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Capítulo UHL 1132 - Sem Tempo

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Tenham uma boa leitura!]


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Depois de muitas revelações e um período de reflexão por parte dos líderes mundiais, uma nova reunião foi marcada, para tratar dos problemas que a humanidade tinha pela frente.


De novo, o local escolhido foi o Vale da Esperança.


Naquele dia, quando todos se reuniram, o salão do Vale da Esperança tinha o silêncio de quem entende que, às vezes, não existe uma boa resposta, só a menos pior.


Zao Tian estava de pé, com as mãos apoiadas na mesa. Ao redor, Ming Xiao, Hakim, Yan Chihuo, Yang Hao e Daren ocupavam seus lugares. Não havia formalidades ali, apenas um senso comum de urgência.


“Então voltamos ao começo.” Zao Tian começou: “Não sabemos se o ‘Sábio’ de Anúbis é Salomão, mas temos que agir como se fosse.”


“Qualquer alternativa é irresponsável.” Hakim respondeu: “Se for outro, o problema muda de nome, mas não de escala.”


Daren, mesmo entre líderes mundiais, parecia uma parede antiga. Ele tinha o tipo de presença que ofusca tudo ao redor.


“Precisamos entender os nossos recursos.” Daren disse: “E precisamos contabilizar os que não nos traem.”


Yan Chihuo inclinou levemente a cabeça.


“A Singularidade era o nosso multiplicador.” Ele falou: “Mas agora… agora ela está virando um divisor.”


Ming Xiao assentiu.


“Os relatos mais recentes são consistentes.” Ele disse: “A ‘doença dos mil anos’ está aparecendo abaixo do limiar clássico. Antes, víamos uma desassociação forte perto do milésimo anos dentro dos ciclos. Agora, com estresse alto e retorno rápido ao fronte, alguns estão fraturando na casa dos setecentos, oitocentos anos de loop acumulado. Outros, mesmo longe do número, começam a confundir sequências de memórias. As linhas de tempo pessoais… estão ficando cada vez mais confusas para eles.”


Yang Hao fechou os olhos por um instante, como quem organiza mapas invisíveis.


“Isso significa que cada viagem seguinte cobra mais caro do que a anterior.” Ele resumiu: “‘Ganhar tempo’ começou a custar gente.”


“Gente boa.” Yan Chihuo completou: “Veteranos que não podem ser substituídos.”


Zao Tian, entendo tudo aquilo, sabendo que iria acontecer uma hora ou outra, mas até há pouco torcendo pela sorte, respirou fundo.


“Então paramos?” Ele perguntou, provocando.


“Não.” Daren cortou: “Mas precisamos mudar e reorganizar.”


Hakim seguiu o raciocínio.


“Precisamos separar duas coisas.” Ele disse: “A Singularidade como instrumento de base, para formar um soldado comum em meses, e a Singularidade como escada para saltos impossíveis. A primeira ainda vale. A segunda, para a maioria, virou uma armadilha.”


“E mesmo a primeira precisa de limites.” Ming Xiao acrescentou: “Protocolos de retorno que forçam a mente a lembrar-se de qual ‘amanhã’ é o verdadeiro.”


“Sem projeções.” Yang Hao lembrou: “Sem teatro mental. Tudo tem que ser físico e rastreável.”


“Sim.” Ming Xiao confirmou: “Âncoras materiais. Rotinas de escrita manual com caligrafia aferida. Sinais olfativos únicos no quarto de retorno. Companheiros fixos que não entram no loop e fazem perguntas cujas respostas ‘só’ existem fora. Cada soldado que voltar terá um ‘par exterior’ para reatar o fio. Não resolve, mas atrasa o colapso.”


Yan Chihuo olhou de lado para Daren.


“E limites de estadia.” Ele disse: “Ciclos curtos, intervalos longos. Quem já passou de seiscentos anos acumulados não entra por enquanto. Quem cruzou oitocentos, está interditado.”


“Interditado não significa inútil.” Daren afirmou: “Significa que será usado fora da Singularidade, como instrutor, ponta de lança, guardião de pontos críticos. Melhor um veterano inteiro no terreno do que um monstro quebrado no tempo.”


Hakim fez um gesto com a mão, como quem encaixa uma peça.


“Isso nos deixa com um problema óbvio.” Ele falou: “Sem ciclos longos, o salto de poder volta a depender do caminho antigo: encontrar um rio maior.”


Ninguém pediu uma definição do que ele disse. Todos conheciam o caminho do cultivo: o universo como um oceano de energia espiritual, cortado por rios e afluentes. Cada rio era um patamar de existência. A maioria morria nos médios e inferiores. Pouquíssimos viam os grandes.


“Voltamos à dificuldade crescente.” Zao Tian disse: “Quanto mais alto, menos referências se tem. E, também, com menos necessidade de sobreviver, a vontade despenca.”


“A vontade é um fator preponderante…” Daren respondeu, calmo: “Mas para estimulá-la, tem que existir um custo muito alto do outro lado.”


Yang Hao apoiou os dedos sobre a mesa.


“Então vamos fabricar a necessidade.” Yan Chihuo sugeriu.


“A ideia é boa, mas pode virar uma roleta russa.” Hakim rebateu: “Se criarmos um precipício e dissermos ‘salta’, só vamos trocar talentos por estatísticas.”


“Concordo.” Ming Xiao disse: “Necessidade não é suicídio. Num cenário real e com custos reais… as saídas serão muito estreitas.”


Zao Tian passou a mão na cabeça, pensando.


“Proponham caminhos.” Ele pediu: “Com risco e retorno que possam ser medidos.”


“Então vamos tirar a venda primeiro.” Hakim disse: “Missões às cegas criam heróis… e tiranos. E, neste momento, heróis indomáveis e tiranos são igualmente perigosos.”


“Concordo.” Ming Xiao respondeu: “Se alguém sai sozinho ‘para buscar um rio’, ele pode acabar destruindo nações e acordos que não conhece. Um erro com uma terceira raça, e perdemos décadas de diplomacia.”


“Então não empurraremos ninguém para o vazio.” Yan Chihuo resumiu: “A necessidade que fabricaremos deve ser uma obrigação assumida diante de outras forças da criação.”


Yang Hao apoiou os dedos na mesa.


“Mais tratados.” Ele disse: “É disso que estamos falando.”


Zao Tian assentiu uma vez.


“Tratados são armas...” Ele completou. “E freios.”


Daren inclinou a cabeça, medindo o peso das palavras.


“Se os deuses têm dezenas de Grandes Deuses, precisamos que cada um deles olhe para mais de um fronte desde o primeiro dia.” Ele disse: “Isso só será possível se elfos, krovackianos e orcs selarem a nossa matemática e assumam compromissos que os obriguem a se expor em múltiplas direções.”


“Sem isso…” Hakim continuou: “As coisas ficarão complicadas.”


“Até agora, tínhamos uma capacidade de defesa decente. Tínhamos guerreiros de segundo escalão capazes de lutar contra um deus Protetor no um contra um… mas agora, se eles estão se fortalecendo mesmo… Talvez, na melhor das hipóteses, um Protetor valerá por vinte destes mesmos guerreiros. Grandes Deuses, então, nem se fala.”


“Eu já estou cuidando dos tratados e levarei tudo isso em consideração...” Zao Tian dobrou as mãos sobre a mesa, como quem encerra uma fase para começar outra: “O que precisamos está claro… é dividir para conquistar.”


“Se eles escolherem um ponto, o resto de nós precisa reagir como se tivesse levado a mesma pancada.”


“Mas nós não podemos concentrar esforços demais em um único ponto.” Ming Xiao acrescentou: “A resposta a um eventual ataque tem que nascer longe, em três ou quatro direções, imediatamente.”


Yan Chihuo apoiou os punhos, com os braços rígidos como pilares: “Quando eles puxarem o tapete, empurramos as paredes. Não importa qual sala escolham.”


Yang Hao comentou,  sem pressa: “Isso vai atrasá-los, mas não vai pará-los.”


Daren concordou com um movimento de cabeça.


“Mas o atraso para nós será como ouro.” Hakim frisou: “Porque já que não vamos ganhar tempo com a Singularidade, precisamos ganhar tempo quebrando a agenda deles.”


“Podemos ganhar tempo, mas ainda não o temos a nosso favor.” Daren finalmente comentou, antes de explicar: “Nossas forças, para serem repostas, levam milhares de anos. Enquanto os deuses… eles já nascem com plenas capacidades de serem jogados no campo de batalha.”



O ponto levantado por Daren era extremamente válido e preocupante, afinal, uma guerra prolongada contra os deuses não seria favorável à humanidade, pois havia uma disparidade inalcançável em relação à formação de novos soldados entre cada um dos lados.


Diferente dos humanos que levam centenas ou milhares de anos para alcançar um nível parecido com o de um deus Protetor, os seres divinos já retornam no seu auge. Apesar de necessitarem de um processo de fortalecimento para competir com os grandes, os deuses teriam todas as suas forças à disposição de novo em poucos anos, mesmo que perdessem a guerra em todas as frentes.


Além do problema da reencarnação dos deuses, a eternidade de cada divindade era outra questão que potencializava a dor de cabeça. Eles viviam para sempre, mesmo que mortos ou deixados de lado, então, como acabar com eles em uma guerra de resistência?


A humanidade estava em um beco sem saída, onde podia planejar como se defender e até contra-atacar, mas não podia vencer para sempre.


Mesmo que cada ser humano que nascesse usasse a Singularidade para treinar novos soldados, a taxa de natalidade iria cair gradualmente, porque, em uma guerra contra os deuses, cada soldado seria necessário, e à medida que mais e mais humanos morressem, menos filhos seriam gerados.


A derrota viria com o tempo.


Por mais que eles conseguissem se defender, o tempo faria o trabalho de extinguir a raça humana.


O silêncio voltou como uma maré fria.


Ninguém ali precisava de um quadro para entender o que Daren apontava. A conta era simples e antiga: eles voltavam. Nós não.


“É isso.” Hakim disse: “Podemos impedir quedas, mas não podemos acompanhar o ritmo de formação de soldados deles.”


Ming Xiao baixou os olhos para as próprias mãos, como se esperasse ver nelas um truque esquecido.


“Uma geração inteira para formar um Protetor… duas para alguém encarar um Grande Deus.” Ele falou baixo: “E agora… nem a primeira a gente consegue tem certeza se conseguirá deixar preparada.”


Yang Hao respirou fundo, e o som pareceu maior do que era.


“Quando a guerra começar, vai faltar mão de obra no primeiro mês.” Ele disse. 


Ninguém corrigiu.


Zao Tian, por sua vez, não respondeu de imediato. A mente dele estava em outra prateleira: não era tática, era algo mais humano. Ele pensou nos que já tinham passado anos demais na Singularidade; nos que voltaram com o olhar desalinhado; nos que, por disciplina, ainda lutavam, e, por isso mesmo,seriam os próximos a ceder.


“Não temos reservas.” Ele admitiu: “O que chamamos de ‘reserva’ era um truque de relógio. E o relógio quebrou.”


Yan Chihuo apoiou a nuca na cadeira e encarou o teto, como se tentasse ouvir um som que não vinha.


“Mesmo que ninguém mais morresse hoje…” Ele disse: “A conta de amanhã já estaria no vermelho.”


A palavra “amanhã” percorreu o salão com um desconforto unânime. Eles viviam longas datas, mediam eras com a calma de quem vê montanhas crescerem, e, ainda assim, naquele instante, tudo parecia curto demais, estreito demais, rápido demais.


“Os que estão prontos…” Hakim começou, e não terminou. A sentença morreu na boca dele, porque todos sabiam os números. 


Prontos? Poucos. Prontos o suficiente, para todos os deuses? Ninguém.


Ming Xiao então ergueu o rosto, sério.


“Estamos falando da extinção.” Ele disse, sem papas na língua: “Não do mundo. Da maneira humana de estar nele.”


Daren não contestou. E seu silêncio tinha a forma de um veredito.


“Mesmo que segurássemos todas as frentes…” Ele disse, enfim: “Cada vitória nossa consumirá tempo de gente que não volta. Cada vitória deles… será apenas lucro, porque eles voltam.”


Zao Tian sentiu a frase entrar na carne como uma lâmina lenta. Era isso. O mundo poderia aplaudir cada escudo erguido, cada avanço, cada noite sobrevivida, e, por baixo, o estoque vital continuaria encolhendo. Não havia contingente novo chegando, não havia geração de reposição capaz de acompanhar o ritmo da guerra que estava por vir, não havia um berçário de soldados preservado para o mês seguinte.


“E não podemos simplesmente ‘fabricar’ crianças para a guerra.” Ming Xiao acrescentou, amargo: “Porque, quando fossem pessoas… já seria tarde.”


Ninguém ali queria dizer “natalidade”. A palavra soava suja na boca de quem lutava por mais do que números. Mas a aritmética continuava batendo com os nós dos dedos na mesa: menos vidas, menos futuros, menos rios encontrados, menos tudo.


“Os que ainda podem entrar…” Disse Yan Chihuo: “Não devem. A doença está chegando antes. Se eu mandar um oficial meu por mais um ciclo… eu perco um capitão amanhã para ganhar um fantasma depois de amanhã.”


“E se não mandar…” Hakim respondeu: “Você perde três soldados quando o próximo Protetor aparecer fortalecido.”


Era um garrote. De um lado, a Singularidade estava apodrecendo mentes prematuramente. Do outro, a nova escala dos inimigos, tornando inútil o que antes era coragem suficiente.


“Não tem decisão limpa.” Yang Hao admitiu: “Tem apenas a que dói menos hoje e cobra mais caro depois.”


Zao Tian releu em silêncio as últimas décadas de planejamento, mesmo dentro da SIngularidade, como quem passa os dedos por uma corda gasta. Eles haviam acreditado, por um intervalo curto e precioso, que o truque do tempo lhes daria uma chance honesta. Treinar milênios em meses soava como justiça cósmica atrasada. Agora, o preço veio com juros. 


“Mesmo se eu achar um novo rio…” Ele disse, calmo e sincero: “Eu não viro dois.”


A verdade era feia e cabia inteira numa frase. Nenhum avanço individual multiplicaria pessoas. A lacuna também era demográfica. E, pior… era moral. 


Não havia como pedir a uma espécie para que parisse soldados na velocidade em que os deuses renasciam como monstros.


“Então…” concluiu Hakim, com a voz rouca de cansaço por tanto pensar nos últimos dias: “Não temos tempo para formar mais ninguém. E os que temos… não são suficientes para quando eles vierem.”


Ming Xiao fechou os olhos como quem sela uma carta que não gostaria de enviar.


“Mas vamos lutar assim mesmo.” Ele disse: “Mas que fique claro, ao menos entre nós: ninguém aqui vai prometer um reforço que não existe.”


Yan Chihuo mexeu o ombro, desconfortável na pele do óbvio: “E ninguém vai enganar as tropas com metas que o tempo não comporta.”


“Não vamos.” Zao Tian confirmou, firme, mas baixo.


A palavra “não” ficou um momento suspensa, e, com ela, a forma exata do que podiam fazer: lutar com o que tinham, sabendo que cada queda doeria em décadas, cada morte arrancaria uma cidade do futuro, e cada escolha correta viria sem festa.


Daren encostou os dedos na mesa. O gesto, pequeno, chamou os olhos de todos.


“Se a espécie tiver que atravessar este inverno…” Ele disse: “Vai atravessar com menos gente do que entrou. E é possível que, do outro lado, não haja ‘espécie’ no sentido em que usamos hoje. Talvez sobrem alguns nomes. Talvez sobrem só memórias.”


Ninguém gostou do que ouviu. Mas ninguém discutiu. A batalha não se ganhava em estatuto. Ganhava-se em sobrevivência, e, naquela escala, a sobrevivência já estava comprometida.



O ÚLTIMO HERDEIRO DA LUZ -UHL | NOVEL

© 2020 por Rafael Batista. Orgulhosamente criado com Wix.com

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