Capítulo UHL 1099 - O Juiz se Irrita
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Tenham uma boa leitura!]
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Anúbis, quando desviou da primeira flecha, viu o gelo aparecer como um erro no ar.
As outras três flechas surgiram a um palmo da pele, cada uma em um ângulo diferente.
Anúbis torceu a cervical o suficiente para que a primeira passasse roçando o contorno da bochecha. A segunda cruzou o espaço entre a clavícula e a base do pescoço. A terceira veio pelo ponto cego do ombro direito.
Ele não bloqueou nenhuma. Apenas retirou o corpo do caminho com movimentos e sem perder altitude, sem abrir o flanco.
Quando os projéteis cruzaram a linha do seu corpo e seguiram adiante, revelaram o efeito real.
O ar à frente, quilômetros de ar, empalideceu em camadas. Nuvens baixas endureceram em placas. O vapor cristalizou-se em lâminas transparentes, suspensas. O solo da planície oriental ficou coberto por uma superfície gélida, rachando em seguida. Trincas correram para longe, atravessaram vales rasos e subiram colinas, como linhas de uma escrita apressada.
Cada flecha traçou um corredor que se prolongou por dezenas de quilômetros. O campo de congelamento não respeitou o relevo, não respeitou o vento, não respeitou as pequenas turbulências de calor que subiam de fendas recentes. Só correu, reto, sem dispersão, engolindo tudo.
Anúbis viu os corredores se cruzarem em dois pontos. Onde se cruzaram, o gelo se reorganizou. Uma malha de padrões brotou no ar à altura de mil metros e, por um instante, o mundo ali ficou sem peso. Gotas de poeira, ainda quentes do lado de cá, entraram e saíram da malha em frações de segundo, saindo como grãos opacos, desprovidos de qualquer temperatura mensurável.
Ele fixou as rotas. E então registrou o detalhe que não fechava a conta: nenhuma das linhas retro projetadas apontava para a direção que ele seguia. Não havia convergência atrás de si. As retas, quando prolongadas, não batiam em lugar nenhum.
Outro atacante tinha entrado no jogo.
A constatação veio muito rápido. Anúbis travou no ar, o olhar dele correu pelas bordas do frio recém-imposto, e ele calculou densidades, velocidade, tempo de vôo. E nada disso dizia de onde as flechas vieram.
Durante três segundos, ele não fez nada. Ele ficou tenso, esperando mais disparos.
Enquanto isso, o gelo adiantou mais alguns quilômetros sozinho, desacelerando de forma suave, até se estabelecer como um platô estático por sobre a planície. Uma ave que cruzava a camada tentou bater asas. As asas entraram no campo e viraram vidro. O corpo, sem suporte, continuou, bateu na borda, caiu, e se estilhaçou em pedaços.
As flechas não seguiam uma trajetória convencional. Tinham sido reescritas de fora do plano e reapresentadas já na etapa final do movimento. A ausência de assinatura no entorno confirmava isso. Não era apenas um disparo feito através de uma distorção espacial. A matéria simplesmente não estava no mesmo plano que ele antes de se aproximar.
Em resposta, Anúbis reduziu a própria presença até o mínimo. Se o emissor tentasse outra salva de disparos, ele queria ler o momento de apresentação.
Nada veio.
Por mais dois segundos, nada.
A dúvida, porém, ficou. O arco de destino não apontava para o Vale, nem para a planície oriental. Apontava para outro ponto qualquer, e a impossibilidade de nomear esse ponto era o que o irritava.
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Em Kaos, no perímetro da Singularidade, a anomalia estava mais agitada que de costume. Pelo menos era a impressão de quem tinha vivido anos que cabem em dias.
Yan Chihuo estava de pé sobre o campo ao redor da Singularidade. A fissura dimensional corria a menos de vinte metros, como um rio parado que se recusa a aceitar a gravidade.
Ele estava nu, mas não por exibicionismo. Camisas, no corpo dele, duravam pouco, então, ele desistiu de usá-las até retornar. O tecido sempre levava a pior em sua lutas.
E foram muitas.
No seu corpo, havia marcas a perder de vista. Não eram cicatrizes de desfile. Não eram linhas bonitas. Eram pedaços... remendos. Texturas alteradas na carne pelo atrito com alguém que não conhece o verbo ceder. Cortes no antebraço esquerdo, oito deles exatamente paralelos, cada um com a largura de um fio de cabelo, lembrança de quando Pemma Wangchuck tentou fatiá-lo em minúsculos pedaços..
Havia uma marca circular no flanco direito, com tamanho de uma xícara pequena, um pouco mais pálida que o resto. Aquilo vinha de outra etapa de aprendizado: quando ele achou boa ideia receber de frente uma compressão planetária do TIrano.
Ele se mediu, mas não gostou. Sobreviveu, mas guardou a lição.
A clavícula esquerda tinha uma protuberância, como se o osso tivesse sido esmigalhado e reconstruído de forma errada.
O rosto, curiosamente, mantinha quase a mesma simetria de antes. O que mudava ali era a expressão. Não era a face de um sobrevivente grave. Era um semblante de quem está sempre a meio caminho entre a observação e a piada, a atenção e o desleixo.
O cabelo, mais curto, tinha mechas arrepiadas nas pontas. O olho direito ostentava um brilho cansado, enquanto o esquerdo ria sozinho.
Em sua mão, o arco, a Arma do Espírito que fazia gelo se transformar em flechas mortais, repousava.
A espada, cravada no chão como uma estaca, tinha uma lâmina que nunca parava quieta. Não era tremor. Era ondulação. A borda parecia mirar dois lugares ao mesmo tempo, e acertar os dois. Quem tocasse a lâmina sem permissão iria jurar que sentiu o dedo entrar um milímetro fora do mundo antes de voltar no lugar certo.
Yan Chihuo havia aprendido a sincronizar um com o outro. Era simples no papel: encostar a espada no arco, só um instante. A propriedade que permite atravessar fendas entre camadas dimensionais, passava para a arma de distância. QUando isso era feito, o arco, por um punhado de disparos, ganhava licença para apresentar flechas em pontos onde ainda não havia flechas. Sem abrir caminho. Sem assinar presença.
Ele acabara de fazer isso.
Os três primeiros disparos foram quase didáticos. Ele selecionou vetores, calculou e soltou. Contudo, não houve o impacto esperado.
Graças a seus olhos, que pareciam olhos de falcão, ele viu que errou.
Yan Chihuo sorriu e bateu duas palmas lentas.
Ele olhou para o arco, torceu a cabeça e perguntou, como se estivesse falando com alguém vivo: “Você ainda está funcionando, né?”
Depois, Yan Chihuo aproximou-se da espada e viu a lâmina ondular enquanto comentava: “Eu sei que ela ainda tá viva.”
Uma expressão confusa e ao mesmo tempo relaxada passou pelo seu rosto enquanto ele coçava a cabeça e perguntava em voz alta: “Mas… por que não pegou na cara dele?”
Ele ergueu a sobrancelha esquerda. O olho direito seguiu rindo.
Depois, Yan Chihuo ergueu o arco e começou a balançar a arma de leve. Primeiro como quem espanta poeira. Depois como quem dá um tapinha carinhoso em aparelho eletrônico teimoso. No terceiro chacoalhão, o carinho acabou.
“Você quebrou?”
O tom era o mesmo de uma criança que estava com medo de ter quebrado seu brinquedo favorito.
Ele então balançou de novo. De cima para baixo. O arco respondeu com um tinir breve. O tinir veio de dentro, e Yan Chihuo encostou o ouvido.
“Repete.”
O arco, obviamente, não repetiu.
Ele fez cara de quem foi contrariado e começou a falar.
“Eu encostei a espada, você pegou a propriedade dimensional, você atravessou bonito, congelou meio distrito, mas… cadê o barulho de flecha acertando um deus no meio da testa?”
Yan Chihuo franziu o nariz, fez bico por um segundo e largou o arco no colo, sentando calmamente.
“Tá. Culpa minha.”
Ele reconheceu, respirou, pegou o arco de novo e fez o teste mais simples do mundo: puxou a corda invisível sem mirar em lugar nenhum.
A flecha surgiu como sempre, fina e firme.
Yan Chihuo esperou, com a cabeça torta e o olho esquerdo semicerrado, como quem tenta ouvir um sussurro dentro de uma cachoeira.
“Ué.”
Ele então girou o punho, encostou a espada no arco por um instante, só pra “acordar” a dupla, e puxou outra flecha, soltou, e ela sumiu
Depois de fazer aquilo, ele levantou, bateu a poeira e andou dois passos pra frente.
Yan Chihuo puxou três vezes, rápido, sem contar e sem ritmo.
Solta, solta, solta.
As flechas foram embora sem assinatura, do jeito que ele queria. E ele abriu um sorriso satisfeito.
“Agora vai.”
Ele apontou o arco pro chão e deu três tapinhas no arco, como quem dá os parabéns a um cachorro que finalmente sentou.
“Boa.”
“Mais três e eu paro.”
Logo após dizer aquilo, Yan Chihuo puxou mais três, mas agora com pequenas diferenças de direção.
Nada de lógica. Apenas uma dose de disparos caóticos.
“Pronto. Se eu acertar, eu digo que foi cálculo. Se eu errar, eu digo que foi arte.”
Ele ficou olhando o nada por um instante, como alguém que espera o retorno de um eco.
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Em Hill, Anúbis continuava parado a poucos metros de onde desviou da última flecha. Ele manteve o corpo na mesma linha, sem gastar movimento à toa, e seu olhar não andava.
Nada de padrão. Nenhuma sombra de origem. Nada. Anúbis não conseguiu identificar nada daqueles disparos.
Nada. Nenhuma assinatura, nenhum fluxo espiritual que denunciasse o ponto de disparo. Era como se o ataque tivesse vindo do próprio ar.
Então, nesse momento, outra flecha surgiu.
Ele inclinou o queixo para o lado, e o projétil cruzou o espaço, raspando o contorno da mandíbula. O rastro de frio que ela deixava riscou o ar e seguiu até perder de vista.
Antes que a primeira linha se apagasse, uma segunda surgiu pela lateral. Anúbis moveu-se pouco, o bastante para que ela passasse rente ao ombro, dissolvendo-se logo depois em uma trilha gelada.
Uma terceira veio mais alta, direto contra o rosto. Ele abaixou a cabeça, e a ponta varreu o espaço onde, um instante antes, estava sua testa. O som do gelo cortando o ar ecoou, agudo, e se perdeu nas nuvens.
Outra. Agora mais próxima, mirando o peito. Ele girou o tronco, desviando o golpe em um movimento tão curto que parecia involuntário. Mais uma cruzou na altura do quadril, e ele girou para a esquerda, desviando.
O ritmo das flechas não seguia lógica. Nenhuma pausa constante, nenhuma direção previsível. Uma vinha alta, outra baixa, uma pela esquerda, outra pela direita. Às vezes, duas de uma vez. Às vezes, nenhuma por vários segundos.
A cada desvio, o gelo se alongava no horizonte, engolindo colinas, árvores e vales sem distinção. O frio seguia empurrando o ar quente para trás, formando camadas que quebravam como vidro sob pressão.
Anúbis desviou de outra flecha, agora lançada de baixo para cima, e viu o feixe de gelo subir até o céu, congelando o ar em degraus.
Outra veio por trás, sem ruído. Ele moveu o pescoço e o projétil passou por onde antes estava sua garganta.
Mais duas. Uma em cada direção. Ele se inclinou para a direita, depois para cima, evitando ambas.
As flechas continuavam a vir. Pareciam infinitas. E nenhuma carregava a mínima vontade de acertar um ponto específico só o desejo de confundir.
“Não há padrão…” Anúbis murmurou.
Ele estendeu a percepção, tentando encontrar qualquer variação de energia que denunciasse o responsável, mas nada. Nenhum resquício de energia espiritual, nem presença. Apenas gelo, expandindo em todas as direções.
Outra flecha cortou o ar, passando a poucos dedos de sua orelha. Ele desviou para baixo, e mais uma veio, imediatamente, na linha oposta.
Esquerda. Depois direita. Em seguida, cima e baixo. Cada uma riscava o espaço com a precisão irritante de quem brinca com o alvo.
Foi aí que o olhar de Anúbis se estreitou. Não pelo esforço, mas pela raiva que começava a se acumular. Ele não estava sendo caçado… estava sendo provocado.
E a irritação, aos poucos, começava a ocupar o lugar da estratégia.
Outra flecha veio pelo alto. Ele baixou o queixo.
Outra, pelo flanco. Ele girou.
Outra, rente à clavícula. Ele inclinou o ombro.
As flechas não tinham origem rastreável. Não havia curva, nem aceleração perceptível, nem ponto de saída. Simplesmente surgiam dentro do espaço útil ao redor dele. E isso o deixava furioso.
“Você se esconde como um lixo sem culhões…” Anúbis xingou o responsável.
Enquanto isso, mais uma sequência veio. Cinco agora, de direções distintas, e ele desviou de todas.
As linhas geladas se espalharam, cruzando entre si e formando um mosaico no céu.
O deus olhou o resultado… mais quilômetros congelados, um mapa inteiro redesenhado pela estupidez de alguém que nem tinha coragem de se mostrar.
“Mostre o seu maldito rosto!” Anúbis gritou.
Nenhuma resposta aconteceu. Só o som distante das placas de gelo se rompendo umas contra as outras, e o frio arrastando as últimas faíscas de calor do horizonte.
Até que outra flecha passou. Ele desviou e ela continuou.
“Você é um covarde!!!” Anúbis gritou furiosamente, fazendo sua voz alcançar os quatro cantos do mundo.
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Em Kaos, quando o xingamento de Anúbis alcançou os seus ouvidos, Yan Chihuo parou com os disparos, sorriu, estalou o pescoço e disse em tom satisfeito: “É exatamente assim que eu queria te ver…”
Enquanto dizia aquilo, o olhar de Yan Chihuo mudava de direção e sua expressão mudava drasticamente para um semblante mais sério a cada alma que ele via presa nos cristais que foram formados pelo julgamento de Anúbis.
“Eu não sei o que exatamente é isso… mas eles estão sofrendo!” Yan Chihuo murmurou em tom de ira, antes de voltar a olhar na direção de Anúbis e completar: “Você vai pagar por isso! Eu brinquei um pouco com a sua vida… mas agora… eu vou tomá-la!”
Aos poucos, os pés de Yan Chihuo firmaram no chão, esmagando rochas sob a pressão dele.
“Você queria saber onde eu estou?” Yan Chihuo murmurou: “Eu vou te dar exatamente o que pediu!”
*Craaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaash…* Após terminar sua fala, Yan Chihuo destroçou o solo e disparou diretamente para onde Anúbis clamava por sua presença.
