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Capítulo UHL 1117 - Um Problema Para Outro Momento

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Tenham uma boa leitura!]


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O céu de Decarius nunca tinha estado tão parado.


Depois de dias em que cada estrela parecia um projétil, cada faixa de luz parecia um ataque e cada sombra parecia um deus atravessando o véu, o espaço em volta do planeta estava… quieto.


Quase quieto.


Porque, num ponto do planeta ainda havia um bloco de gelo.


Gigantesco, opaco, cheio de camadas, como se dez invernos diferentes tivessem sido comprimidos num só. Dentro dele, estava Anúbis…


“Você percebe que está sentado em cima de um deus, né?” Gaspar comentou, com aquele jeito dele de quem ainda não tinha decidido se ria ou se o repreendia.


Aquelas palavras foram para Yan Chihuo, que estava literalmente sentado sobre o topo do bloco, com uma perna dobrada, a outra esticada e os cotovelos apoiados no joelho. 


Ao ser questionado, ele deu um peteleco distraído na própria orelha antes de responder:


“Se ele acordar, eu desço.” ele respondeu: “Até lá, ele é uma cadeira.”


Gaspar soltou uma risada curta.


“Você sabe que isso aí era um Grande Deus, certo?” Ele insistiu: “Pesou alma de meio universo. Tem planetas que só de ouvir o nome dele já desligam as luzes e se fingem de mortos.”


“Era.” Yan CHihuo corrigiu, simples: “No passado. Agora ele é só um problema embalado.”


Gaspar passou a mão pelos cabelos, ainda sujos de sangue seco.


“Aquele ataque…” Ele começou, olhando pro bloco: “Eu achei que ia ser o fim de Decarius se a gente não tivesse chegado.”


“Quem não achou?” Yan Cinhuo respondeu, dando de ombros: “Quando um Deus entra na sua casa perguntando se você pesa mais culpa ou mais coração… não tem muito espaço para otimismo.”


Ele olhou pra baixo, pro gelo sob si, pensativo por um segundo.


“Mas foi bonito, né?” Ele completou, meio debochado: “No final ele entendeu como é tomar um veredito, também.”


Gaspar se recostou numa pedra meio destruída, cruzando os braços.


“Tá.” Gaspar confirmou: “Mas ele vai sair furioso daí.”


“Ele aguenta.” Yan Chihuo ironizou.


Os dois ficaram um tempo em silêncio, olhando o horizonte. Ao longe, a curvatura azul de Decarius cortava o escuro, com as luzes das cidades ainda apagadas em muitos pontos. O planeta inteiro respirava pesado.


Gaspar puxou ar pelo nariz e soltou devagar.


“É estranho.” ele confessou: “Voltar pra casa e encontrar ela assim.”


“Assim como?” Yan perguntou.


“Vazia.” Gaspar respondeu: “Quando cheguei, não tinha guarda, não tinha patrulha, não tinha ninguém nas rotas principais. Por um segundo eu achei que Anúbis tinha ganhado.”


Yan Chihuo deu um meio sorriso cansado.


“Você chegou cedo demais.” Ele explicou: “Quando nós chegamos, tava todo mundo lá fora, fazendo o que precisava ser feito.”


“É…” Gaspar repetiu, olhando o bloco de gelo: “Mas surgiu esse maluco aí embaixo.”


“Esse aqui…” Yan bateu uma vez com o calcanhar no gelo, gerando um eco abafado: “Foi apenas um troco.”


Eles ficaram assim, conversando mais baixo, até que o espaço, que estava só respirando, começou a mudar.


Primeiro, foi uma linha de luz cortando o escuro, se curvando e se abrindo em múltiplas pontas. Depois, outras. Pontos começaram a piscar, distantes, e viriam maiores.


Formações.


As tropas finalmente estavam chegando.


Gaspar foi o primeiro a perceber de fato.


“Olha.” Ele apontou com o queixo: “A procissão da loucura tá de volta.”


Yan Chihuo levantou o olhar. Em questão de minutos, o céu em cima do bloco de gelo virou um mosaico de cores.


“Finalmente.” Yan Chihuo comentou, baixinho: “Já tava ficando entediado com a cara desse cachorro.”


Gaspar lançou um olhar de lado para o gelo.


“Ele ainda te escuta assim?” Ele provocou.


“Se escutar…” Yan respondeu: “Melhor ainda.”


As primeiras formações pousaram e gritos de reencontro começaram a surgir aqui e ali. Gente abraçando, gente sustentando feridos, gente só caindo sentada e rindo de nervoso.


O mundo ficou vivo novamente, até que uma presença bem específica cortou o barulho.


Zao Tian.


Ele desceu sem muito enfeite. Só um risco de luz que desacelerou até virar um homem cansado, muito mais cansado do que qualquer um ali tinha o direito de parecer, pousando no chão, com o corpo marcado de luta e o olhar ainda afiado.


Atrás dele, vieram outros pesos pesados: Hakim, Yang Hao, e Drake, mais atrás, apoiado numa lança improvisada, mas claramente melhor do que na última vez que alguém o viu.


“Então era aqui que vocês estavam escondidos.” Hakim comentou, assim que se aproximou o bastante pra falar sem gritar.


Gaspar abriu um sorriso torto.


“A gente chegou em casa e não tinha ninguém pra receber.” Ele respondeu: “Achei que Decarius tinha cansado da gente e fugido.”


Yang Hao cruzou os braços.


“Decarius não é tão esperto assim.” Ele disse: “Foi só logística.”


Hakim completou: “Se a gente não tivesse tirado todo mundo que podia lutar das paredes do planeta, esse ataque não tinha ido pra frente.” Ele explicou: “O Olho não ia cair com meia força. Ou ia tudo… ou nada.”


Gaspar ergueu uma sobrancelha.


“Então era isso?” Ele perguntou: “Vocês realmente esvaziaram a casa?”


“Quase.” Zao Tian respondeu, chegando mais perto: “Alguns pontos tinham que ficar. Mas não tínhamos como evitar que o que aconteceu aqui não acontecesse. Se vocês não tivessem chegado… o que a gente fizesse lá fora não ia adiantar de muita coisa.”


Yan Chihuo inclinou o corpo pra frente, ainda sentado no bloco.


“Mas nós chegamos.” Ele disse, com a simplicidade de sempre.


Zao Tian olhou para o gelo por um instante. Não foi um olhar de triunfo. Foi um olhar de quem reconhecia um problema que tinha sido empurrado para o futuro.


“Estou vendo.” Ele respondeu, sincero: “Vocês seguraram um Grande Deus dentro do próprio quintal e ainda deixaram o quintal inteiro de pé. Dá pra contar nos dedos quem já fez isso.”


Hakim riu baixo.


“Ele tá tentando dizer ‘obrigado’.” O rei de Gard comentou.


“Eu tô dizendo ‘obrigado’ mesmo.” Zao Tian corrigiu: “Se vocês não tivessem segurado Anúbis aqui, ele teria pego Decarius vazio. E, enquanto a gente caçava o Olho lá fora, não ia ter pra onde voltar.”


Yan Chihuo deu um peteleco com a ponta dos dedos no gelo sob si, e o som duro ecoou ao redor.


“Falando nisso…” Ele apontou pra baixo, com um meio sorriso: “O que é que a gente faz com esse aqui?”


Drake, que ainda segurava a lança como bengala, deu uma olhada desconfiada pro bloco.


“Eu voto em jogar no sol.” Ele sugeriu, num meio tom.


Hakim levantou a mão.


“Eu voto em nunca mais abrir.” Ele falou.


Yang Hao não falou nada, mas o olhar dele dizia que, se dependesse dele, o problema teria uma solução bem simples e definitiva.


Zao Tian, por sua vez, respirou fundo.


“Agora?” Ele respondeu, sincero: “Nada.”


Yan Chihuo arqueou uma sobrancelha.


“Nada?” Ele repetiu.


“Nada.” Zao Tian confirmou: “Você consegue manter ele assim por um tempo?”


Yan Chihuo olhou pro gelo, pensativo.


“Depende do que você chama de ‘tempo’.” Ele rebateu: “Dias? Meses? Anos? Até você arrumar coragem pra mexer nisso?”


“Até a gente conseguir respirar.” Zao Tian respondeu: “Agora, todo mundo aqui tá quebrado demais pra tomar uma decisão sobre um Grande Deus preso em um bloco de gelo.”


Hakim assentiu.


“Ele tem um ponto.” Ele comentou: “Eu tô há três dias sem dormir. Se eu for decidir destinos divinos agora, vou mandar vender na feira.”


Gaspar riu, mas o cansaço no rosto dele era óbvio.


“Eu posso manter.” Yan Chihuo acabou aceitando: “Ele não vai julgar nada por um tempo. Nem pro bem, nem pro mal.”


Zao Tian deu um leve sinal de cabeça, em agradecimento.


“Então deixa assim.” Ele disse: “Quando o universo parar de tremer, a gente convoca todo mundo que tem algo a dizer sobre isso e decide.”


Yan Chihuo estreitou o olhar.


“‘A gente’ quem?” Ele provocou.


“Todo mundo que ele tentou pesar.” Zao Tian respondeu: “Decarius, as terras que ele andou marcando. Eu não vou decidir isso sozinho.”


Yan Chihuo olhou de novo pro gelo, pensativo, então voltou os olhos pra Zao Tian.


Naquele olhar, ele viu o ombro pesado. O jeito automático como a mão de Zao Tian apertava o amuleto e soltava, como se estivesse sempre pronto para receber mais uma má notícia. Aquelas olheiras que não existiam quando o conheceu pela primeira vez.


“E mesmo assim…” Yan Chihuo comentou, num tom que não era de crítica, nem de elogio: “Você já tá pensando na próxima desgraça.”


Zao Tian deu de ombros.


“Não é ‘próxima’.” Ele corrigiu: “É a mesma. Só mudou de fase.”


Hakim percebeu o subtexto.


“Zao Rei?” Ele perguntou, direto: “Hatori me falou sobre o tal tratado.”


“Zao Rei.” Zao Tian confirmou.


Gaspar franziu a testa.


“Quem?” Ele perguntou.


“Meu irmão.” Zao Tian explicou, simples: “Eu acabei de oferecer ele como garantia viva pra um tratado com orcs e krovackianos. Agora preciso voltar para o Vale e dizer pra ele que o passeio de fim de mundo dele vai ser um pouco mais… complicado.”


Gaspar piscou duas vezes.


“Você realmente tá colocando seu irmão como refém?” Ele questionou, meio sério, meio incrédulo.


“Ele sempre quis ver o universo.” Zao Tian repetiu a piada, mas o sorriso não chegou inteiro nos olhos: “Eu só encurtei o caminho.”


Yan Chihuo ficou quieto por alguns segundos.


Ele lembrou, sem querer, da primeira vez em que viu aquele mesmo homem, anos atrás, na Província Dourada. Um garoto magro demais pra quantidade de raiva que carregava, andando pela cidade sozinho e com uma ideia suicida: juntar um pequeno exército para enfrentar as principais famílias da cidade e libertar a própria família.


Na época, Yan Chihuo tinha olhado e pensado: ‘Esse moleque morre em três dias.’


Agora, o mesmo moleque estava ali, vivo, com maturidade, liderando tratados entre raças que se odiavam há gerações, oferecendo o próprio sangue para segurar uma paz que poderia não durar, mas precisava existir.


A diferença era absurda. 


“Você não vai descansar, né?” Yan Chihuo comentou.


“Não hoje.” Zao Tian respondeu.


“Nem amanhã.” Hakim completou.


“Nem depois.” Yang Hao adicionou.


Zao Tian não negou.


“Descansar…” Ele disse: “A gente descansa no intervalo entre uma merda grande e outra maior. Eu ainda estou no mesmo problema, só mudei de parte no mapa.”


Yan Chihuo suspirou e desceu finalmente do gelo, batendo as mãos uma na outra como quem limpa o pó.


“Tá bom.” Ele falou: “Eu seguro o cachorro congelado enquanto você vai brincar de política com os orcs e krovackianos. Quando resolver isso, a gente decide o que fazer.”


“Então vamos para casa.” Hakim cortou: “Porque se alguém cair desmaiado aqui, eu não carrego.”


Com aquelas palavras, a pequena roda se desmontou aos poucos.


Zao Tian ficou ainda alguns segundos ali, encarando o bloco de Anúbis.


Yan Chihuo o observou de lado, em silêncio.


“Você cresceu rápido demais.” Ele pensou, mas não disse.


Em vez disso, falou outra coisa:


“Vai logo, Zao Tian.” Ele disse em voz alta: “Enquanto você conversa, tem um irmão seu achando que o único problema do dia é decidir o que vai plantar na próxima estação.”


Zao Tian soltou um riso curto, desta vez sincero.


“Eu vou.” Ele afirmou.


Por fim, ele tocou levemente o gelo com a ponta dos dedos, como se marcasse um ponto de retorno, e então sumiu num salto de luz.




O ÚLTIMO HERDEIRO DA LUZ -UHL | NOVEL

© 2020 por Rafael Batista. Orgulhosamente criado com Wix.com

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