Capítulo UHL 1112 - Meias Vitórias 2
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O universo estava repartido em frentes de batalha que eclodiam a todo instante. Algumas terminaram rápido, outras se estenderam um pouco mais do que o esperado. Derrotas e vitórias foram contabilizadas aos montes, mas as vitórias eram a grande maioria.
No maior ataque coordenado ao Olho de toda a história humana desde a criação desta organização, cada frente tinha o seu próprio relógio quebrado, marcando perdas e decisões que não podem voltar no tempo.
Cada frente e cada vida era extremamente importante para alguém, mas, num panorama frio e geral, algumas eram simplesmente cruciais. Essas frentes de batalha, em caso de derrota, poderiam culminar em um golpe muito forte nas forças de Decarius e até mesmo dar início a guerras de proporções universais ainda maiores do que a luta contra o Olho.
Em Decarius, a primeira vitória, a duras perdas, veio com a invasão de Anúbis. Não foi uma marcha, foi um veredito. Cidades ruíram e as terras onde o povo aguardava o retorno dos seus líderes viraram praças de pesagem: culpas contra corações. Cada condenação deixava um rastro de gelo que persistia no plano material, prendendo almas e memórias no mesmo lugar. As patrulhas desapareceram do mapa comum, forçadas a redesenhar rotas para não cruzar com aquilo que não podia ser enfrentado de frente sem um preço alto demais. O Grande Deus e as forças que ele levou às terras humanas foram derrotadas, mas o rumor que ficou para trás foi simples e cortante: “onde Anúbis pisa, ninguém volta.”
Mais longe, no gelo quebrado de Askyr e no cinturão de rochas que sobrou dele, a perseguição a Lucke terminou do jeito que só a Trindade sabe encerrar: por fora do mundo. Ming Xue apertava o cerco, com gelo, água, relâmpago e as sombras das bestas aquáticas dançando no brilho branco. Cruz e Shara’Kala surgiram para ajudar num momento de necessidade, quando ela foi cercada por centenas de clones que cobriram a fuga de um dos membros da Tríade.
Daquela batalha, restou apenas um gosto amargo na boca de quem ficou com um grande saldo de perdas nas mãos e um trabalho inacabado.
Já no limite escuro que separa as fronteiras do espaço humano com os demais, Daren e Hatori seguraram a frente que simplesmente não podia cair. A aritmética ali era simples e cruel: krovackianos e orcs de um lado, eles do outro. Mesmo com os esforços dos dois, que causaram baixas inacreditáveis ao exército inimigo, a valentia e insistência das forças inimigas tornavam o avanço deles praticamente inevitável… até que Zargoth apareceu, e cravou a bandeira de Uhr’Gal entre as lanças da coalizão e Decarius.
O motivo formal mudou… honra, tradição, não cair em guerra por manipulação… e o motivo real foi o peso do futuro. Os contingentes que vinham se atropelando estacaram, não por paz, mas por duvidarem das suas próprias razões. O impasse não trouxe alívio, porém, trouxe tempo.
Enquanto isso, num céu muito distante, o nome e as motivações de um homem pesaram mais do que qualquer arma.
Yang Hao, com a notícia de Yang Gengi ardendo por dentro, enfrentou dois que já foram seus. Yang Yin trouxe prata e vento e a disciplina que um dia o qualificou para futuramente liderar os Guardiões; Yang Fen trouxe a praga do fogo cinza e a certeza cega de que destruir é um caminho. O imperador os enfrentou e estava vencendo, mas a Trindade tentou pescar os dois; tirou Yin, mas perdeu Fen. Ryuuji e Kyon chegaram no campo de batalha em um momento crucial e houve muito pouco debate.
Aquela não era mais a hora de dossiês nem de prisões. Yang Fen pagou pelo que fez, e a execução carregou dois nomes na boca do corte: “Yang Gengi” e “Tyrone”.
Do outro lado do Domínio da Miragem Eterna, Yang Yin gritou contra uma parede que não abre e jurou uma vingança hipócrita pelo que ele mesmo iniciou.
Houve ainda uma frente que mudou o humor da guerra inteira: a de Zao Tian, Cruz e Shara’Kala. Eles rastrearam a Trindade até um ponto cegoe, ali, fizeram a emboscada. Drake já estava no chão, mas Cruz apareceu para salvá-lo e levou até aquela frente Shara’Kala e Zao Tian. Foi por um fio que os três irmãos escaparam, e os três saíram feridos e derrotados.
Depois disso, a Trindade desapareceu sempre que o nome de Zao Tian ficava perto do mapa. Eles viram de perto o que a força dele significa e decidiram não pagar para ver de novo. O preço dessa decisão veio com uma grande perda para toda a estrutura do Olho… Hanzo foi deixado à própria sorte quando a equação dizia “exposição demais”, e um membro da Tríade caiu sob a lâmina de Zao Tian, sem discursos nem fuga, só o fim limpo de quem escolheu o lado errado.
Entre todos esses epicentros de verdadeiras catástrofes, dependendo do ângulo de visão e de quem vê, ainda existia uma luta muito importante que ainda não tinha encontrado o seu encerramento, mas estava próxima disso.
Num campo que já não tinha forma, com asteroides reduzidos a luz, poeira eletrificada, riscos verdes de energia de vida solidificada costurando o vazio, e uma tempestade de relâmpagos azuis que parecia um monstro, sempre se recompondo, o nunchaku de Grasel queimava nas mãos, enquanto as adagas de Ming Xiao, Ununpentia e Ununtria, emanavam níveis de radiação astronômicos.
O rei do Vale da Esperança erguia paredes de vida como quem respira. Grasel, por sua vez, respondia com velocidade, peso e uma regeneração teimosa. Ele já tinha sentido o corpo falhar onde a radiação tocou, e já tinha perdido ritmo em golpes que roubaram algumas de suas funções motoras.
“Me tire daqui.” Foi sua última frase. Uma ordem, na verdade.
Não foi grito. Foi uma frase empurrada entre os dentes, depois de um impacto que quase arrancou-lhe todo o ar do peito.
Ming Xiao ouviu. E atacou, para manter proximidade.
Contudo, outra coisa surgiu naquele campo de batalha...
*Whooooooooooooooooom…*
De repente, o espaço atrás de Grasel ficou escuro. Aquilo não era o Domínio da Miragem Eterna. Era uma escuridão menor, tensa, com bordas finas e um brilho sem cor no contorno, como vidro sob pressão.
“Fica aí.” Uma voz saiu da escuridão, antecedendo a visão de seu dono.
A voz era do Cruz, mas não era o Cruz verdadeiro. O rosto estava igual, o cheiro da escuridão também, o gesto das mãos perfeitamente conhecido. Ainda assim, havia uma certa ausência no fundo do olhar: nenhum traço daquela infância em Turop, nenhum peso do juramento, nenhuma chama dos dias em que ele escolheu lutar com Zao Tian. Um corpo perfeito, mas sem as lembranças que dão nome às coisas.
Ming Xiao reconheceu no mesmo instante.
“É um Clone.” Ele murmurou entre dentes.
No mesmo instante, aquele “Cruz” apontou a mão para o rei e a escuridão adensou como se alguém esmagasse o ar entre placas invisíveis. Linhas pretas se cruzaram à frente de Ming Xiao e tentaram fechar como tesouras.
*Baaaaaaaaaaaaaang…*
A lâmina de Ununpentia riscou um arco curto e bateu de frente com a primeira linha. A energia de vida solidificada se comportou como deveria: absorveu, quebrou o “dente” de sombra, reteve o impacto e devolveu vibração para o vazio. Ununtria, no contragolpe, cortou a segunda linha com precisão cirúrgica. Onde passou, o preto perdeu contraste, como tinta diluída.
O clone, porém, não parou. Ele abriu a mão, e o espaço formou uma dobra curta, compressa, que não puxava ninguém, mas trocava o lugar de coisas pequenas que encostavam. Uma chuva de projéteis negros, espaço solidifaco, sombra saiu dali. Eles eram simples, objetivos, e em número suficiente para ocupar o campo.
Ming Xiao ergueu três placas, uma atrás da outra, no meio do corpo. As duas primeiras sustentaram a saraivada; a terceira desviou o resto. Ele saiu pelo flanco esquerdo, e viu o que importava: o clone não atacava para matar. Ele estava abrindo uma trilha atrás de Grasel.
“Não!” Ming Xiao, percebendo a intenção do inimigo, jogou a adaga curta numa reta limpa, não para perfurar o clone, mas para quebrar o “degrau” de escuridão a frente. A ponta bateu no limite da dobra e explodiu em luz verde, selando o vão.
O clone respondeu com outra linguagem. As mãos dele desenharam um retângulo no vazio, quatro traços negros, finos, e o retângulo virou uma porta.
Grasel deu um passo para trás por impulso.
Ming Xiao, por sua vez, já estava em cima. Uma das adagas descreveu um corte de cima para baixo, com a radiação exalando do fio para colapsar o portal. O clone, entretanto, ergueu a palma e, por um instante, o espaço ficou duro entre os dois, como uma placa.
A lâmina cravou, rangendo.
*Craaaaaaaaaack…*
A placa negra cedeu. A lâmina de Ununtria atravessou, abriu o escuro como se fosse couro esticado e, no mesmo movimento, riscou o peito do “Cruz”.
*Splaaaaaaaaaaash…*
O golpe não foi raso. A radiação roeu por dentro. A pele do clone ficou pálida, com os contornos de sombra tremendo, o ombro afundou e uma faixa do tórax ficou opaca, sem forma, como vidro que perdeu o brilho.
Ele cambaleou um passo… mas não gritou.
Em vez disso, fechou a mão direita, puxou o ar como quem recolhe uma cortina, e o “retângulo” voltou menor, instável, mas aberto atrás de Grasel.
Ming Xiao não parou. Ununpentia desceu em diagonal, pronta para partir o portal ao meio. O clone levantou o antebraço ferido e aceitou o choque para ganhar um segundo.
*Splaaaaaaaaaaaaaaaaaash…*
A lâmina entrou, atravessou fibras, e saiu do outro lado cuspindo fios de carne que se desfizeram no ato. O braço do clone caiu mole, pendendo por um resto de tecido, e o lado direito dele apagou como um desenho mal apagado.
Grasel não olhou. Deu dois passos para trás, com os relâmpagos cintilando pelo corpo todo, e pisou na borda da porta.
Ming Xiao, por sua vez, avançou para dentro do alcance.
O clone, agora só com a esquerda, apontou dois dedos e “arrumou” a borda da passagem, como quem endireita um quadro na parede.
Ununtria voltou do giro e cortou de baixo para cima.
*splaaaaaaaaaaaaaash…*
O fio pegou o quadril do clone e abriu até a costela. A radiação entrou e apagou metade do que ele era. Por um instante, o “Cruz” só existiu até o umbigo. O resto era ruído.
Ainda assim, ele empurrou.
Grasel sumiu da canela para cima, engolido pela anomalia. Só a cabeça ficou do lado de fora por um instante, com o olho direito faiscando e o sorriso de dor e raiva estampado no rosto.
“Da próxima vez… é eu ou você.” Ele cuspiu.
Ming Xiao encaixou o corpo, levantou as adagas e entrou pela diagonal, com as lâminas cruzadas, para fechar tudo num golpe só.
Contudo, o clone despencou para frente, entregando o resto do corpo para a lâmina que vinha.
*Thump.*
Aquilo foi o bastante.
A borda do portal engoliu o resto de Grasel como se puxasse um lençol. A última coisa a atravessar foi a ponta do nunchaku.
Ming Xiao arrancou as adagas do clone num puxão, e o corpo da cópia tombou, cortado em três planos, com as bordas desfazendo em fumaça escura. O rei do Vale da Esperança não disse nada naquele. E sem olhar duas vezes para a imitação de um amigo, ele cortou o ar onde o retângulo ainda vibrava.
Não aconteceu nada, porque o portal se fechou.
Ming Xiao, depois de matar o clone, mas perder seu alvo principal, ficou parado um segundo, só o suficiente para sentir se havia outra dobra se formando.
Mas não havia nada.
Ele então respirou, e prometeu: “Da próxima vez… você não escapará!”
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Enquanto isso, longe dali… longe o suficiente para que as estrelas trocassem de lugar… Grasel saiu do portal e caiu de joelhos no escuro.
O nunchaku arrastou e riscou faíscas no espaço. O corpo inteiro dele tremia, mas ele ficou de pé por teimosia. O último corte de Ming Xiao ardia sem cessar; onde a radiação havia passado, a regeneração falhava, voltava, e falhava de novo. As mãos apertaram a corrente até fazer estalos. Ele fungou, puxou ar pelo nariz ferido e riu baixo, curto, com mais alívio que humor.
“Eu vi.” Ele falou para ninguém: “Eu vi o corte. Mais um e eu ficava aleijado.”
No mesmo instante, o escuro ao redor mudou de textura.
Não ficou “mais escuro”. Ficou familiar.
Primeiro, veio um frio limpo na nuca, não de ameaça, mas de casa. Depois, as bordas do horizonte fecharam devagar, como braços cruzando por trás dos ombros. O vento passou a soprar para dentro, sem barulho, e o espaço se dobrou em uma camada suave.
Grasel não resistiu. Soltou o nunchaku, relaxou o pescoço e deixou a cabeça tombar para trás. O contorno o envolveu sem pressa, segurando seu peso conforme ele cedia.
Era a mesma sensação de sempre. A sensação de acolhimento, de quem conhece cada desenho das suas cicatrizes.
“Acabou… Por hoje.” Ele disse, num fio de voz, e fechou os olhos quando a membrana fechou junto, tirando o universo de vista.
