Capítulo UHL 1145 - Totalmente Enganado
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A fenda que levou Zao Tian de volta para Decarius não foi aberta com pressa.
Ainda no lado de Uhr’Gal, ele ficou alguns segundos em silêncio, com a atenção presa no lugar que não ocupava mais.
Zao Rei.
O tratado tinha sido consolidado, os reféns tinham sido distribuídos como facas cruzadas, e o irmão dele agora estava preso ao lado certo da política e ao lado errado do conforto.
Zao Tian não ficou olhando para trás como quem duvida. Ficou como quem grava.
Shara’Kala não veio com ele.
Ela ainda tinha deveres em Uhr’Gal, ainda tinha uma parte do acordo que só ela podia segurar sem que virasse outra guerra. Além disso, a presença dela ali era o tipo de coisa que acalmava alguns e irritava outros, e, naquele momento, qualquer irritação extra era um risco desnecessário.
Rhazek’Zul ficou um passo atrás.
Ele tentava manter a postura de quem não tinha nada a perder, mas o peso da despedida ainda estava colado nele como poeira.
Zao Tian não ofereceu palavras grandes.
Apenas virou o rosto para o filho de Vargan’Zul e falou o mínimo que precisava ser dito: “Você vem comigo.”
Rhazek’Zul assentiu, sem ser capaz de decidir se aquilo era destino ou punição.
Zao Tian estendeu a mão, e o espaço cedeu de novo.
A fenda se abriu limpa, precisa, sem rasgar a realidade como quem briga com ela.
Rhazek’Zul atravessou… e o mundo mudou.
Decarius não o recebeu com um céu bonito, nem com uma paisagem de cartão.
Recebeu com trabalho.
O primeiro impacto que ele sentiu foi o da presença.
Energia espiritual por todo lado, como uma rede em expansão, não concentrada em um único ponto, mas distribuída em múltiplas frentes.
O segundo impacto foi o do movimento.
Tinha gente demais, em todos os sentidos possíveis.
Aquilo não era um ajuntamento feito por tradição ou por medo. Era uma mobilização.
Rhazek’Zul parou por um instante, e o corpo dele hesitou como se tentasse aceitar que aquilo era real.
No horizonte mais próximo, o céu tinha marcas de atividade que ele nunca tinha visto em grande escala.
Não eram “lugares de treinamento”.
Não eram “campos de batalha”.
Eram pontos de trabalho.
Organizados.
Sincronizados.
Zao Tian não ficou observando a reação dele como quem busca prazer em impressionar.
Ele apenas deixou o silêncio existir o suficiente para o garoto concluir sozinho o óbvio.
Aquilo já tinha começado.
Gaspar e Joster não estavam mais “pensando” no escudo planetário.
Eles estavam construindo o começo dele.
Mesmo sem a casca estar fechada, o projeto já tinha virado uma engrenagem real presa no planeta inteiro.
Equipes haviam sido formadas em múltiplas regiões, com funções diferentes.
Havia grupos destinados a auxiliar na sustentação temporária de segmentos enquanto as primeiras faixas eram iniciadas.
Havia grupos focados em medidas de segurança escalonadas, caso algum trecho perdesse estabilidade.
Havia inspeções constantes de pontos de falha e fraqueza, não só por respeito ao material, mas por respeito à consequência de qualquer ponto fraco.
Cada falha naquele projeto não era um “erro”. Era uma catástrofe em potencial.
E o planeta inteiro estava se comportando como um organismo que entendeu isso.
Rhazek’Zul olhava em volta sem conseguir esconder o choque, e, por alguns segundos, não foi arrogância o que apareceu nele. Foi algo mais difícil de aceitar.
Admissão.
Ele tinha crescido ouvindo que os humanos eram frágeis demais para sustentar decisões grandes; Que humanos improvisavam demais; Que humanos só venciam por trapaça ou por sorte.
Contudo, ali, o que ele via era outra coisa.
Ele via o tipo de inteligência que não conversava com o que aprendeu.
Ele via planejamento.
Ele via execução.
Todos estavam dividindo funções.
Construindo redundâncias.
Calculando o pior cenário e trabalhando como se ele fosse o padrão.
Rhazek’Zul casou de apenas observar e falou, por fim, porque o silêncio dentro dele começou a pesar.
“Isso…” Ele disse, e a frase travou.
Zao Tian esperou.
Rhazek’Zul tentou de novo: “Vocês realmente vão tentar cobrir o planeta inteiro!?”
Não era uma pergunta. Era uma constatação, quase como quem diz um nome proibido.
“Vamos.” Zao Tian respondeu.
Rhazek’Zul ainda encarava o movimento.
Ele viu gente demais trabalhando em algo que não dava glória individual.
Ele viu coordenação entre regiões que, em qualquer outro mundo, seriam rivais.
Ele viu o tipo de disciplina que só aparece quando um povo decide que não vai mais ser vítima do acaso.
Zao Tian então disse a frase que, na cabeça dele, era só uma consequência.
Na cabeça de Rhazek’Zul, era insolência.
“Em breve, Decarius será o lugar mais seguro do universo!” Zao Tian afirmou.
Rhazek’Zul virou o rosto, instintivamente, como se fosse rebater, mas não encontrou uma brecha fácil.
Nada ali parecia mentira.
E Zao Tian completou, sem alterar o tom: “Enquanto você estiver neste solo, você estará em segurança.”
Rhazek’Zul engoliu seco, pois a ideia de estar “em segurança” em território inimigo era contra tudo o que ele tinha aprendido.
E, no entanto, olhar para aquela mobilização e continuar chamando aquilo de fragilidade exigia uma teimosia que beirava a burrice.
Zao Tian não alongou.
Não fez discurso.
Ele apenas abriu outra fenda.
“Vamos para o Vale.”
A transição foi curta.
E, quando a realidade se fechou atrás deles, o ar mudou.
O Vale da Esperança tinha um peso diferente.
Não por ser menor, mas por ser um lugar onde a defesa já existia e já era parte do cotidiano.
A cúpula estava lá, translúcida, imensa para qualquer um que não tivesse sido obrigado a pensar em escala planetária.
Rhazek’Zul parou antes mesmo de entrar totalmente sob o domo.
Ele ficou olhando para cima, em silêncio.
A barreira não fazia barulho.
Não ameaçava.
Mas impunha.
Era um teto que não tinha a menor intenção de ceder.
Zao Tian caminhou até a borda interna, e Rhazek’Zul veio atrás.
Assim que atravessaram o limite, a sensação mudou de novo.
Não era só o ar. Era o sentimento de estar “dentro”.
E o garoto, que até então tinha segurado tudo dentro do peito, fez a coisa mais simples do mundo…
Ele estendeu a mão e tocou.
Os dedos encostaram no diamante, e a estrutura não estava fria como metal; Não estava quente como uma pedra ao sol.
Ela estava… estável. Como se o material não reconhecesse a necessidade de reagir ao toque dele.
Rhazek’Zul pressionou um pouco mais, e a resistência foi absoluta.
Ele retirou a mão devagar, como se tivesse encontrado algo que não se discute. E então a conclusão saiu sem que ele percebesse: “Eu não consigo nem arranhar isso.”
Zao Tian assentiu, olhando para o domo como quem olha para um ensaio e não para o ápice.
“Não consegue.” Ele disse.
Rhazek’Zul manteve o olhar preso na barreira.
Ele tinha vivido em mundos em que fortalezas eram feitas para intimidar visitantes, mas aquele domo não parecia isso.
Aquilo parecia uma decisão tomada para proteger quem estava dentro, mesmo que o preço fosse absurdo.
Zao Tian percebeu o tipo de interpretação que nascia no rosto dele e corrigiu antes que virasse um veneno.
“Isso não é uma prisão.” Ele disse.
Rhazek’Zul olhou para ele.
Zao Tian apontou o queixo para o Vale, para as casas, os campos, os caminhos, a vida acontecendo debaixo do mesmo teto.
“Todos aqui vivem debaixo disso.” Ele expressou. E então falou a verdade sem romantizar: “Foi a única forma que eu encontrei de garantir que ninguém fosse esmagado por uma surpresa.”
Rhazek’Zul calou.
A palavra “surpresa” em bocas humanas tinha um peso diferente do que teria em bocas krovackianas.
Krovackianos falavam de surpresa como uma vantagem.
Humanos ali falavam de surpresa como um trauma.
Zao Tian não ficou parado por muito tempo.
Ele já tinha assumido aquela rotina de conduzir sem dramatizar, e Rhazek’Zul estava percebendo isso aos poucos.
Eles cruzaram o Vale, e alguns olhares acompanharam.
Olhares curiosos, mas, também, olhares de pessoas que sabiam o que era perder alguém para um inimigo.
Rhazek’Zul sentiu isso na pele, como um julgamento silencioso.
Zao Tian não disse “ignore”.
Não disse “não ligue”.
Porque aquilo seria uma mentira fácil.
Ele apenas continuou andando, como se afirmasse com o corpo inteiro que ninguém ali faria justiça com as próprias mãos.
Depois de alguns minutos, eles chegaram a uma propriedade grande, cercada por formações e limites claros.
Não era um luxo. Era um espaço pensado para acomodar alguém que não podia estar no meio de todo mundo sem virar um problema.
E, na entrada, havia uma presença aguardando.
Íxion não precisou fazer nada para ser notado.
O ambiente já o reconhecia.
Rhazek’Zul parou de novo, e dessa vez o choque não veio de material, nem de engenharia.
Veio de entendimento.
Ele sabia o que era aquilo.
Ele sabia o que significava.
Ele então olhou para Zao Tian como se esperasse uma pegadinha.
Zao Tian não deu espaço para especulação.
“Íxion.” O nome saiu como realmente era, um nome, não como um título.
E isso, por si só, era estranho.
Zao Tian virou para Rhazek’Zul e explicou o que precisava ser dito para ser confirmado: “Ele é um deus.”
Rhazek’Zul não respondeu. O corpo dele ficou rígido como se estivesse decidindo se atacar era reflexo ou burrice.
Zao Tian continuou, com a frieza calma de quem não tenta convencer ninguém com emoção.
“Ele foi traído pelos irmãos.” Ele disse: “E agora vive entre nós.”
Rhazek’Zul não conseguiu esconder a incredulidade que apareceu na sua expressão.
“Vocês…” Ele começou, e a voz travou.
Então ele jogou a frase inteira como se precisasse arrancar aquilo do próprio peito: “Os deuses são o maior inimigo declarado de vocês.”
Zao Tian assentiu: “São.”
Rhazek’Zul olhou de novo para Íxion, como se buscasse alguma falha, algum indício de que aquilo era uma armadilha para matar o krovackiano.
Zao Tian deu o ponto central, direto: “Ele já protegeu este lugar contra os próprios irmãos.”
Rhazek’Zul ficou em silêncio, pois a lógica do mundo dele dizia que isso era impossível.
Contudo, a realidade diante dele dizia que o impossível já tinha sido ultrapassado várias vezes naquela semana.
Zao Tian completou com a parte que tornava tudo ainda mais desconfortável: “Vocês vão morar juntos.”
Rhazek’Zul virou o rosto de novo, como se tivesse ouvido errado: “Como é?”
Íxion não reagiu com provocação.
Ele não precisava.
A presença dele era suficiente para qualquer um se lembrar de que aquilo não era um jogo seguro.
Zao Tian então explicou sem floreio.
“Esta propriedade é grande o suficiente para acomodar vocês com espaço.” Ele disse: “E é isolada o suficiente para que o Vale não vire um tumulto todo dia.”
Rhazek’Zul respirou fundo.
No começo do dia, ele tinha esperado uma cela. Agora, ele recebia uma casa e um vizinho?
E pior… o vizinho era um deus?
Enquanto o krovackiano pensava, Zao Tian levantou a mão e delimitou, no ar, um conjunto de limites.
Não como uma prisão. Como protocolo.
“Por enquanto, você vai poder transitar dentro desta área.” Ele disse.
Rhazek’Zul franziu o cenho: “Por quê?”
Zao Tian respondeu com uma honestidade simples: “Porque o Vale precisa se acostumar com sua presença.”
Rhazek’Zul ia retrucar, mas Zao Tian cortou o impulso com um detalhe que tornava a restrição mais difícil de chamar de insulto: “Íxion passou por isso quando chegou.”
Rha zek’Zul olhou para odeus sem saber o que fazer com a informação.
Zao Tian continuou.
“É temporário.” Ele disse: “Alguns dias. Talvez mais, depende da reação das pessoas.”
Ele não prometeu rapidez, nem pediu compreensão. Só afirmou o que era.
Rhazek’Zul ficou em silêncio, absorvendo o fato de que humanos estavam aplicando contenção até com um deus dentro de casa.
Zao Tian então concluiu, como quem fecha um contrato verbal: “Qualquer coisa que você precisar será fornecida por mim ou pelo Ming Xiao.”
Rhazek’Zul conhecia o nome de Ming Xiao.
Ele conhecia pelos relatos da guerra contra o Olho, pelos boatos, pelo peso político.
E perceber que Zao Tian estava colocando alguém daquele nível como parte do suporte de um “refém” mexeu ainda mais com o que ele acreditava sobre a humanidade.
Rhazek’Zul ficou parado por alguns segundos.
Ele olhou para o chão.
Olhou para o domo ao longe.
Olhou para a propriedade.
Olhou para Íxion.
E então, sem querer, deixou escapar.
“Obrigado.”
A palavra saiu como um reflexo errado, quase como se ele mesmo não tivesse autorizado.
Zao Tian olhou para ele e, pela primeira vez desde o início daquela sequência de eventos, deixou um sorriso curto aparecer.
Não foi deboche. Foi um cansaço suave.
“Você não precisa me agradecer.” Ele disse: “Eu não estou fazendo nada demais.”
Rhazek’Zul ia dizer que aquilo era mentira, mas Zao Tian já estava movendo a conversa para o que importava.
Ele respirou fundo e falou com a mesma tranquilidade com que tinha esmagado o salão de Uhr’Gal.
“Eu preciso sair cedo.”
Rhazek’Zul franziu o cenho e acabou perguntando: “Para onde?”
Zao Tian respondeu: “Outra reunião.”
depois, ele olhou na direção do Vale, como se pudesse ver além, e disse: “Agora que o tratado entre humanos, orcs e krovackianos existe, eu tenho uma reunião mais complicada ainda.”
Rhazek’Zul ficou atento, sem perceber: “Com quem?”
Zao Tian soltou o ar como se a simples palavra tivesse peso administrativo e outro risco de guerra ao mesmo tempo: “Com os elfos.”
Rhazek’Zul apenas ficou em silêncio.
Ele sabia o suficiente para entender que, se orcs e krovackianos já tinham sido quase impossíveis, elfos seriam outra camada de problema.
Zao Tian deu um passo para trás, como quem encerra sem abandonar.
“Você vai ficar aqui.” Ele disse a Rhazek’Zul: “Observe. Se adapte. Treine, se quiser. E não faça nenhum movimento que force este lugar a te odiar mais do que já odeia.”
Rhazek’Zul assentiu, sério.
Zao Tian então olhou para Íxion, como alguém que entende o peso de estar trancado no mesmo teto que um mundo inteiro que o odeia.
“Se acontecer qualquer coisa fora do normal, você sabe como me contactar.” Ele falou.
Íxion não respondeu com palavras longas. Ele apenas acenou em concordância.
Zao Tian então virou o rosto uma última vez para o filho de Vargan’Zul.
“Você está em segurança aqui.” Ele repetiu, antes de pedir: “Não estrague isso.”
Rhazek’Zul respondeu com o que conseguiu: “Eu não vou.”
Zao Tian assentiu.
Depois, a realidade cedeu de novo, e ele desapareceu pela fenda com o mesmo tipo de precisão que vinha definindo tudo.
Rhazek’Zul ficou parado por alguns segundos, sozinho o bastante para ouvir o próprio coração.
Ele tinha cruzado mundos.
Tinha sido entregue como moeda.
Tinha entrado em território inimigo.
E, em vez de correntes, havia um teto comum.
Em vez de humilhação, havia regras.
Em vez de ódio encenado, havia um projeto que pretendia tornar um planeta inteiro inalcançável.
Ele olhou de novo, ao longe, para o domo do Vale da Esperança, encostou os dedos no diamante uma segunda vez, mais devagar, e, pela primeira vez desde que foi empurrado para a frente pelo próprio pai, ele entendeu o que Zao Tian estava fazendo de verdade.
Ele não queria apenas vencer guerras.
Ele queria impedir que elas acontecessem.
E essa forma de luta, para alguém como Rhazek’Zul, era mais difícil de odiar.
Era uma coisa nova.
Assustadora.
E, por isso mesmo, perigosa.
Porque, quando um inimigo te mostra um caminho que faz sentido…
Você precisa decidir se vai quebrá-lo por orgulho…
Ou se vai aprender a caminhar nele.
