Capítulo UHL 1122 - Dentro do Abismo
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Os dias seguintes passaram como um tipo estranho de calmaria tensa.
Depois da reunião sobre o “casamento élfico”, Zao Tian voltou à rotina que ele fingia ser rotina: tratativas iniciais com Uhr’Gal, respostas secas de Vargan’Zul, mensagens codificadas trocadas com alguns clãs krovackianos, mais reforços nas defesas do Vale, mais encontros com Ming Xiao e com todo mundo que representava um pedaço do futuro.
Zao Rei não tinha data marcada para partir, mas a casa dos Zao já vivia como quem tem uma mala sempre meio pronta.
No resto de Decarius, as cidades voltavam a acender suas luzes, os mortos eram contados, os vivos se abraçavam, e, pouco a pouco, o ataque do Olho começava a virar uma frase no passado.
Só que, em Kaos… o passado ainda estava congelado.
Literalmente.
O bloco de gelo de Anúbis continuava lá, plantado num pedaço morto de mundo, com camadas e camadas comprimidas em torno de um corpo divino que, se dependesse de Yan Chihuo, ia ficar naquela posição até o fim dos tempos.
Mas Zao, porém, Tian não tinha esse luxo.
Chegou uma hora em que todos sabiam que algo devia ser feito. Alguém precisava resolver o problema chamado Anúbis.
E resolver, ali, não significava só “matar”.
Significava decidir como ele morreria… e o que eles arrancariam dele antes disso.
Foi por isso que, alguns dias depois, seis presenças muito pesadas se reuniram ali.
Kaos parecia ainda mais silencioso com eles juntos.
Yan Chihuo estava de pé, como sempre, num pedaço mais alto de rocha. Aos pés, estava o bloco de gelo onde Anúbis dormia: opaco, grosso, sem um único sinal de rachadura.
Hakim estava com os braços cruzados e o olhar sério de quem tinha passado dias resolvendo problemas da reestruturação de Gard.
Yang Hao estava ao lado, com a postura impecável, as mãos para trás e os olhos como duas lâminas frias cortando o cenário.
Daren parecia uma montanha que alguém esqueceu de mover: parado, com sua presença ofuscante e os olhos antigos demais pra qualquer um ali.
Ming Xiao, representando o Vale, mantinha a postura de rei mesmo em Kaos: reto, com a respiração controlada e o olhar pesado.
E Zao Tian, como sempre, ocupava o espaço com aquele tipo estranho de presença. Ele não era um monarca, mas era tão importante quanto todos ali, provavelmente ainda mais, pois tudo que eles estavam prestes a decidir, no fim, ia cair nas costas dele em alguma parte.
Os seis formavam um semicírculo diante do gelo.
Por um tempo, ninguém falou.
Só o vento.
Até que Hakim quebrou o silêncio…
“Então…” Ele disse: “O que a gente faz com o cachorro congelado?”
Yan Chihuo deu um peteleco com a ponta da bota na borda do bloco.
“Eu voto por deixar ele assim como peça decorativa.” Ele comentou: “Mas disseram que vocês querem conversar com o enfeite primeiro.”
Ming Xiao respirou fundo.
“Sabemos que vamos matá-lo.” Ele falou, direto: “Isso não está em discussão. Um Grande Deus como Anúbis não pode ficar vivo. Nem como ameaça, nem como símbolo. A questão é… se conseguimos tirar alguma coisa dele antes.”
Yang Hao assentiu, levemente.
“Desde o ataque frustrado dos deuses a Decarius, antes de Anúbis resolver descer sozinho…” Ele disse: “Temos ouvido que eles se recolheram ao Reino Divino. Mas ninguém sabe pra quê. Nós nem sabemos se isso é realmente verdade.”
“Não sabemos se estão se reorganizando...” Daren completou: “Se estão brigando entre si; se estão se escondendo; se estão esperando algo pior… Estamos cegos. E não gosto de ficar cego com um inimigo vivo.”
Enquanto Daren falava, Hakim encarou o gelo com desprezo.
“Um deles está aqui.” Ele lembrou: “Fechado, quebrado, patético… mas está. Se existe uma chance de saber o que eles estão tramando, está na cabeça dele.”
Yan Chihuo coçou a orelha, olhando para Zao Tian.
“E aí vem a parte óbvia da conversa.” Ele comentou, meio irônico: “O nosso homem que lê mentes.”
Hakim olhou de lado.
“É.” Ele disse, sem rodeios: “Zao Tian, você não pode simplesmente… fazer sua mágica e fuçar na cabeça dele?”
“Simplesmente.” Yan Chihuo repetiu, zombando: “Como se fosse pescar alguns peixes...”
Zao Tian encarou o bloco por um momento, antes de responder.
“Se fosse qualquer outro.” Ele começou: “Eu já tinha feito.”
“Mas não é.” Ming Xiao concluiu, entendendo as ressalvas de seu cunhado.
“Não é mesmo.” Zao Tian confirmou: “Anúbis é um Grande Deus. Ele tem milhões de anos de existência. Milhões de memórias. Milhões de julgamentos, guerras, negociações, conversas entre deuses, entre povos, entre eras que a gente nem tem nome mais.”
Enquanto dizia isso, ele apontou levemente para a própria cabeça.
“Talvez vocês não saibam exatamente como minhas habilidades funcionam.” Ele continuou: “Quando eu vasculho, eu tenho que lidar com muitas memórias que são consideradas ‘lixo’, e não ‘vejo um resumo’. Eu vejo tudo. Cena por cena. Palavra por palavra. E, por causa da minha memória, eu não esqueço. Nada.”
O grupo ficou quieto.
Eles sabiam que não seria fácil, mas as questões pontuadas por Zao Tian eram mais do que um banho de água fria.
Hakim foi o primeiro a falar, dessa vez sem ironia.
“Você acha que não aguenta?” Ele perguntou.
“Não é só uma questão de aguentar.” Zao Tian respondeu, honesto: “Se eu entrar fundo na mente de um ser que viveu o que ele viveu, vou sair com a cabeça dele inteira dentro da minha. Não é que eu ‘possa enlouquecer’. É que eu não sei o que isso faria comigo… É coisa demais.”
Yang Hao estreitou os olhos.
“Está com medo.” Ele constatou.
“Estou.” Zao Tian admitiu, sem rodeios: “Não da dor. Mas de virar outra coisa tentando usar a cabeça de um deus como livro.”
Yan Chihuo, que conhecia bem o homem à frente dele, assentiu de leve.
“Se ele está com medo.” Ele comentou: “Então é porque é sério.”
Ming Xiao respirou fundo e apoiou o cunhado.
“Se forçarmos a situação, podemos perder nosso melhor trunfo contra os próprios deuses.” Ele ponderou: “Não faz sentido trocar a mente de Anúbis… pela do Tian.”
Hakim concordou com um aceno.
“E não adianta torturar.” Yang Hao falou, com convicção: “Um deus desse nível aguentou milhões de almas gemendo. Ele engole a dor. Transformar a dor em espetáculo é parte do trabalho dele.”
“Podemos tentar quebrá-lo de outras formas.” Daren sugeriu, sem emoção: “Vergonha. Humilhação. Isolamento. Mas não é garantido. E não temos meses sobrando pra apostar nisso.”
Houve um silêncio breve.
Foi quando alguém soltou uma ideia que, em outros tempos, talvez fizesse sentido demais.
“E o Tártaro?” Yan Chihuo propôs: “Levar ele pra lá. Deixar que o planeta que eles criaram pra torturar faça o trabalho. Nem precisa ser pra sempre. Só até ele entender que ninguém vai buscá-lo dessa vez.”
Hakim franziu o cenho.
“O Tártaro é o quintal dos deuses.” Ele lembrou: “Não gosto da ideia de jogar um Grande Deus lá e esperar coisa boa.”
Antes que Zao Tian respondesse, Ming Xiao interveio.
“Mesmo que ignorássemos esse risco...” Ele disse: “O Tártaro, hoje, não é mais um lugar vazio.”
Todos olharam pra ele.
“Depois que Íxion se revelou, o panteão não deve ter ficado parado.” Ele falou: “Alguém provavelmente já desceu lá. Pra conferir. Pra entender o que aconteceu. Pra ter certeza de que um de seus ‘irmãos’ não enlouqueceu de vez. Se jogarmos Anúbis lá, o máximo que conseguiremos… é colocá-lo no colo dos outros.”
Hakim concordou com um movimento de queixo.
“Além do mais.” Ming Xiao completou: “Tudo que vier de lá levará tempo. E tempo é o que não temos.”
“Então riscamos Tártaro.” Hakim suspirou: “Riscamos tortura comum. Riscamos enfiar Zao Tian na cabeça dele.”
“Ficamos com o quê?” Yang Hao perguntou, retórico.
Um dilema pesado caiu na roda.
Zao Tian, enquanto isso, olhou para o gelo, pensando alto…
“Quando ele atacou Decarius…” Ele começou: “Não tinha nenhum outro Grande Deus junto.”
“Esse é um ponto.” Daren murmurou, atento.
“Antes.” Zao Tian continuou: “Naquele ataque frustrado de todo o grupo sobre o nosso mundo, eles vieram em peso, com estratégia, com alinhamento. Foram obrigados a recuar. Depois disso, os relatos dizem que se recolheram no Reino Divino. Aí, de repente… Anúbis aparece sozinho. Sem reforço. Sem outro nome grande com ele. É estranho.”
“Ele pode ter agido sem permissão.” Hakim sugeriu: “Vaidade. Ele queria resolver o problema sozinho e virar o herói da história.”
“Pode ser.” Yang Hao concordou: “Ou pode ter sido enviado para medir o terreno enquanto os outros ficavam protegidos.”
“Ou abandonado.” Yan Chihuo acrescentou, com um sorrisinho torto: “Alguém tinha que testar se o mundo humano ainda estava de pé, então deixaram o cachorro velho ir. Se ele vencesse, ótimo. Se morresse… menos um problema interno.”
Daren fez um som baixo na garganta.
“Seja qual for o motivo.” Ele disse: “Isso é uma informação que precisamos. Não é luxo. É uma base para saber como os próximos passos deles virão.”
“E ela está trancada aqui dentro.” Hakim resumiu, encarando o gelo.
Ming Xiao falou: “Não podemos tratar isso como se fosse um prisioneiro comum. É um Grande Deus.”
“Tem uma coisa que os deuses nunca lidam bem.” Yan Chihuo comentou, pensativo: “Não é dor. Não é medo. É o desrespeito.”
“Eles parecem ter uma necessidade exacerbada de serem cultuados.” Yan Chihuo disse: “De serem lembrados. De terem o nome recitado em altares. De serem temidos, respeitados, odiados… o que for. Todo deus parece ser assim.”
Hakim franziu o cenho.
“Você está sugerindo que a gente humilhe o Anúbis até ele abrir a boca?” Ele perguntou.
“Eu tô dizendo que, se alguma coisa vai tirar ele do pedestal, não é dor física.” Yan Chihuo respondeu: “É transformar ‘o Grande Juiz das Almas’ em ‘o cachorro que foi congelado no quintal de Kaos e julgado por mortais’.”
Ming Xiao pensou alto…
“Reescrever a história dele.” Ele murmurou: “Antes de matá-lo, deixar bem claro que a memória que o universo vai ter de Anúbis… é de fracasso.”
“Isso dói neles.” Daren confirmou: “Mais do que qualquer açoite. Eles podem nascer do caos, podem queimar mundos… mas se ninguém mais leva o nome deles a sério, alguma coisa quebra lá dentro.”
Yang Hao, entretanto, ainda parecia insatisfeito.
“Orgulho ferido é bom.” Ele disse: “Mas não garante que ele fale o que queremos. Pode provocar discursos, justificativas, ataques histéricos… e zero informação útil.”
“Também não podemos transformar isso num teatro com plateia demais.” Hakim acrescentou.
Por alguns segundos, o vento tomou a conversa.
Zao Tian ficou calado, mas não estava parado por dentro.
A mente dele rodava.
Reféns. Tratados. Casamentos. Agora, um Grande Deus congelado com um possível segredo de fundo.
A sensação era a mesma: tudo pendurando fios invisíveis no futuro.
“Tem um jeito…” Ele falou, enfim: “Talvez.”
Todos o olharam.
“Falamos de mergulhar na mente dele como se fosse tudo ou nada.” Zao Tian continuou: “Mas não precisa ser assim. Pelo menos não de primeira.”
Yan Chihuo ergueu uma sobrancelha.
“Vai dizer que dá pra roubar só um gole de um oceano?” Ele provocou.
“Dá pra encostar na água.” Zao Tian devolveu: “Ver se queima.”
Ele olhou para o gelo, avaliando.
“Eu posso tentar dar uma espiada.” Explicou: “Não mergulhar. Não puxar memórias, não vasculhar eras inteiras. Só… bater na porta. Ver o que está lá atrás. Se for demais, eu recuo.”
“Você acabou de dizer que tem medo.” Ming Xiao lembrou: “E com razão.”
“Eu não tô dizendo que vou vasculhar tudo.” Zao Tian reforçou: “Só quero saber se tem parede, se tem fogo, se tem… alguma coisa na superfície. Se eu não tentar nem isso, vamos ficar aqui fazendo teorias em cima de um bloco de gelo.”
Hakim respirou fundo.
“É um risco.” Ele disse.
“Tudo aqui é.” Zao Tian retrucou: “O que eu tô propondo é um risco pequeno antes de decidir pelo risco grande. Se eu encostar e quase morrer, ótimo. A gente já sabe que não tem como ir mais fundo e mata essa opção antes de virar loucura.”
Daren considerou.
“Você consegue fazer isso rápido?” Ele perguntou: “Sem se amarrar lá dentro?”
“Consigo tentar.” Zao Tian respondeu.
Yang Hao apertou os olhos.
“Eu não gosto disso.” Ele admitiu: “Mas gosto menos da ideia de ficar completamente cego. Se for para fazer isso, que você faça agora, com a gente aqui. Se alguma coisa der errado, ao menos poderemos te ajudar.”
Hakim deu um sorrisinho curto.
“E se precisar que alguém te acorde a tapa…” Ele completou: “Eu me candidato.”
Ming Xiao suspirou, derrotado pela lógica torta de todo mundo e da situação.
“Faça.” Ele disse, por fim: “Mas se perceber que está passando do limite… pare. Não vá tentar ser herói dentro da cabeça de um deus.”
Zao Tian assentiu.
Yan Chihuo desceu um pouco do seu ponto alto de rocha, aproximando-se do bloco.
“Eu seguro o gelo.” Ele avisou: “Se ele se mexer, se tentar quebrar, se alguma coisa do lado de fora mudar… eu aumento a prisão na hora.”
“Ótimo.” Zao Tian falou.
Ele então deu alguns passos à frente, até parar a menos de um braço do bloco de Anúbis.
Zao Tian fechou os olhos.
O vento ao redor sumiu.
O som de Kaos desapareceu.
Dentro dele, um fio de luz familiar se acendeu e relâmpagos verdes começaram a estalar.
“Vai com calma, moleque.” A voz de Gold resmungou, em algum lugar atrás dos olhos: “Você já fez merda demais por impulso.”
“Eu sei.” Zao Tian respondeu em pensamento, sem abrir a boca.
Depois, ele estendeu a mão, devagar, até encostar a ponta dos dedos no gelo.
A respiração diminuiu. O coração desacelerou.
Zao Tian então começou.
De forma contida, ele não forçou. Ele apenas encostou.
Foi como bater na porta de uma casa velha.
Por um instante, nada aconteceu.
Silêncio.
Escuro.
Um vazio estranho, como se ninguém estivesse em casa.
Zao Tian franziu o cenho, ainda de olhos fechados.
“Vazio?” Ele pensou, estranhando.
E foi aí que algo… respondeu.
Não foi uma voz… Foi um peso.
A sensação foi como se o escuro, de repente, tivesse virado líquido e se mexido. Um mar sem cor se contorcendo.
Um ruído incomum atravessou a mente dele, como um arranhar de pedra em vidro.
E, no meio desse breu denso, alguma coisa se abriu.
Definitivamente, aquilo não era Anúbis.
Não havia chacal. Não havia balança. Não havia memórias de julgamentos desfilando.
Havia um olho.
Um único olho.
Gigantesco.
Brilhante.
Azul.
Ele surgiu no meio daquele vazio como se rasgasse o próprio escuro de dentro pra fora. Ele não tinha pálpebras comuns; era como se o espaço em volta fosse a carne, e ele se abrisse devagar, revelando um brilho intenso, frio, que nada tinha de normal.
Zao Tian sentiu o estômago revirar instantaneamente.
O olho, por sua vez, não estava numa cabeça. Ele era a coisa toda.
E, pior do que isso… ele se mexeu.
Não era uma visão ou um resquício de memória passiva. Aquilo ali reagiu.
A pupila azul, funda, deslizou pelo nada e parou exatamente onde ele estava.
E olhou de volta.
Naquele segundo, Zao Tian entendeu o que era ser, de repente, a menor coisa numa sala.
O peso que veio daquele olhar era muito além do físico.
Foi uma pressão absurda, esmagadora, que desceu sobre a alma dele como se alguém tivesse colocado o universo inteiro nas costas de um inseto.
As veias espirituais de Zao Tian começaram a queimar, a arder.
As memórias dele, todas elas, de uma vez, pareceram querer se espalhar, escapar, como se aquele olhar chamasse cada imagem, cada rosto, cada guerra, cada dor, para serem remexidos.
Ele tentou recuar.
Mas nada aconteceu.
Por meio instante, Zao Tian ficou preso.
Aquele olho o avaliava, repreendia e humilhava.
Aquilo não era nenhum dos deuses que ele tinha visto, ouvido ou enfrentado. Havia ali um tipo de poder que fazia até os próprios Grandes Deuses parecerem… subordinados.
Enquanto isso, o olho continuava encarando, com um interesse frio e calculista, de quem vê um erro andando sozinho.
Os joelhos de Zao Tian fraquejaram, lá fora, e o corpo dele balançou.
Yang Hao imediatamente deu um passo à frente.
“Zao Tian?” Ele chamou.
Ele não deu nenhuma resposta sequer.
Por dentro, o mundo de Zao Tian estava ruindo.
O olho se estreitou um pouco, como quem focava melhor. Então, algo começou a girar dentro daquela pupila azul, como espirais se abrindo.
Aqui parecia estar puxando sua alma, mas quando parecia que ele ia ser puxado para dentro de vez…
Uma mão o agarrou por trás.
Metaforica e literalmente.
Uma força brutal, familiar, atravessou o espaço interno da mente dele como se fosse uma lança de luz, se enroscando na cintura da consciência de Zao Tian e puxando com tudo.
“JÁ CHEGA.” A voz de Gold cortou o vazio, como uma ordem: “Sai daí, moleque!”
Por um fragmento de segundo, Zao Tian sentiu duas coisas ao mesmo tempo:
A mão de Gold arrastando-o pra trás… e o olho se abrindo mais, como se tivesse percebido não só ele, mas quem estava conectado a ele.
Por causa disso, o peso aumentou, tentando puxá-lo de volta.
Gold xingou algo, mas Zao Tian não conseguia ouvi-lo mais.
“Eu disse pra você parar de enfiar a cara onde não é chamado!” O Arcanjo rugiu na mente dele: “Segura firme!”
Ao cair daquelas palavras, a luz dentro dele explodiu, cortando o vínculo de forma abrupta.
Enquanto era arrancado daquele ‘espaço’, Zao Tian viu o olho azul se distorcer, a imagem rachar, e o mundo interno fazer um estalo, como gelo quebrando, e tudo se apagou.
Do lado de fora, o corpo de Zao Tian foi jogado para trás.
Ele caiu duro no chão, como se alguém tivesse cortado os fios que o sustentavam. As costas dele bateram na pedra, e o ar saiu dos seus pulmões num baque.
Yan Chihuo se moveu na hora.
Hakim avançou dois passos.
Ming Xiao já começou a analisá-lo e pensar em tartamentos.
Daren apenas observou, atento.
Yang Hao, que se abaixava ao lado do corpo, parou quando viu os olhos de Zao Tian.
Eles estavam abertos.
Muito abertos.
Não havia sangue, nem espuma, nada melodramático. Só pupilas dilatadas e respiração presa, como se ele tivesse acabado de ver algo que o corpo ainda não tinha entendido.
“Zao Tian.” Ming Xiao chamou.
Nenhuma resposta. Ele parecia em transe.
Por dentro, a voz de Gold ainda ressoava.
‘Respira, porra!” Ele ordenou: “Eu já tirei você daí. Ele não te pegou!”
Enquanto aquelas palavras soavam, o ar voltou aos poucos.
Os dedos de Zao Tian tremeram, e ele puxou o vento devagar, como quem reaprende a usar o próprio peito.
Yan Chihuo se inclinou sobre ele, olhando de forma séria e perplexa.
“O que foi isso?” Ele perguntou.
Zao Tian piscou pela primeira vez, com o foco voltando ao mundo real.
Ele não respondeu de imediato.
Em vez disso, ficou olhando pro céu de Kaos, como se o planeta estivesse muito pequeno de repente.
Dentro da cabeça dele, Gold soltou um suspiro que era metade alívio, metade raiva.
“Parabéns, moleque.” Ele rosnou: “Você acabou de fazer a coisa que eu mais te disse pra não fazer.”
Zao Tian engoliu seco, ainda encarando o nada.
“Que coisa?” Ele pensou, cansado.
Gold respondeu, sem humor: “Você olhou pro abismo… e o abismo olhou de volta.”
