poderia ser descrita como bizarramente linda.
Anúbis, então, apontou para a coisa.
“Eu repudio!” Anúbis disse em nojo, antes de prosseguir: “Toda técnica que pretenda elevar mortais ao patamar de deuses é um sacrilégio. É uma ofensa à ordem natural!”
Anúbis estava realmente furioso com a coisa diante dele, e, por isso, suas palavras de repúdio não paravam de escapar de sua boca: “Esta é a fábrica!”
“Esta é a fonte da esperança de vocês!”
“Vocês querem uma guerra santa… e este é o altar!”
Quando Anúbis terminou de falar, sua vontade era de destruir aquela coisa que jamais deveria existir, mas infelizmente, para ele, isso estava além de suas capacidades.
